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Arthur Lira — Foto: Adriano Machado/Reuters
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terça-feira 6 de junho de 2023 às 11:47h

Lira investe sobre Saúde para manter poder na Câmara

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Contra a vontade de alguns ministros, o encontro do presidente da República com o presidente da Câmara não teve testemunhas. O relato mais extenso do encontro, portanto, ficou por conta do deputado federal Arthur Lira (PP-AL) em entrevista à GloboNews. De tudo o que falou, o mais importante foi aquilo que disse não ter sido discutido, a composição ministerial.

Não parece ter faltado com a verdade, diz Maria Cristina Fernandes, do jornal Valor. A barganha, a despeito de a conversa sido provocada pelo estresse causado pela Câmara ao esticar a corda na MP da recomposição do governo, o apequenaria. O problema foi o que disse depois.

Indagado se foi discutida a mudança na articulação política, Lira disse que determinados ministérios são da cota pessoal do presidente da República. Não apenas de Luiz Inácio Lula da Silva, mas de todos eles. Estas pastas seriam Casa Civil, Fazenda, Planejamento, Defesa e Relações Institucionais.

A zona de conforto do discurso do presidente da Câmara está nas entrelinhas. Nelas está escrito que, a despeito do foguetório, ele não alveja Rui Costa nem Alexandre Padilha. Mas a entrelinha mais importante é que Lira não vê como “cota pessoal do presidente” pastas como a Saúde.

Depois que Lira perdeu uma fatia do orçamento secreto, restou-lhe disputar uma pasta robusta. O cofre de R$ 4 milhões em que, supostamente, estariam os recursos da lavagem de dinheiro do kit robótica identificada pela operação da PF/CGU é um troco ante o orçamento de R$ 149 bilhões da Saúde.

A pasta que hoje está sob o comando da inatacável Nísia Trindade sempre foi um tradicional feudo do PP. O ex-líder do partido na Câmara, o ex-deputado Ricardo Barros, foi ministro da Saúde no governo Michel Temer. Com o aval da cúpula do seu partido, avalizou contratos milionários para empresas que ganharam notoriedade na CPI da Covid, como a Precisa Medicamentos e a VTCLog. Os senadores levantaram fartos indícios de propina que deram origem a muitas manchetes. Nenhum de seus operadores no Congresso, porém, foi encurralado apesar de todo mundo saber quem são.

A conversa de Lula com Lira foi precedida se aproximações do governo com o líder do União na Câmara, o deputado Elmar Nascimento (BA), recebido por Lula na semana passada, e o presidente do Republicanos, o deputado Marcos Pereira (SP). Ambos ambicionam a sucessão de Lira.

Se já vinham se fortalecendo com a perspectiva de poder oferecida pela contagem regressiva do mandato de Lira, ganharam ainda mais fôlego com a operação policial que atingiu os aliados do presidente da Câmara. Uma liderança que fracassa em blindar os seus vê seu valor de face oscilar para baixo no mercado da política.

O PP avalia que Nascimento se contentaria com o Turismo, hoje em mãos da deputada Daniela do Vaguinho (RJ), que é do seu partido, mas não do seu grupo político. Para atrair um partido como o Republicanos, porém, Lira propõe dobradinha na Saúde, proposta que já havia sido feita, sem sucesso, ao presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).

Além de ser um balcão histórico do PP, a Saúde é o destino obrigatório de 50% das emendas individuais, que é um recurso precioso nas mãos de qualquer liderança que almeje poder no Congresso.

Há, portanto, de se tirar o chapéu para um presidente da Câmara que está às voltas com uma operação policial que se acerca de si e parte para uma investida deste porte. Na definição de um ministro, trata-se de uma investigação consistente e bem documentada e que oferece “milhões de motivos” para Lira se preocupar.

A entrevista, porém, sugere que Lira faz jus à fama de que prefere ser alvejado na rinha do que se esgueirar da disputa. Pela ausência de deputados no encontro com Lula à noite, a pretexto de jantar do grupo Esfera em São Paulo, parece ter companhia. Só não se sabe até quando. No encontro com senadores, à noite, Lula lhes contou que Lira se queixou da operação policial e pediu que o presidente falasse com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), a quem atribuiu o cerco. O presidente teria dito que o tema havia surgido no Senado, em 2022 e havia suscitado até a tentativa de uma CPI – “Se você não tem nada a ver com isso vá em frente e demonstre, Arthur”.

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