Eleito para o cargo com o apoio de Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), trabalha para se reeleger nesta próxima quarta-feira (1º) com o maior número de votos em uma eleição para a presidência da Casa desde a redemocratização. A marca, segundo pessoas próximas ao deputado, representaria uma demonstração de força capaz de aumentar seu poder de barganha com a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, com quem mantém relação de desconfiança. As informações são de Gabriel Sabóia e Lauriberto Pompeu, do O Globo.
Enquanto isso, no Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) tem recorrido ao capital político do petista para se manter no posto e frear o avanço do ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN), que tenta lhe fazer sombra ao se colar no bolsonarismo, numa espécie de terceiro turno da disputa pelo Palácio do Planalto.
Para se reeleger, Lira costurou uma mega-aliança que reúne 19 partidos e 496 parlamentares. Apenas Rede, PSOL e Novo ficaram de fora. Até hoje, o recorde de votação numa eleição para a presidência da Casa é dos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), em 1991, e João Paulo Cunha (PT-SP), em 2003, que tiveram 434 votos dos 513 possíveis em suas respectivas eleições.
Embora evitem estimar um número, aliados de Lira acreditam ser possível atingir uma votação expressiva que demonstre sua força como líder não só do Centrão, mas capaz de costurar acordos que contemplem tanto governistas quanto opositores. Um exemplo disso foi a articulação para formar um bloco único em torno de seu nome, demovendo petistas da tentativa de isolar o PL com um bloco governista.
— Já estava previsto tudo isso (favoritismo de Lira) desde dezembro. Quem podia dificultar era o PT. Quando decidiu apoiar, tudo se normalizou — disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
Pacote de bondades
Após ver sua influência sobre os demais parlamentares ameaçada com a extinção do orçamento secreto, mecanismo que controlava na Câmara, Lira conseguiu se manter como favorito ao interceder a favor de aliados e distribuir benesses aos deputados que tomarão posse, seu eleitorado na próxima quarta-feira. O pacote de bondades vai de passagens aéreas “extras” para ir e voltar de Brasília a incrementos nos valores de auxílios moradia e para combustível.
A campanha pela reeleição também incluiu se envolver pessoalmente nas costuras políticas para beneficiar aliados. Entre eles, o deputado Jhonatan Jesus (Republicanos-RR), que deve ser eleito na quinta-feira para a vaga aberta no Tribunal de Contas da União (TCU). O PT, que ameaçou se opor à indicação, já admite apoiá-lo, em aceno ao partido do Centrão que tenta atrair para a base aliada.
Até agora o único concorrente declarado de Lira é o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
— Quanto mais votos ele tiver, mais o Executivo poderá ser chantageado. Nossa candidatura simboliza uma negativa ao intestino grosso da pequena política, do “toma lá, dá cá” — afirmou Alencar.
A Mesa Diretora da Câmara terá Marcos Pereira (Republicanos-SP) como primeiro vice-presidente, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) ou outro indicado do PL para a segunda vice-presidência, Luciano Bivar (União-PE) na primeira-secretaria —espécie de prefeitura da Casa — e Maria do Rosário (PT-RS) na segunda-secretaria. Já PSD e MDB irão dividir as duas secretarias restantes.
Histórico dos presidentes eleitos na Câmara — Foto: Editoria de Arte
Histórico dos presidentes eleitos no Senado — Foto: Editoria de Arte
Aposta na polarização
No Senado, embora Pacheco siga como favorito, Marinho tem recorrido à polarização entre Lula e Bolsonaro para tentar avançar. Ontem, recebeu oficialmente o apoio dos partidos que davam sustentação ao governo do ex-presidente, PP e Republicanos. Ao lado do PL, as siglas somam 23 dos 81 senadores.
Com um discurso crítico ao Supremo Tribunal Federal (STF), alinhado ao bolsonarismo, Marinho mira possíveis traições em partidos que estão na órbita do atual presidente da Casa, mas abrigam opositores ao atual governo. No União Brasil, por exemplo, ele conta com os votos de Alan Rick (AC) e Sergio Moro (PR). No MDB, a senadora Ivete da Silveira (SC) declarou voto no candidato do PL.
— Precisamos fazer o contraponto, moderar a avidez daqueles que estão chegando ao governo e querem destruir o que foi feito em nome do Brasil. Temos a responsabilidade de fazer com que essa situação não se abata sobre nós — disse Marinho.
Já o atual presidente da Casa conta com os apoios formais do PT e do PDT e deve atrair também o PSB, partidos da base de Lula. Pacheco recebeu na quinta-feira o presidente para um jantar na residência oficial do Senado, onde discutiram estratégias para vencer a disputa. Lula, que afirmou que não se envolveria nas eleições do Congresso, não pediu votos explicitamente, mas posou sorridente ao lado do político mineiro.
Em relação aos cargos na Mesa Diretora, o PT avalia se vai indicar Humberto Costa (PE) para a primeira vice ou Rogério Carvalho (SE) para a primeira-secretaria. A decisão deve acontecer amanhã, após reunião do partido. O MDB faz questão de manter o senador Veneziano Vital do Rego (PB) na primeira vice. Quanto às comissões, Davi Alcolumbre (União-AP) se movimenta para permanecer no comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa, e o PSD deve indicar Vanderlan Cardoso (GO) para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).