Arthur Lira (PP-AL) disse em entrevista ao jornal Valor que, pelas pesquisas de que seu grupo dispõe, Jair Bolsonaro (PL) ultrapassará o ex-presidente Lula “no final de maio ou junho”.
Quatro pesquisadores ouvidos pela coluna de Thaís Oyama, do UOL, discordam da profecia do presidente da Câmara.
O motivo apontado por eles é, basicamente, o mesmo: a alta rejeição de Bolsonaro (55%, segundo o último Datafolha), que não tende a diminuir no curto prazo e funciona como uma rolha a impedir o crescimento do ex-capitão.
Para Marcia Cavallari, CEO do Ipec, além da taxa de rejeição, também a avaliação do governo trava a subida do presidente nas pesquisas. “A avaliação está melhorando, mas não o suficiente para virar a intenção de voto nesse prazo”, afirmou.
Felipe Nunes, diretor da Quaest, afirma que, para Bolsonaro ultrapassar Lula até o final do mês, “teria de ganhar de uma só vez 8 pontos percentuais de eleitores de Lula”.
Segundo o pesquisador, para isso acontecer, o petista “teria de perder toda a vantagem que tem hoje entre as mulheres, entre os jovens e na região Nordeste” — o que, para ele, é algo improvável, “ao menos no curto prazo”.
Para Renato Meirelles, presidente do instituto Locomotiva, a melhora de Bolsonaro neste momento é resultado, sobretudo, da saída de Sergio Moro do páreo e da migração de votos indecisos ou nulos para o ex-capitão. “É como se o eleitor estivesse antecipando o segundo turno”, diz.
O pesquisador afirma, porém, que “esta é uma eleição em que o que conta é a rejeição e a de Bolsonaro não está caindo num ritmo que permita uma virada a curto prazo”.
Maurício Moura, CEO do Ideia, segue o mesmo raciocínio: “A rejeição ao governo é maior que a rejeição ao PT” e uma virada, neste momento, é “muito difícil”, afirma.
Tanto Nunes quanto Meirelles, porém, fazem uma ressalva: Lula vem errando em seus discursos e isso pode afetar sua posição nas pesquisas em breve.
“É possível especular, sim, que Lula pode ver seus votos diminuindo por conta das recentes declarações polêmicas sobre aborto, classe média e policiais, afirma Nunes.
Lula, diz Meirelles, “parece ter mudado a estratégia de disputar o eleitorado do centro. Quando ele radicaliza, constrange esse eleitor”.
Em suma, uma mudança drástica nas pesquisas ainda neste mês ou no próximo não passa de um sonho de Lira ou estratégia do presidente da Câmara para estimular um “clima de virada”.
Mas é fato que, em certezas, ninguém aposta mais.