A farra dos guardanapos” selou o fim da ascensão política do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB), e a lista de presença no evento virou praticamente um roteiro para as investigações do Ministério Público Federal.
A ficha criminal e política do encontro já foi repassada há algum tempo. O lançamento do livro “A Farra dos Guardanapos: O Último Baile da Era Cabral” (editora Máquina de Livros), do jornalista Sílvio Barsetti, preenche a lacuna tragicômica do episódio.
O R$ 1,5 milhão gastos na festa, as 300 garrafas de vinhos e espumantes consumidos e os inúmeros episódios constrangedores da festa em Paris são as informações que faltavam para entender por completo aquela noite.
Como se sabe, no auge de sua popularidade, em setembro de 2009, Cabral recebeu a condecoração máxima do governo francês, a comenda Légion D`Honneur. Para comemorar, reuniu secretários e empresários num salão do Hotel de La Païva na avenida Champs-Élysées.
Três anos depois, seu rival político Anthony Garotinho (PRP), ex-governador do Rio, divulgou fotos do encontro. Além de homens de meia idade dançantes, as imagens mostravam os ex-secretários estaduais Sérgio Côrtes e Wilson Carlos, os empresários Fernando Cavendish e Georges Sadala e o arquiteto Sérgio Dias (à época secretário municipal de Urbanismo) com guardanapos na cabeça. À exceção do último, todos foram presos na Operação Lava Jato.
O jornal Folha de SP publicou em outubro de 2017 detalhes da festa. Barsetti, contudo, a publicação coloca o leitor “dentro” do salão sem o risco de virar alvo da Lava Jato.
É possível “assistir” à briga entre Cabral e a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo após uma cantora tentar se aproximar do ex-governador. “Ouvir” o discurso bilíngue e empolado do deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ) apresentando a festa. “Sentir” o desespero do ex-secretário Júlio Bueno (Desenvolvimento Econômico) descendo a escada e dizendo a um empresário: “Claro que vai dar merda”¦”.
Barsetti revela, inclusive, que a cena dos guardanapos por pouco não ocorreu. Naquele fim de festa, Cabral já demonstrava seu esgotamento e pensava em voltar para o Hotel Le Bristol, um dos cinco estrelas mais luxuosos de Paris.
Nas palavras do autor, o quinteto, “impulsionado pelo ímpeto de reescrever a história política do Rio”, atravessou o salão tentando reanimar os já abatidos. A performance, pela descrição, não teve sucesso.
A obra tem o mérito de não se estender sobre os inúmeros esquemas de Cabral com os envolvidos. Nem sequer tem a pretensão de resumir as acusações que recaem sobre o ex-governador, sob pena de ficar desatualizada poucos meses após o lançamento.
É possível que o leitor considere excessivos os capítulos iniciais, com a contextualização do sucesso do emedebista no poder. Há ali, porém, pinceladas importantes –e tão cômicas quanto a festa– para entender o espírito da gestão Cabral.
Entre elas estão os encontros com Lula e as festas no camarote da Sapucaí.
Também está ali o encontro fortuito durante viagem oficial em Madri de Cabral com a equipe que produzia seus vídeos institucionais. O político convida o grupo a um restaurante, “coisa rápida”, onde garrafas de Dom Perignon acabam por serem servidas numa quantidade como se água fossem. A conta, segundo Barsetti, beirou os € 10 mil, bancada por Cabral.
É esse contexto que mostra como a “farra dos guardanapos”, tão bem descrita, foi a principal –e não a última– de uma gestão que promoveu inúmeras festas das quais muitos, em diferentes níveis, se beneficiaram.
CRÍTICA
A Farra dos Guardanapos: o Último Baile da Era Cabral
Avaliação: muito bom
Sílvio Barsetti.
Editora Máquina de Livros , R$ 39,90 (196 págs.).