A superlive realizada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao lado de seus filhos na noite deste domingo atingiu, até 12h50 desta segunda-feira, mais de 3,6 milhões de pessoas. O pico de audiência simultânea ocorreu às 20h20, quando 470,9 mil espectadores assistiam o conteúdo em três plataformas diferentes: os canais do ex-mandatário, de Eduardo e Flávio Bolsonaro.
A título de comparação, o número de audiência simultânea é 81 vezes maior que a média que o presidente Lula da Silva (PT) tem conseguido imprimir em suas transmissões semanais. Ao longo do ano passado, o petista participou de 22 edições do “Conversa com o Presidente”, consolidando uma média de 5,8 mil espectadores síncronos.
Em números absolutos, o último programa, gravado em 19 de dezembro, soma hoje 47 mil visualizações nos perfis de Lula e do Canal Gov. Por este motivo, como antecipou o repórter João Paulo Saconi, da coluna de Lauro Jardim, as lives estão sob ameaça de continuidade.
Logo no início da transmissão deste domingo, Bolsonaro aproveitou para ironizar seu adversário político e enaltecer seu maior impacto digital:
— Companheiro, tem que falar a verdade. Mentir não vai te fazer chegar a lugar nenhum e outra falar do o seu governo e não ficar criticando o Jair bolsonaro. Parece até quando o Lula vai dormir , ele que é recém-casado, em vez de falar “eu te amo”, ele fala “Bolsonaro”. Ai a live “brocha”, vai lá para baixo.
Pesquisadora em comunicação política do grupo “Comunicação, Internet e Política” da PUC-Rio, Leticia Capone afirma que a diferença de audiência entre os políticos pode ser explicado pelo formato do conteúdo de cada um.
Enquanto Bolsonaro faz uma transmissão participativa com os seus apoiadores e em ambiente mais caseiro, o que tende a gerar um sentimento de aproximação para o público, o petista tem um programa pré-roteirizado, com tom mais institucional e gravado em estúdio de televisão em formato de entrevista. A pesquisadora também chama atenção para o modo de atuação da direita nas plataformas:
— A direita mantêm uma audiência nas redes sociais bastante fidelizada. No caso das lives realizadas pelo ex-presidente, elas eram veiculadas sistematicamente no mesmo dia da semana, mesmo horário, quase sempre fazendo uso de pautas quentes ou polêmicas. Esses aspectos facilitam a retomada do público em eventos pontuais, como foi o caso da Super Live. Além disso, houve uma forte mobilização da base bolsonarista, com divulgação massiva realizada por agentes políticos e públicos — diz.
Capone também ressalta que, apesar dos números de Lula serem menores, recortes das lives viralizam nas redes sociais e atingem outros espectadores além dos que procuraram o conteúdo pelos meios oficiais. O mesmo se aplica às métricas de Bolsonaro:
— Há os desdobramentos e o impacto na agenda pública a partir de cortes dos melhores momentos que são aprofundados nos dias posteriores. Isso ocorria nas lives de Lula e pode acontecer com a Super Live de Jair Bolsonaro, realizada ontem. Certamente a operação da Polícia Federal envolvendo Carlos Bolsonaro ofuscou o potencial de subprodutos que poderiam ser gerados — avalia.