Após a explosão de ira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante encontro, na Casa Branca, com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a União Europeia fechou ontem apoio incondicional ao ucraniano. Reunidos em Londres, 18 líderes europeus e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, sob o comando do premiê do Reino Unido, Keir Starmer,decidiram cooperar com um plano de paz e fortalecer militarmente a Europa, ampliando a segurança da região. No encontro, o ucraniano foi cumprimentado e abraçado, bem diferente do tratamento que recebeu em Washington. Nos arredores de Downing Street onde ocorria a cúpula, manifestantes protestaram com críticas contra Trump e a favor de Zelensky.
Starmer ressaltou que a Europa enfrenta um “momento único” para consolidar sua “segurança”. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu mais investimentos para a defesa do continente. “É preciso rearmar a Europa urgentemente”, afirmou a alemã, que prepara um plano para “um longo período de tempo”. Em seguida, ela acrescentou: “É da maior importância que aumentemos os nossos gastos” de defesa na Europa e que “nos preparemos para o pior”, acrescentou Von der Leyen.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, comemorou que “mais países europeus vão aumentar seu gasto com defesa”. Para a Ucrânia e Europa, a reaproximação entre Estados Unidos e Rússia pode levar à exclusão da Ucrânia e da Europa das negociações. O tema foi assunto único da pauta da reunião ontem em que estavam presidentes representantes da França, da Alemanha, da Dinamarca, da Itália, da Turquia, dos Países Baixos, da Noruega, da Polônia, da Espanha, da Finlândia, da Suécia, da República Tcheca e da Romênia, entre outros.
Indignação
A forma como Trump tratou Zelensky com zombaria e expulsando-o da Casa Branco causou indignação entre os líderes europeus. O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, era um dos mais inconformados. “No século 21, as relações entre os países são de alianças, não de vassalagem. A época dos países subordinados acabou. Hoje defendemos uma ordem internacional de países livres, iguais e soberanos. Por isso, defendemos a Ucrânia perante a ameaça neoimperialista de Putin”, escreveu o espanhol na rede social X, antes da reunião de Londres.
Para Ursula von der Leyen, é fundamental apoiar a Ucrânia como preservação da democracia e do princípio do Estado de Direito. “Estamos prontos juntos, com vocês, para defender a democracia, defender o princípio de que há um Estado de Direito, e que não se pode invadir o vizinho ou mudar as fronteiras pela força”, acrescentou.
O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, disse ontem que o Ocidente deve resistir à “chantagem e agressão” da Rússia, e pediu unidade entre Europa e Estados Unidos em relação à Ucrânia. Ele defendeu o envio de uma mensagem para o presidente russo Vladimir Putin de “que o Ocidente não tem a intenção de capitular” e fará tudo o que for possível “para garantir que Europa e Estados Unidos falem com uma só voz”.
Porém, o chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou ter esperança de que os Estados Unidos vão continuar apoiando a Ucrânia, após um encontro com aliados em Londres para tratar de novas garantias de segurança na Europa, diante dos temores de um abandono de Washington. “O apoio internacional e transatlântico à Ucrânia é importante para a segurança do país e da Europa”, disse.
Embates
Horas antes da cúpula, Keimer reiterou o empenho dos europeus em um plano de paz entre Ucrânia e Rússia, após três anos de intensos conflitos. “Estamos todos muito comprometidos com um objetivo que queremos alcançar, que é uma paz justa e duradoura na Ucrânia. Acho que é muito importante que evitemos o risco de o Ocidente se dividir”, destacou a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que conversou separadamente com Zelensky.
O britânico ressaltou que os líderes concordaram em dar uma ajuda financeira para os ucranianos e aumentar a pressão sobre a Rússia. Os britânicos, por exemplo, pretendem repassar 2,26 bilhões de libras esterlinas, o equivalente a R$ 16,6 bilhões. “Espero que saiba que estaremos todos com você e com o povo da Ucrânia durante o tempo que for necessário. Todos ao redor desta mesa”, disse Starmer ao ucraniano. Depois dos Estados Unidos, a Alemanha é o principal fornecedor de ajuda à Ucrânia, desde a invasão russa, com um total de 44 bilhões de euros, aproximadamente R$ 267,5 bilhões.
Em momentos distintos, o presidente da França, Emmanuel Macron, defendeu que a União Europeia defina um “financiamento maciço e comum” que represente “centenas de bilhões de euros” para construir uma defesa comum. Porém, não mencionou qual será o valor que os franceses repassará para os ucraniano.