AIvo de uma reprimenda pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, reconheceu que foi um dos destinatários do pito do chefe, que reclamou de ministros alardeando “genialidades” sem combinação prévia no governo. Na ocasião, França havia divulgado, sem acertar os detalhes internamente, o lançamento de um programa de passagens aéreas a R$ 200 que, apesar das críticas, ele diz que deve sair do papel.
Sobre o momento de incertezas do governo no Congresso, onde há dificuldades para construir uma base robusta e há uma série de medidas provisórias travadas, França diz em entrevista ao jornal O Globo, confiar que o presidente da Câmara. Arthur Lira (PP-AL), ajudará o Palácio do Planalto.
Quando o presidente falou sobre as “genialidades” dos ministros apresentadas sem passar pela Casa Civil, o senhor sentiu que era alvo do recado?
Podia não ser para mim, mas encaixaria perfeitamente. Foi como aconteceu. Na reunião com os ministros, cada um tinha que falar o que fez e o que pretende fazer. Deixei por último esse assunto (Voa, Brasil), porque não tratava de investimentos públicos. Era uma sugestão das companhias aéreas para desmistificarem os conceitos de que elas só têm preços caros
Mas qual foi a reação quando o senhor falou na reunião?
Alguém disse que isso não era possível. Ao final, o Lula falou: ‘Vamos ver na Casa Civil”. No dia seguinte, eu tinha uma entrevista e o repórter veio coma informação da reunião. Perguntou e publicou.
O programa foi criticado por integrantes do governo.
Eu fui falar com o Rui Costa (ministro da Casa Civil) pessoalmente. Ficou uma dúvida sobre o subsídio, que era a grande preocupação dele. Não é verba pública, somos apenas os indutores. Ele falou que compreendeu. Não teve bronca, foi cada um cumprindo a sua função. A mensagem do presidente é para todo mundo. O Rui está fazendo o papel dele, e eu estou fazendo o meu
O governo está com dificuldade para formar a base aliada. Como resolver?
O governo tem base, mas não é mais aquele antigo formato de base, numérico. Os partidos não têm mais aquela configuração. O (Arthur) Lira teve o nosso apoio, tem uma ascensão importante. Não vejo dificuldade. Ele é cumpridor de palavra. Esse é um mérito muito importante. Acho que ele vai nos ajudar bastante. Também não sinto muita resistência no Senado. O Lula é tão jeitoso na política que é difícil imagina-lo sem vencer um episódio no Congresso.
Articulação politica então vai funcionar?
Vai. Com o Congresso anterior, a gente tez uma aprovação extemporânea, entrando no outro governo. Aquilo sim foi um ato difícil.(França faz referência à PEC da Transição, a provada no fim da gestão de Jair Bolsonaro),
A eventual escolha do Cristiano Zanin, advogado do Lula, ao STF não pode atrapalhar essa articulação?
O Zanin seria a obviedade das obviedades. Uma pessoa que foi leal, fiel e competente. Até os concorrentes do Zanin concordam. Ele foi quem mais se credenciou.
O senhor foi um dos articuladores da entrada do Alckmin na chapa do Lula. Como vê o papel dele?
Anterior a isso, eu acho que ele foi fundamental no processo eleitoral. Qualquer detalhe poderia não ter dado a vitória. Como o Alckmin foi também escolhido para ser ministro, ele tem uma interlocução com setores em que muitos não optaram pela gente na eleição. O Alckmin acaba sendo uma ponte para a volta dessas pessoas que querem retomar o relacionamento com o governo.
E como está a relação do governo com o seu partido, o PSB?
Com a presença de Alckmin, é a primeira vez que o partido tem a posição de vice no governo federal. Quando a pessoa quer se aproximar do governo e não consegue fazer um movimento até chegar ao PT, o caminho natural é o PSB. Haverá muitas mudanças para o nosso partido. Só não temos hoje uns 20 ou 30 deputados a mais porque não tem janela partidária.
Como vê os ataques de integrantes do governo e do PT ao Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central?
A medida que a pessoa se dispõe a estar num mandato que é independente, tem que saber que também está sujeito a críticas. Do nosso ponto de vista, os acertos econômicos são tão densos que fica um pouco difícil defender uma posição tão radical de manutenção do juro alto. Cada vez que você reduz 1% do juro, você coloca R$ 60 bilhões a mais em possibilidades de gasto para o governo. Isso significa mais obra, mais emprego. E se eles (integrantes do Copom) estiverem errados? Porque quando a gente erra, não se elege. Quando eles erram, qual é a punição?