Deputado Waldir disse que a mudança “é que nem mulher traída, apanha, mas volta”.
A antropóloga e professora da Universidade de Brasília (UnB) Debora Diniz alerta: a comparação feita pelo deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO) sobre o recuo com relação a Jair Bolsonaro “deve ser entendida pelas profundezas da violência que movimenta”.
Waldir disse que a mudança “é que nem mulher traída, apanha, mas volta”.
Para a professora, nome de primeira linha do feminismo brasileiro, o uso da alegoria não é inocente. “Transforma o vexame da traição num espetáculo da masculinidade que se reconcilia e mantém seu alvo em comum”, afirmou na coluna Radar publicado pela revista Veja.
“É importante atentar ao detalhe do sarcasmo: uma mulher que apanha e retorna ao ‘aconchego do lar’. É assim que esses homens entendem o poder: como um espaço de disputa, traição, opressão e mentira. Se não há aconchego numa casa que violenta as mulheres, haveria aconchego na garantia de que o poder político não será alterado das mãos dos patriarcas”, aponta Debora.
De quebra, a professora faz outra observação: se por um lado a afirmação do deputado sugere que o áudio sobre ameaça e traição foi apenas um mal-entendido, “por outro, o mal-entendido foi arrumado publicamente pela masculinidade que os une — como uma mulher violentada que não consegue escapar da opressão familiar”.