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terça-feira 23 de fevereiro de 2021 às 05:44h

Luciano Huck flerta com siglas da esquerda à direita e ouve conselhos sobre candidatura

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A possível candidatura do apresentador Luciano Huck a presidente entrou em um momento decisivo sem consenso em seu entorno sobre prazos nem uma aproximação partidária definitiva.

Com as incertezas no cenário para 2022 e no campo de oposição ao presidente Jair Bolsonaro, o comunicador da TV Globo tem ouvido conselhos conflitantes em relação ao timing para uma atitude sobre sua saída da emissora e sua filiação a uma legenda.

Uma parte do círculo de políticos, amigos e assessores que acompanha Huck defende conforme a Folha de S. Paulo, que ele mantenha até o segundo semestre as conversas iniciadas nos últimos três anos e espere o quadro eleitoral ficar mais claro antes de se resolver.

A justificativa é a de que é preciso aguardar os efeitos que a pandemia da Covid-19 e a crise econômica terão sobre a popularidade do governo. Além disso, observar os movimentos de potenciais adversários daria a ele nitidez maior sobre as condições da disputa.

O ex-ministro Sergio Moro (sem filiação partidária, assim como Huck) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), são vistos como pré-candidatos que concorreriam com o comunicador e empresário em faixa semelhante, a do eleitorado mais ao centro e moderado.

Outro raciocínio que chegou a Huck prega tese distinta: a de que, se ele quer mesmo se colocar como uma opção viável, deve se apresentar tão logo seja possível.

Entre os fatores que pesam em favor da ideia de botar logo o bloco na rua estão a urgência de organizar um partido ou coligação em torno de seu projeto, algo que inexiste hoje, e a necessidade de fazer a transição da imagem de artista para a de político.

Um dos exemplos usados para endossar esse ponto de vista é o passo dado neste mês pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que orientou o lançamento da pré-candidatura de Fernando Haddad, para que o partido não perdesse visibilidade nas discussões sobre 2022.

Em suma, a divergência ao redor de Huck se dá entre, de um lado, a visão cautelosa e otimista de que ele tende a se firmar como nome competitivo e ser “empurrado” pelas circunstâncias; e de outro a constatação pragmática da ausência de partido e de uma marca eleitoral forte.

O prazo de filiação para quem quiser disputar as eleições termina em abril de 2022.

Enquanto o grupo de entusiastas analisa o timing, o comunicador adota distância regulamentar do debate sobre sua possível candidatura, suas conexões políticas e a organização da oposição. A atuação dele tem se limitado a conversas de bastidores e, em público, a manifestações pontuais em redes sociais e na imprensa sobre temas como a gestão da crise de saúde e a interferência de Bolsonaro na Petrobras.

O comportamento impôs também um compasso de espera aos partidos com os quais o apresentador estreitou laços nos últimos tempos e que podem abrigar sua eventual campanha ou apoiá-lo.

O titular do programa “Caldeirão do Huck” tem proximidade, em diferentes níveis, com representantes de ao menos seis siglas: Cidadania, PSDB, DEM, PSB, PSD e Podemos.

Todas elas figuram em especulações no universo político como supostos destinos do comunicador, caso ele entre mesmo na vida pública. Oficialmente, nada é confirmado.

O Cidadania, que até pouco tempo atrás era tido como o mais forte nessa briga, perdeu espaço progressivamente para o DEM, que havia conquistado terreno a partir da relação amistosa entre Huck e Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados.

O flerte teve uma reviravolta com a crise aberta no partido a partir da eleição para a presidência da Casa e os acenos que o ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, fez ao Planalto.

Os diálogos com legendas mais à direita, como DEM e Podemos, e mais à esquerda, caso do PSB, lançaram questionamentos sobre a amplitude ideológica dos interlocutores do apresentador.

