Um ex-presidente da NRA (Associação Nacional do Rifle) foi convidado conforme a Folha de S. Paulo, para fazer um discurso de formatura para alunos do ensino médio. Antes do evento em si, ele foi chamado para ir até o local da cerimônia e ensaiar seu discurso, em frente a cerca de 3.000 cadeiras vazias.
“Há alguns que vão continuar a lutar contra a Segunda Emenda [trecho da Constituição americana que garante o direito às armas nos EUA], mas eu gostaria de apostar que muitos de vocês estarão entre aqueles que se levantam e impedem isso de acontecer”, disse Keene a sua plateia ausente.
Era uma pegadinha. A graduação falsa foi montada no começo de junho em um campo de Las Vegas e usou o nome de uma escola que não existe. O evento foi organizado pelos pais de um estudante que morreu em um ataque a tiros de uma escola na Flórida, em 2018.
Os 3.044 assentos vazios simbolizavam o total de jovens que se formariam no ensino médio neste ano nos EUA, mas foram mortos em ataques a tiros em escolas nos últimos anos.
Os autores do plano, Patricia e Manuel Oliver, perderam seu filho, Joaquim, em um ataque a uma escola de ensino médio em Parkland, na Flórida, em 2018. Na ocasião, um ex-aluno de 19 anos, portando um fuzil AR-15, matou 17 pessoas. O casal então criou uma ONG para tentar reduzir o acesso às armas e evitar novas tragédias.
A NRA, principal lobby das armas nos EUA, enfrenta um processo de recuperação judicial e investigações de corrupção.
John Lott, autor do livro “More Guns, Less Crime” (mais armas, menos crime), também foi convidado para a falsa cerimônia de graduação e teve o ensaio de seu discurso gravado. As falas dele e do ex-presidente da NRA foram incluídas em um vídeo, disponível abaixo, em inglês.
Lott disse ao Washington Post, no entanto, que sua fala foi distorcida pela edição e que ele foi incitado pelos organizadores a usar um tom mais incisivo, pois a mensagem seria direcionada a alunos conservadores. Lott afirmou também que dedicou anos de sua vida a tentar prevenir massacres em escolas.
Manuel Oliver disse à CNN americana que não houve edição do vídeo. “Eles [que foram enganados] podem estar doidos, podem se sentir idiotas. Isso é sobre os 3.044 estudantes perdidos por causa da violência armada, e esses caras são parte do problema”, disse.
Os EUA vivem alta nos crimes com armas de fogo. Em 2020, a taxa de homicídios em cidades grandes cresceu cerca de 30% na comparação com o ano anterior. Neste ano, 20.989 americanos já morreram por ferimentos de armas de fogo, mais da metade por suicídio, segundo dados do Gun Violence Archive.
O presidente Joe Biden determinou, nesta semana, o reforço no controle sobre a checagem de antecedentes na venda de armas, para impedir que elas cheguem a pessoas que planejem usá-las para cometer crimes.