Nomes de grande influência e interlocução no Congresso se engajaram na campanha de seus aliados pelo Brasil nestas eleições municipais.
Considerada o início do ciclo eleitoral, as votações para as prefeituras e câmaras de vereadores garantem aos deputados e senadores cabos eleitorais que podem ser determinantes para suas respectivas reeleições em 2026.
A importância da disputa reflete até mesmo no funcionamento do Congresso, com sessões esvaziadas e semanas sem programação, em virtude do comprometimento dos parlamentares com um bom resultado nas urnas.
Arthur Lira (PP-AL)
Nas semanas em que a Câmara dos Deputados paralisou os trabalhos para uma espécie de recesso informal durante as campanhas, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), dividiu o espaço na agenda entre reuniões em Brasília e compromissos de campanha com aliados em Alagoas, impulsionando a sua participação na reta final.
No estado, os grupos políticos de Lira e do senador Renan Calheiros (MDB-AL) protagonizam uma disputa há anos, que pode se acirrar, ainda mais, em 2026 com a disputa por duas vagas ao Senado.
O resultado das eleições deste domingo (6) mostrou, no entanto, uma liderança de Renan no número de prefeituras em Alagoas. Das 102 cidades do estado, o MDB ficou com 65. O PP, por outro lado, 27.
Lira saiu vitorioso, porém, no principal colégio eleitoral alagoano. A capital, Maceió, deu vitória a um aliado do presidente da Câmara: o atual prefeito João Henrique Caldas (PL). Ele foi reeleito com 83,25%, ante 12,74% de Rafael Brito (MDB), candidato do grupo de Renan.
A região metropolitana de Maceió será, no entanto, dominada pelo MDB de Renan Calheiros, que venceu em seis dos 13 municípios — Atalaia; Coqueiro Seco; Marechal Deodoro; Murici; Paripueira; e Pilar. O PP conquistou quatro prefeituras na região: Rio Largo; Santa Luzia do Norte; Barra de São Miguel e Satuba.
A disputa em Barra de São Miguel foi uma das principais para Arthur Lira. A cidade é comandada pelo pai do presidente da Câmara, Benedito de Lira, conhecido como Biu. E a campanha contou com a presença de um dos filhos do deputado, Álvaro Lira, o Alvinho.
Biu disputou contra o atual vice-prefeito do município, Floriano Melo. Melo era aliado da família Lira e rompeu com o clã, filiando-se ao MDB, de Renan, para ameaçar a reeleição de Benedito. O pai de Arthur Lira conquistou 68,12% dos votos, derrotando o ex-aliado, que alcançou 31,88% dos votos.
No domingo (6), dois primos de Lira também conseguiram se eleger: Pauline Pereira (PP), que comandará a prefeitura de Campo Alegre (AL); e Peu Pereira (PP), que será prefeito de Teotônio Vilela (AL).
Em Junqueiro (AL), porém, um primo do presidente da Câmara, Joãozinho Pereira (PP) foi derrotado por um candidato do grupo de Renan Calheiros na disputa pelo comando da cidade.
Hugo Motta (Republicanos-PB)
Candidato de Lira para a presidência da Câmara dos Deputados, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) participou ativamente da campanha municipal e conseguiu eleger aliados na Paraíba. Entre eles, seu pai, Nabor Wanderley (Republicanos), que foi reeleito prefeito de Patos, com 73,6% dos votos válidos.
Em João Pessoa (PB), Motta participou da campanha de Cícero Lucena (PP) para prefeito, que teve 49,16% dos votos e vai disputar o segundo turno com o Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, que alcançou 21,77% dos votos no primeiro turno.
Em Campina Grande (PB), segunda maior cidade do estado, Hugo Motta apoiou Johnny Bezerra (PSB), que teve 34,58% dos votos e vai disputar o segundo turno com o atual prefeito da cidade, Bruno Cunha Lima (União Brasil). Já em Santa Rita (PB), o candidato de Motta, Nilvan Pereira (Republicanos) perdeu para Jackson (PP), que teve 48,44% dos votos válidos.
Em geral, o deputado apoiou candidatos que são de seu partido, o Republicanos. Em municípios em que o partido não tinha candidatos, Motta apoiou os candidatos do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
O PSB foi o partido que elegeu mais prefeitos na Paraíba, com 69 eleitos nos 221 municípios que decidiram a eleição no primeiro turno. Em segundo ficou lugar o Republicanos, com 50 prefeitos eleitos no estado.
Davi Alcolumbre (União Brasil-AP)
No Amapá, o grupo político do ex-presidente do Senado e virtual candidato a retornar ao cargo em 2025, senador Davi Alcolumbre (União Brasil), saiu vencedor no número de prefeituras no último domingo (6). Para aliados, a influência e o papel de Alcolumbre na distribuição de emendas parlamentares para o estado justifica o bom desempenho.
Ao todo, o União Brasil, presidido no estado pelo senador, elegeu nove prefeituras como cabeça de chapa — duas entre os municípios com maiores populações do Amapá, Laranjal do Jari e Mazagão.
A sigla integrou também a coligação vencedora, com o PP, na segunda maior cidade do estado, Santana; e outros dois municípios elegeram prefeitos de partidos que integram o arco de aliança de Alcolumbre.
