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quinta-feira 21 de setembro de 2023 às 12:55h

Liderada por engenheira, P-71 produz com baixa emissão de CO2

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“Brincar de Deus”: é assim que Giselle Tinoco, 40 anos, gerente de operação da plataforma P-71 da Petrobras, define a função para a qual foi designada. A frase bem-humorada é uma referência às responsabilidades envolvidas no cargo: cuidar da produção de petróleo e gás, da estabilidade do navio e da segurança dos 160 funcionários a bordo. Ancorada a dois mil metros de profundidade a cerca de 200 quilômetros da costa do Rio, a unidade fica no pré-sal da Bacia de Santos, no campo de Itapu, operado pela estatal nos regimes de cessão onerosa e partilha de produção.

O petróleo extraído do local é importante na estratégia da Petrobras de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, uma vez que Itapu tem a vantagem de ser menos poluente pelo baixo teor de gás carbônico na composição do produto. A Petrobras pretende aplicar de 6% a 15% do investimento total entre 2024 e 2027 em projetos de baixo carbono. No caminho da transição energética, a petroleira pretende ainda encomendar plataformas 100% elétricas, chamadas “All Electric”, em que todas as operações e a produção são realizadas com energia elétrica em substituição ao combustível fóssil.

Pelo Plano Estratégico 2023-2027, a Petrobras destinará US$ 64 bilhões para investimentos em atividades de exploração e produção. Do aporte total, 67% serão destinados ao pré-sal. Devem ser instaladas na região mais 11 plataformas nos próximos quatro anos. Dessas, seis serão destinadas ao campo de Búzios: Almirante Tamandaré (prevista para 2024); P-78 e P-79 (ambas para 2025); P-80 e P-82 (para 2026), além da P-83 (2027).

Na última semana,  Kariny Leal do jornal Valor, visitou a P-71. Essa foi a última plataforma da série chamada de replicantes a entrar em operação, em dezembro de 2022. O nome designa um conjunto de seis navios com características semelhantes que produzem, estocam e escoam petróleo. A série, formada por P-66, P-67, P-68, P-69 e P-70, tem alta capacidade de produção e baixa emissão de gases de efeito estufa. As replicantes possuem um sistema usado para aproveitar o gás gerado no processo de produção e diminuir a queima e liberação na atmosfera, conhecido pela sigla em inglês FGRU (“Flare Gas Recovery Unity”). A P-71 deve alcançar a capacidade máxima de produção, de 150 mil barris por dia e 6 milhões de metros cúbicos de gás, em outubro de 2023. Em agosto, produziu 130 mil barris por dia.

A instalação é uma plataforma flutuante capaz de produzir e armazenar petróleo, o que no jargão da indústria é conhecido por FPSO, do inglês floating, production, storage and offloading. Pode estocar até 1,6 milhão de barris de óleo, que depois são levados por navios aliviadores até os portos. Tem extensão equivalente a três campos de futebol e é a única unidade em funcionamento em Itapu.

A plataforma faz parte do sistema de produção da Petrobras no pré-sal, que completa 15 anos de operações neste mês. A camada pré-sal representa hoje 78% da produção total de petróleo do Brasil. Se fosse um país, o pré-sal ocuparia o 11º lugar no ranking mundial de produtores de petróleo, diz a Petrobras. Por estar em fase de crescimento da produção, a P-71 ainda não está entre as unidades do pré-sal que mais produzem.

Em julho, a FPSO Guanabara, no campo de Mero, também no pré-sal da Bacia de Santos, respondeu pela maior produção do país, com 176 mil barris por dia de petróleo e 11,25 milhões de metros cúbicos por dia de gás. A unidade mais próxima da P-71 é a P-70, no campo de Atapu, e que produz, em média, 100 mil barris por dia.

Giselle Tinoco, a chefe da P-71, trabalha na Petrobras há 16 anos e há cinco meses está à frente da unidade flutuante em Itapu. “Assumir essa responsabilidade não é para qualquer pessoa”, diz Tinoco. “É um pouco de brincar de Deus. Sou responsável não só pelos 150 mil barris produzidos, como também pelas 160 vidas que estão aqui. Fico satisfeita com o brilho de colocar essa unidade em plena operação.”

