Às vésperas da instalação da CPI dos Ataques Golpistas, que servirá como teste da base aliada no Congresso, líderes partidários aumentaram as críticas à articulação política do Palácio do Planalto, em especial ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Na esteira das declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que em entrevista ao jornal O Globo, apontou “dificuldades” do ministro no cargo, a avaliação entre deputados é que Padilha mantém bom diálogo com parlamentares, mas entrega pouco do que promete.
A insatisfação se refere à morosidade do governo em liberar emendas e nomear indicados políticos dos parlamentares no segundo e terceiro escalões. Líder do superbloco formado por 173 deputados de PP, União Brasil, PDT, PSB, Solidariedade, Avante, Patriota e da federação Cidadania-PSDB, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE) afirma haver um ambiente de “inquietação” na base.
— Apesar de o ministro (Padilha) ser superatencioso com todos os colegas, na base há uma reclamação por não resolver, sobretudo, a questão dos espaços regionais. O governo está tendo dificuldades com isso e está gerando uma inquietação em todos os partidos que compõem a base — disse o deputado ao GLOBO.
Carreras sugere que o governo faça uma “força-tarefa” para resolver as demandas do Legislativo. Entre as propostas discutidas na Câmara, mas descartadas por ora no Planalto, é que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, assuma parte da articulação política.
— O ministro (Padilha) não está atendendo à velocidade que o Parlamento precisa. Ele, na realidade, tem se portado como ministro do PT, e não da base aliada — disse o deputado Áureo Ribeiro (RJ), líder do Solidariedade.
Em caráter reservado, outros líderes da base fazem coro às críticas de Lira à articulação política do governo. Na entrevista ao jornal O Globo, o presidente da Câmara afirmou que a relação com Padilha não é de “satisfação boa” e que a pasta dele “precisa se organizar”:
— (Padilha é) Um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades. Não tem se refletido em uma relação de satisfação boa. Talvez a turma precise descentralizar mais, confiar mais. Se você centraliza, prende muito. Há muita dificuldade, talvez pelo tempo que o PT passou fora do poder.
As declarações de Lira foram interpretadas por parlamentares como um sinal de estremecimento na relação entre Planalto e Congresso que pode afetar a votação de projeto importantes, como a reforma tributária e o arcabouço fiscal. Para integrantes do governo, contudo, as críticas do presidente da Câmara soaram como um recado de que o parlamentar quer retomar o controle sobre a distribuição das emendas. Sob Jair Bolsonaro, o cacique do Centrão era o responsável por organizar os repasses do chamado orçamento secreto, extinto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim do ano passado.
À frente do Ministério de Relações Institucionais, Padilha tem concentrado decisões sobre liberação de emendas e de cargos. Integrantes da pasta estimam que 70% dos postos nos estados ainda não foram preenchidos por causa das disputas políticas.
Para auxiliares do ministro, o desafio passa por acomodar demandas do PT, de legendas aliadas, como também de partidos que o governo tenta atrair para a base. O Planalto prevê que votações mais importantes devem ocorrer a partir deste mês, o que deve acelerar o atendimento aos pedidos de parlamentares.
No PT, aliados são mais comedidos ao criticar o trabalho de Padilha, mas admitem que há uma insatisfação na base. Reservadamente, cobram mais agilidade de Padilha.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), avalia que a cobrança se deve à lentidão do governo em atender às demandas dos parlamentares por liberação de emendas e cargos. Ele, no entanto, ponderou que essa morosidade não é culpa de Padilha, mas do “arcabouço político”.
— Todo início de governo é normal que essas tensões existam. Temos uma máquina burocrática que, às vezes, emperra uma nomeação, os ministérios que não abrem o credenciamento das emendas. Essa lentidão faz parte do arcabouço político. O sistema anterior tinha um modus operandi e nós tivemos que mudar tudo. E isso não se faz da noite para o dia — disse Guimarães.