Líder do PT na Câmara a partir do próximo ano, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que o partido deve apoiar o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, o que envolve tolerar por um certo tempo a orientação da autoridade monetária de elevar a taxa básica de juros.
“Galípolo foi escolhido pelo presidente Lula da Silva, isso muda completamente o nosso posicionamento”, afirmou, em entrevista ao Valor.
“Para mim está muito claro que ele primeiro se ocupará de estabilizar o câmbio e em um segundo momento deve haver a preocupação em desacelerar muito a economia com essa taxa de juros”, diz Lindbergh, que procurou ser enfático”: “A gente entende que ele entra primeiro com a cabeça no câmbio ”, afirmou o deputado.
Ao longo de 2023 e 2024, Lindbergh foi um dos petistas mais estridentes em cobranças à equipe econômica e ao Banco Central, comandado até este mês por Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro.
O aumento de um ponto percentual na taxa básica da Selic, por exemplo, foi uma decisão unânime do BC, inclusive de Galipolo, diretor de Política Monetária no que foi a última reunião do Copom sob comando de Campos Neto. A reunião foi no dia 11. No mesmo dia, Lindbergh publicou nas redes sociais um vídeo sobre a decisão: “Isso é um escândalo” foi sua primeira frase e “eu estou indignado!” a última.
O tom agora é outro, depois da atuação forte do Banco Central para conter a desvalorização e as declarações de Galípolo de que não vê razão para prolongar o ciclo de aperto fiscal, previsto com mais duas altas.
“Essa questão do câmbio é fundamental porque pega na veia da população, pega na popularidade, em tudo. Acho que já pegou”, afirmou na sexta-feira, no momento em que a cotação estava em R$ 6,07 por dólar, depois de ter batido em R$ 6,30 antes de leilões da moeda americana pelo BC.
“O dólar bate na carne, na inflação de alimentos, na popularidade. Essa é a questão central. Já está pegando ”, comentou o deputado. Na sexta-feira começou a viralizar nas redes sociais diversos “memes” ironizando o aumento do quilo da picanha. “Foi com o papo de picanha que o Lula te enganou”, diz por exemplo um post do Tik Tok com 398 mil curtidas. Lula na campanha disse que em seu governo o povo iria voltar a “comer picanha e tomar uma cervejinha”.
O parlamentar fundamenta seu otimismo em relação a Galípolo com a crença de que ele fará uma gestão no Banco Central politicamente alinhada ao governo. “Galipolo não é da turma da Faria Lima, onde há contaminação política e quase todo mundo é de oposição. Ele tem como começar a construir expectativas para um ajuste na política de juros”, afirma. “Agora a gente tem influência na política cambial, monetária e fiscal”, disse.
O futuro presidente do Banco Central colaborou na campanha presidencial de Lula em 2022, mas é egresso do mercado financeiro. Foi CEO do Banco Fator entre 2017 e 2021.
O petista afirma que o pacote fiscal aprovado pelo Congresso quinta e sexta-feira é “um esforço fiscal grande, que, ao contrário do que o mercado diz, não é fraco”. Lembrou que a alteração na política de valorização do salário mínimo corresponde a metade do pacote.
O conjunto de propostas encaminhado pelo governo foi criticado por diversos economistas e mesmo dentro do Congresso por não propor propriamente cortes de gastos do governo, mas sim ajustes em programas sociais e políticas públicas e travas para emendas parlamentares e supersalários do Judiciário, aliás retiradas na tramitação.
O futuro líder do PT disse que há uma janela em 2025 para o governo consolidar a candidatura de Lula à reeleição. “Temos a vantagem de começarmos o ano com a oposição na defensiva, em função do inquérito contra Bolsonaro por golpismo. O desafio é a economia”, diz.
Nesse sentido, uma reforma ministerial poderia montar um núcleo que atuaria para o fortalecimento político nas próximas eleições, opina Lindbergh. “Se a reforma ocorrer, deve estruturar um núcleo para a campanha. É natural que passados dois anos o presidente reorganize sua equipe, mas essa é uma decisão exclusivamente dele”, diz. Para Lindbergh, “Lula é o Plano A, B e C”, mas ele menciona como “opções a serem construídas para 2030” os nomes do ministro da Educação, Camilo Santana e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.