A mineração baiana registrou um crescimento de 7% no ano de 2022. Embora o resultado não tenha sido na casa dos dois dígitos, como em períodos anteriores, foi bem melhor que a retratação de 26% registrada na média nacional da atividade. Para o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antônio Carlos Tramm, o resultado conforme reportagem do jornal Correio, demonstra a pujança da atividade no estado. Mas o executivo da empresa pública estadual, faz um alerta: para aproveitar todo o potencial de desenvolvimento da mineração, é preciso investir na logística de transporte.
O presidente da CBPM destacou a importância da atividade mineral na vida moderna. “Areia é minério, água é minério. A mineração está presente na vida das pessoas e é fundamental para uma série de coisas”, destacou. “O seu óculos, o celular, tudo tem minério. O prédio em que você mora foi construído com minerais, é o ferro quem sustenta a estrutura em pé”, exemplificou.
“A Bahia é o estado brasileiro mais bem estudado do país. Além disso, temos a atividade mineral em mais da metade dos 417 municípios baianos”, lembrou, durante a participação no programa Política & Economia, apresentado pelo jornalista Donaldson Gomes. Ele lembrou a importância da Bahia na produção de talco, vanádio, cobre, níquel, ouro e pedras preciosas. “A diversidade permite que a Bahia tenha uma posição de destaque”.
Ele explicou disse a CBPM fez 14 licitações de novas áreas para mineração, o que indica a perspectiva de que a atividade siga em franca expansão na Bahia. “Cada empresa que ganha uma licitação como esta agora representa uma nova operação mineral em potencial daqui a cinco, seis ou sete anos. Isso indica que nossa posição vai se consolidando cada vez mais”, acredita.
“Nós conseguimos crescer, enquanto o Brasil teve uma retração. Por que isso? Minas e o Pará têm uma dependência em relação ao minério de ferro, que teve queda. O ferro vai ter um papel muito importante para o nosso desenvolvimento, mas hoje nós temos uma diversidade enorme de produtos que não nos deixa dependente de um único”, explica.
O presidente da CBPM explicou que projetos de infraestrutura como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que ligará o centro do Brasil ao litoral baiano, no Porto Sul, em Ilhéus, são viabilizados graças ao minério de ferro. “A Fiol e o Porto Sul são viáveis por conta da mineração, são produtos da mineração, mas trarão benefícios que vão além da mineração. Será fundamental para o agro”, analisa. “A mineração gera empregos, progresso e sustentabilidade”.
Tramm contou que a empresa está concluindo uma grande pesquisa para a implantação de uma nova província mineral no estado – ou seja uma área geográfica em que se encontra uma produção de diversos produtos. “Essa província tem uma característica magnífica, que é o fato de estar numa área de sertão que precisa muito de desenvolvimento. Engloba Sento Sé, Pilão Arcado, Campo Alegre de Lourdes”, conta. A área tem uma extensão entre 60 e 100 quilômetros, diz.
“Temos a possibilidade de desenvolver uma região enorme e para chegar a isso precisamos apenas da infraestrutura para o escoamento dessa produção. Não tem desenvolvimento sem logística e a Bahia padece de um grave problema nesta área”, avalia. Tramm lembra que a Fiol já tem mais de 80% do seu traçado pronto há mais de seis anos. “Poderíamos estar hoje numa posição competitiva muito melhor. Infelizmente esse processo demorou”.
O presidente da CBPM criticou as condições da Ferrovia Centro Atlântica (FCA) na Bahia. “Hoje a FCA não promove desenvolvimento aqui, na Bahia ela promove o atraso porque não tem trem. Não há como transportar grandes quantidades sem o modal ferroviário”, aponta.
Segundo Tramm a importância da logística para a mineração é o que motiva a empresa pública a adotar iniciativas em prol do modal de transporte. “Nós conseguimos, com o apoio do governo, contratar um estudo sobre o desenvolvimento do sistema ferroviário na Bahia”, afirma. O trabalho está sendo executado pela Fundação Dom Cabral, explica. “Este estudo mostra que nós temos carga para ferrovias. É algo que nós já sabíamos, o que não temos é trem”, lamenta.
“A gente está falando de logística porque a pesquisa é a mineração do amanhã. Esta província que nós estamos lançando, envolvendo diversos municípios e com um potencial grande para níquel, cobre, cobalto, ouro, terras raras, prata e muitas outras coisas, só irá deixar de ser um potencial para ser viabilizada se nós tivermos logística”, avisa. “Nós temos um projeto, quase do tamanho do da Bamin, em Sento Sé, que o minério está sendo escoado por mais de 600 quilômetros através de caminhões pelo Porto de Sergipe. A Bahia não vê o faturamento disso”, lamenta.
Ele diz que a Bahia sofre há muitos anos com um “isolamento logístico”.
“Temos uma costa imensa, 11 portos e terminais portuários, mas onde está o trem para ligar isso?”, questiona.