O anúncio dos últimos dezesseis ministros do futuro governo, que ocorreu na última quinta-feira no auditório do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, foi marcado por improviso, negociações de última hora e até autoridades barradas na porta. A cerimônia atrasou quase duas horas. As informações são de Jeniffer Gularte, Eduardo Gonçalves e Alice Cravo , do O Globo.
O deputado Juscelino Filho (União-MA), futuro ministro das Comunicações, passou maus bocados para acessar o local. Os agentes da Polícia Federal que faziam a segurança não o identificaram e vetaram a entrada do parlamentar. Ele precisou fazer ligações à assessoria e pular o canteiro para atravessar a grade de isolamento e entrar no auditório onde seria nomeado minutos depois.
— Ministro , ministro — gritavam alguns assessores do Lula que vieram acudi-lo.
A indicação de Juscelino Filho foi sacramentada apenas ontem de manhã, durante reuniões entre Lula e o senador David Alcolumbre (União-AP) no hotel em que o presidente está hospedado na capital. Outra que entrou na lista de escolhidos na reta final, a deputada federal eleita Daniela do Waguinho (União-RJ) assumirá o Turismo, pasta que inicialmente seria entregue a Juscelino Filho.
Até instantes antes de deixar o hotel rumo ao CCBB, Lula ainda mantinha conversas em torno dos nomes que anunciaria. Ao chegar no auditório em que ocorreu a cerimônia, o petista resumiu o processo que ele capitaneou ao longo do último mês:
— Depois de muito trabalho, depois de muita tensão, depois de muita conversa, depois de muito ajustes, nós terminamos de montar o primeiro escalão do governo.
Marcado para 11h, o anúncio começou com 1h47 minutos de atraso. Pouco antes, Lula ainda estava a portas fechadas com aliados, negociando espaços. Pela manhã, ele recebeu o presidente do PDT, Carlos Lupi, que ficou com o Ministério da Previdência, e o do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), legenda cujas negociações foram as mais arrastadas. Quando Bivar chegou ao hotel para conversar com Lula, acompanhado do deputado e futuro ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha (PT), o senador Davi Alcolumbre (União-AP) já estava sendo recebido.
Alcolumbre manteve uma agenda intensa de conversas para tentar destravar a negociação, que garantiu ao partido três cadeiras na Esplanada. O senador se reuniu com o petista duas vezes antes do Natal e em outras duas nesta semana. Ao fim conseguiu emplacar um nome de sua confiança no futuro governo, o do governador do Amapá, Waldez Góes, próximo titular do Ministério da Integração Nacional. Góes deixará o PDT e vai se filiar no União Brasil.
Caberá a Alcolumbre e Góes trabalhar pela fidelidade ao futuro governo da heterogênea bancada do União Brasil. A sigla nasceu da fusão entre o DEM e o PSL, dois partidos identificados com as pautas da direita.
— Você vai ter duplo trabalho. Além de fazer seu trabalho como ministro, vai ter que ajudar a coordenar a bancada na Câmara e no Senado, portanto, se prepare — avisou Lula ao anunciar Waldez Góes.
Ruídos
A escolha já gerou ruídos na sigla. O nome de Waldez surgiu depois de o petista recuar da nomeação do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) ao posto. Ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Nascimento deixou clara a sua insatisfação ao ser rifado e não se comprometeu a apoiar o governo.
— O que for ruim para o Brasil e bom para o PT, a gente vota contra. A posição do partido é de independência. As indicações não são partidárias, são convites pessoais do presidente Lula. Não há indicação de executiva, de filiados. As votações, na Câmara e no Senado, vão mostrar a independência — disse
Reservadamente, petistas admitem que a fotografia final do futuro governo deixou fios desencapados, sobretudo entre aliados da Câmara, o que precisará ser corrigido em breve.