A engenheira é responsável por unificar as operações, divididas pelos funcionários em turnos. Tinoco fica baseada em Santos (SP) e visita a P-71 uma vez por mês para checar as funções, supervisionadas pessoalmente pelos gerentes da plataforma. Na unidade, 4% dos colaboradores são mulheres. O percentual equivale a pouco mais de seis funcionárias, que se revezam em turnos de 14 dias.

A Petrobras não informou até o fechamento desta edição quantas mulheres atuam como gerente de operações em plataformas da companhia. No começo deste ano, a petroleira enfrentou denúncias por suposta omissão em casos de assédio em plataformas e outras unidades da empresa. Como resultado, anunciou redução de prazos para apuração de casos de violência sexual contra funcionárias e disponibilizou atendimento 24 horas para as vítimas.

Tinoco diz que ser mulher no cargo em que ocupa deixa as funcionárias da unidade mais acolhidas. Ela, que admite ter sofrido assédio moral em outras funções que desempenhou na Petrobras, afirma que foi difícil trabalhar embarcada em equipes majoritariamente masculinas, e tenta amenizar essa experiência para as colegas: “Já vivi casos de ser a única mulher em uma plataforma. Sempre foram poucas mulheres, mas hoje vejo mais. Antigamente havia também uma resistência de colocar mulheres nessas funções. Minha posição hoje deixa as mulheres mais à vontade. Elas sabem que podem conversar comigo. Espero que eu seja uma inspiração para elas.”

Quando ocupou cargo de gerência pela primeira vez, em outra unidade da Petrobras, Tinoco tinha 29 anos. Para a engenheira, um dos desafios que enfrenta é manter o ambiente da plataforma agradável para os funcionários: “É um desafio. Conforme as pessoas saem e trocam, é difícil manter a ambiência.”

Giselli Rosa da Silva, enfermeira da FPSO, estava no último período de embarque quando a reportagem esteve a bordo, na semana passada. Ela será transferida para a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas (RS). “A equipe da P-71 é diferente. Gosto de trabalhar aqui, estou saindo com muita dor. Isso aqui é um mini-mundo.”

Marcos Vinicius Souza da Silva é o coordenador de produção da P-71, responsável por assegurar que a plataforma entregue os níveis de petróleo esperados. Com 13 anos de Petrobras, Silva diz que desenvolveu relação afetiva com as máquinas e o produto final: “Sei identificar se há algum problema só pelo som das máquinas”, disse Silva enquanto retirava uma amostra do óleo: “É afetivo mesmo.”

No convés do navio, é instalada uma planta de processo para separar e tratar os fluidos produzidos pelos poços. Depois, o petróleo é armazenado nos tanques da embarcação para, posteriormente, ser transferido para um navio aliviador, o que ocorre a cada cinco ou sete dias. O processo de transferência leva de 24 horas a 36 horas e é feito via mangotes, uma mangueira gigante, explica o coordenador da embarcação, Ronaldo da Silva Menezes Junior.

Segundo o engenheiro, quanto maior for a produção da plataforma, a frequência dos descarregamentos de petróleo para navios aliviadores também terá de aumentar. O funcionário diz que os tanques que armazenam o produto na plataforma passam por inspeções a cada cinco anos. O casco da P-71 foi projetado para ter 25 anos de operação. A unidade passou por alguns percalços até se instalar em Itapu.

O casco da P-71 seria construído no estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul, erguido pela Ecovix, que entrou em recuperação judicial. A companhia foi uma das investigadas pela Lava Jato. Com os problemas, a Petrobras precisou redirecionar a encomenda para o estaleiro CIMC Raffles, na China. Depois, a integração dos equipamentos ficou a cargo do estaleiro Jurong Aracruz, no Espírito Santo. Nessa etapa, em maio de 2019, dois módulos da plataforma naufragaram enquanto eram transportados do porto de Itajaí, em Santa Catarina, até Aracruz (ES). A Marinha localizou os equipamentos dias depois e a plataforma pode ser montada no Espírito Santo. Inicialmente, a P-71 ficaria em Tupi, em uma área em que a estatal tem consórcio com a Shell e a Galp.

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