O grupo de Alcolumbre rivaliza com outro liderado pelo prefeito de Macapá, Dr. Furlan, do MDB, reeleito neste domingo. A sigla, que conquistou três prefeituras, supera o União Brasil em número de habitantes.
O resultado é puxado pela capital Macapá, maior colégio eleitoral do estado, que reúne cerca de 60% da população do Amapá.
O MDB saiu vitorioso também em Serra do Navio e Porto Grande. A aliança com o PSD também levou à vitória em uma quarta prefeitura, Calçoene.
O resultado já era esperado por aliados de Alcolumbre, que precificavam também a derrota massiva na capital do estado contra o prefeito que disputava a reeleição.
Em Macapá, a oposição a Furlan reuniu o também senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), o ministro Waldez Goés (Desenvolvimento Regional) e o governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade). O grupo, no entanto, não conseguiu fazer frente ao emedebista. Ele registrou 85,08% dos votos, consolidando o favoritismo registrado desde o início da campanha eleitoral.
A derrota do grupo de Alcolumbre para Furlan em 2024 não foi o primeiro capítulo da disputa pelo protagonismo político no Amapá.
Em 2020, Furlan derrotou o irmão e suplente do parlamentar no Senado, Josiel Alcolumbre (União), no segundo turno da disputa pela capital do estado.
Dois anos depois, Davi Alcolumbre e a esposa do prefeito de Macapá, Rayssa Furlan, protagonizaram uma disputa acirrada por uma cadeira no Senado. Alcolumbre, que havia deixado a Presidência do Senado pouco mais de um ano antes da disputa, acabou reeleito por uma diferença de menos de 22 mil votos.
Neste ano, o irmão de Davi Alcolumbre ensaiou uma nova candidatura, mas recuou diante do baixo desempenho nas pesquisas eleitorais, que chegaram a mostrar Dr. Furlan com 90% das intenções de voto.
Sem o nome de Josiel, o União Brasil decidiu não lançar candidato a prefeito, nem coligar a qualquer candidatura na disputa ao comando da capital.
Como saída, em 2024, Josiel Alcolumbre se lançou candidato ao cargo de vereador em Macapá. Não conseguiu se eleger. Com 2.561 votos, a partir do próximo ano, o irmão do franco favorito a retornar ao comando do Senado será o primeiro suplente do União Brasil na Câmara Municipal de Macapá.
Elmar Nascimento (União Brasil-BA)
O líder do União Brasil, Elmar Nascimento (União-BA), conseguiu eleger pelo menos 30 prefeitos aliados na Bahia.
O deputado, inclusive, participou da campanha de candidatos do PT, legenda com a qual tem histórico de rivalidade no estado. Na Bahia, o líder do União pertence ao grupo de ACM Neto e já fez uma série de críticas a Lula.
Elmar tem feito acenos ao PT para conseguir apoio do partido na eleição para a presidência da Câmara, marcada para fevereiro.
Em Andorinha, cidade na qual participou de comício e chegou a fazer o “L”, símbolo de apoio a Lula, Elmar saiu derrotado. Adilberto Evangelista (PODE) foi eleito com 61,91% dos votos válidos contra Lurdinéia do Zé Branco.
Em Alcobaça, no entanto, o deputado ajudou a eleger o prefeito Zico de Baiato (PT), que concorreu contra Doutor Diego, do União Brasil, mesmo partido de Elmar.
Ele também apoiou o PT, contrariando o próprio partido, em Sento Sé. Giselda Carvalho (PT) foi eleita com 68,60% dos votos. O União Brasil apoiou Ednaldo Barros (PSDB) na cidade.
Em Barra, o deputado ajudou a eleger Romeu Junior (PT) com 57,21% dos votos válidos.
Nesta segunda-feira (7), o deputado comemorou em suas redes sociais a vitória de aliados em 30 cidades do estado:
Campo Formoso (União), Vitória da Conquista (União), Várzea do Poço (União), Valente (Avante), Alcobaça (PT), Barra (PT), Biritinga (PSB), Cairu (União), Cansanção (MDB), Conceição do Coité (União), Entre Rios (SD), Filadélfia (PRD), Ibipeba (PSD), Itatim (PSD), Jacobina (PMB), Jandaíra (PSD), João Dourado (PRD), Jussara (PP), Macarani (PSD), Mansidão (União), Mirangaba (PSD), Morro do Chapéu (PDT), Mucuri (União), Santaluz (Avante), Santo Amaro (União), São Gonçalo dos Campos (União), Senhor do Bonfim (União), Sento Sé (PT), Umburanas (PRD).
Rodrigo Pacheco (PSD-MG)
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), teve participação discreta nas campanhas municipais de Minas Gerais. Pacheco não participou de atos, mas manteve conversas com aliados durante o período em que permaneceu em Brasília, presidindo sessões da Casa.
A sigla dele, no entanto, elegeu o maior número de prefeitos neste domingo (141). Em 2020, o partido havia alcançado 78 prefeituras e a quarta colocação no ranking de partidos com maior número de lideranças em cidades mineiras.
O PSD também vai disputar o segundo turno na capital do estado, Belo Horizonte, com Fuad Noman contra Bruno Engler (PL).
Aliados de Pacheco avaliam que o resultado do PSD pode ajudar a angariar votos em uma eventual futura candidatura ao governo de Minas Gerais em 2026.