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quinta-feira 19 de janeiro de 2023 às 07:00h

Lula age para evitar ‘independência’ do União Brasil no Congresso e desidratação da base aliada

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a articuladores políticos do governo que acelerem as negociações para impedir a perda de votos no Congresso com o racha do União Brasil. Nos bastidores, ministros do PT admitem de acordo com a coluna de Vera Rosa, no O Estado de S. Paulo, que foi um erro ter depositado todas as fichas apenas em indicações feitas pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e por Luciano Bivar (PE), presidente do partido.

Na tentativa de contornar uma dissidência na base aliada antes mesmo do início do ano legislativo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu nesta terça-feira, 17, com o líder do União Brasil na Câmara, o deputado federal pela Bahia, Elmar Nascimento. Vetado pelo PT da Bahia para comandar o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, o deputado é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), expoente do Centrão, e tem forte influência sobre a bancada. Agora, o governo depende dele, em grande parte, para não perder apoio de deputados.

Com três ministérios no novo governo, o União Brasil vai anunciar independência em relação ao Palácio do Planalto, no fim deste mês, com a divulgação de um manifesto para dar um verniz programático ao partido e apresentar propostas, como a reforma tributária e a produção de energia limpa.

A bancada da Câmara se queixa de não ter sido consultada antes das nomeações para o primeiro escalão e afirma que em nenhum momento se comprometeu a aprovar propostas encaminhadas por Lula. O partido tem 59 deputados e dez senadores. É a terceira força política da Câmara, só perdendo para o PL e o PT.

“Nenhum filiado é proibido de participar do governo, mas a posição da bancada é de independência”, disse Elmar. Se não tivesse sido barrado pelo PT, o deputado – que foi relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição – comandaria hoje o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.

Uma operação de última hora liderada por Alcolumbre, porém, levou para a Integração o ex-governador do Amapá Waldez Góes, que é seu amigo. Filiado ao PDT, Góes entrou na cota do União como uma espécie de “barriga de aluguel”, com o compromisso de se afastar do antigo partido e ajudar a “pacificar” a sigla de Alcolumbre e Bivar.

Em 2019, o então governador foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a seis anos e nove meses de prisão, em regime semiaberto, acusado de desviar recursos de empréstimos consignados de servidores estaduais. A ação foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e está paralisada na Corte.

Para acalmar a “revolta” no União, que também não se sentiu contemplado com as indicações de Daniela do Waguinho (RJ) no Ministério do Turismo e de Juscelino Filho (MA) em Comunicações, o Planalto apresentou uma oferta a Elmar. Quer que ele mantenha o controle da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), conhecida como “estatal do Centrão”.

A autarquia foi uma das principais destinatárias dos recursos do orçamento secreto, como mostrou o Estadão, e acabou sendo alvo de investigações, após denúncias de superfaturamento na compra de tratores. Em conversas reservadas, no entanto, o grupo de Elmar afirma que, com o fim do orçamento secreto, a Codevasf ficou “esvaziada”.

No diagnóstico da cúpula do PT, uma ala do União Brasil está criando dificuldades e ameaçando “dar o troco” no plenário com o objetivo de mudar os ministros. Além de não querer ser vista como base aliada de Lula, essa corrente também ameaça formar um bloco com o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e isolar o PT, em fevereiro, na disputa por cargos na Mesa da Câmara e em comissões, como a de Constituição e Justiça.

A esse imbróglio se soma a disputa interna nas fileiras do União, que abriga o ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sérgio Moro, senador eleito e inimigo de Lula. Defensor da aliança com o PT, Bivar, por sua vez, tentou destituir Elmar da liderança da Câmara. Queria emplacar na cadeira o deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), mas não obteve sucesso na empreitada. Já Alcolumbre bateu o pé para encaixar Waldez Góes na Integração. No diagnóstico do Planalto, porém, Alcolumbre e Bivar não têm conseguido conter a rebelião no partido.

“O União era um aglomerado de várias tribos oriundas do DEM e do PSL, que se juntaram em 2021 para garantir a eleição”, resumiu o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE). “Agora, estamos num momento de afirmação. Não queremos ser mais um balcão de negócios, de toma lá, dá cá”, completou ele.

Forte disse que, mais adiante, é possível repensar o papel do partido na frente ampla de apoio a Lula. “Mas, hoje, a maioria do União acha que precisamos construir uma identidade. Esse Ministério foi escolhido de cima para baixo, de fora para dentro. Quiseram impor um ministro que nem filiado ao partido é. Isso tudo causou desconforto”, afirmou o deputado, numa referência a Waldez Góes.

Milícia

Na lista de reclamações do União também está a de que o PT quer ocupar a estrutura de todos os ministérios, como o do Turismo. Acusada de ligações com a milícia no Rio, Daniela do Waguinho fez poucas indicações até agora porque, na versão de seus aliados, os principais postos estão com a Embratur, comandada por Marcelo Freixo.

O caso envolvendo a ministra – que, ao entrar para o governo, adotou o nome Daniela Carneiro – só foi ofuscado em razão dos atos golpistas no último dia 8, em Brasília. Daniela e o marido – o prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como Waguinho – fizeram campanha para o então candidato do PT, no segundo turno, em um território bolsonarista.

Lula se sentia “devedor” do apoio dado pela dupla e, para atendê-la, mudou a escalação a poucas horas do anúncio de ministros, chamando Daniela, que foi a deputada mais votada no Rio. O presidente via também como vantagem o fato de ter mais uma mulher na equipe. Não imaginava, porém, que contaria com tanto problema logo no início do governo.

No plano original, Juscelino havia sido indicado para Turismo, o deputado Fernando Filho (União-PE) para Comunicações e Elmar cobiçava Integração. Com a entrada de Daniela, houve um rearranjo, que desagradou a muitos lados. O PT tentou até o fim emplacar Paulo Teixeira (SP) em Comunicações. Mas, na dança das cadeiras, ele foi “transferido” para o Ministério do Desenvolvimento Agrário.

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