Aliados, no entanto, respondem que ele busca falar com líderes de diferentes posições para compreender o chão em que está pisando e orientar sua tomada de decisão, quando chegar a hora. Em seus perfis nas redes sociais, Huck usa uma única palavra para se descrever: curioso.

A lista de encontros informais já incluiu também papos com integrantes de partidos nos quais ele dificilmente entraria, como o PT, o PSOL e o PC do B. Até com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) o apresentador entabulou um contato breve, ainda no início do governo do pai do deputado federal.

A estrutura partidária da virtual candidatura poderia vir ainda da fusão de siglas afins, outra janela que se abriu nas últimas semanas.

Uma das poucas certezas nas falas de conselheiros de Huck é a de que uma campanha teria como meta prioritária colar nele o selo de político de centro, em esforço para fugir de armadilhas ideológicas.

Embora seja considerado obstáculo, o congestionamento do chamado centro democrático —com as pré-candidaturas de Moro, Doria, Eduardo Leite (PSDB-RS) e Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), para ficar nas mais lembradas— não é tratado como impeditivo, a priori.

Sempre com a ressalva de que pesquisas de opinião do eleitorado serão a baliza, pessoas que cercam o apresentador dizem ser possível que ele se disponha a enfrentar o ex-juiz da Lava Jato ou um representante tucano no primeiro turno, com a possibilidade de união no segundo.

Como a Folha revelou, Huck e Moro tiveram um encontro em outubro e discutiram a formação de uma aliança eleitoral. Doria também procurou o ex-magistrado e tentou atrai-lo.

É ponto pacífico entre os “huckistas” a premissa de que sua hipotética campanha seria de oposição a Bolsonaro e deveria agregar forças contrárias ao atual presidente. Os cálculos, no entanto, indicam uma exclusão dos setores mais à esquerda, notadamente o PT.

Os ataques disparados por Lula e pelo ex-ministro e presidenciável Ciro Gomes (PDT) tornariam mais distante o entendimento com esses dois atores da eleição do ano que vem.

O núcleo com o qual o apresentador debate seu futuro reúne o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (ex-MDB, PSB e PSDB), os cientistas políticos Ilona Szabó e Leandro Machado (do Agora!, um dos movimentos apoiados por Huck) e o empresário Eduardo Mufarej (da escola de formação de candidatos RenovaBR).

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, é interlocutor frequente desde 2017 e o maior interessado em levá-lo para a legenda. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que constantemente inclui o novato no rol de “outsiders” viáveis, também é consultado.

Na seara econômica, o guru é o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga —que é colunista da Folha, assim como Ilona.

Uma equação que desemboque em um resultado diferente do de 2018 —quando Huck considerou seriamente ser presidenciável, mas acabou desistindo— envolve aspectos profissionais, financeiros e familiares, para além das variáveis políticas. Antes de mais nada, é preciso que ele queira se candidatar.

Largar a Globo, onde desfruta hoje de uma posição segura em audiência e faturamento, e se jogar na imprevisibilidade das urnas são passos que representariam uma mudança radical de vida. Seu rompimento com a emissora significaria também a saída da mulher, a apresentadora Angélica.

Em entrevista à Folha em janeiro, Mufarej disse que um dos aspectos ponderados por Huck é a exposição a que ele e sua família seriam submetidos. “Para qualquer pessoa, se candidatar é difícil pra burro. […] Se ele resolver ir, vai estar longe de ser uma decisão fácil”, afirmou o amigo.

A possibilidade que surgiu na TV com o anúncio da saída do apresentador Fausto Silva da grade dominical da Globo, no fim deste ano, também é mencionada na órbita de Huck como um assunto pendente, já que ele no passado vislumbrou ocupar o horário.

A Globo informou, via assessoria, que não detalha contratos nem comenta prazos ou negociações de renovação. Disse que “a relação entre a Globo e seus talentos é privada” e não respondeu sobre a eventual candidatura de Huck. Procurado, o apresentador não se manifestou.

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