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Mulher de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, Luciane Barbosa Farias diz ter se encontrado com conselheiro do CNJ Foto: Instagram / reprodução
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terça-feira 14 de novembro de 2023 às 06:15h

Livre, leve e solta, ‘dama do tráfico’ expõe audácia do crime e desleixo na capital da República

JUSTIÇA, NOTÍCIAS


É inadmissível, e imperdoável, um descuido desse tamanho e dessa gravidade: o Ministério da Justiça, logo o Ministério da Justiça, responsável pela Segurança Pública, abriu as portas e os gabinetes, com direito a fotos, a uma mulher conhecida como “dama do tráfico”, condenada a dez anos de prisão por diferentes crimes e casada com um sujeito apelidado de Tio Patinhas, que é líder do Comando Vermelho no Amazonas e cumpre pena de 30 anos, inclusive por homicídios (no plural).

O secretário de Assuntos Legislativos do ministério, Elias Vaz, assumiu a responsabilidade, mas isso é pouco, muito pouco, para quem não apenas recebeu a “dama do tráfico”, Luciane Barbosa, como a encaminhou a outros três integrantes da cúpula da Pasta comandada pelo ministro Flávio Dino. O mínimo que Vaz deveria fazer, até para reduzir a pressão sobre Dino, era pedir demissão, se é que não o fez até o fechamento dessa edição.

O escândalo, revelado pelos repórteres do Estadão André Shalders e Tácio Lorran, sem adjetivos, só com fatos, revela falta de controle e uma certa indigência grave e pouco usual. Quem já visitou ministérios, Congresso, Judiciário, sabe que é exigido crachá, documento de identidade e muitas vezes foto, antes de passar por equipamentos de segurança. Não é chegar e já ir entrando.

A “explicação” do ministério não é só simplória, é vexaminosa: seria “impossível” a inteligência identificar quem era a “visitante” e o risco que todos estavam correndo. Como impossível? A inteligência existe para o que? E há complicadores: ela foi a primeira vez, voltou depois, circulou livremente e encontrou-se com quatro secretários ou diretores, sem sequer estar na agenda de qualquer um deles.

Para piorar, a “dama do tráfico” também fez um “tour” pelo Congresso e tirou fotos com parlamentares governistas e na porta de gabinetes da oposição, além de ir às sedes da ONU em Brasília e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de um segundo ministério, o de Direitos Humanos. O que deixa no ar uma pergunta sem resposta: o que ela realmente queria e o que conseguiu? O pretexto para adentrar os palácios foi a “questão prisional”, e a verdade?

Além de expor a vulnerabilidade dos poderes da República – que, aliás, acabam de ser vandalizados, em 8 de janeiro — esse erro tem alto custo político para Flávio Dino, o governo e o próprio presidente Lula, porque, evidentemente, os bolsonaristas vêm se esforçando para forçar a barra numa hipotética ligação de Lula e o PT com facções criminosas.

Trata-se de uma cortina de fumaça para disfarçar o fato de que todo mundo sabe, mesmo quem finge não saber, das ligações perigosas entre a família Bolsonaro e milicianos no Rio de Janeiro, inclusive com a entrega da principal medalha da Alerj para um criminoso que estava preso sob acusação de assassinato e que, depois, foi morto em confronto com a polícia.

De qualquer forma, a inteligência e a administração do Ministério da Justiça e dos outros ilustres endereços da República mostraram-se despreparados e negligentes, enquanto a “dama do tráfico” confirma a desenvoltura, a audácia e a dimensão do crime organizado no Brasil, além da incúria do próprio sistema judiciário do Brasil. Como uma criminosa condenada a dez anos de prisão pode estar livre, leve, solta e aprontando dessas e outras na capital do País?

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