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sexta-feira 5 de novembro de 2021 às 05:18h

Líder da Etiópia, Nobel da Paz promete ‘enterrar os inimigos com sangue’

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No aniversário de um ano de uma guerra civil que desencadeou uma das mais graves crises humanitárias da atualidade, o primeiro-ministro da Etiópia e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019 Abiy Ahmed prometeu nesta última quinta-feira (4) “enterrar os inimigos com nosso sangue”, em referência às forças da região de Tigré que, nos últimos dias, capturou cidades importantes e ameaça avançar até a capital Adis-Abeba.

“A cova que está cavada será muito profunda. Será onde o inimigo será enterrado, não onde a Etiópia irá se desintegrar”, disse Ahmed em um discurso durante um evento no quartel-general dos militares em Adis Abeba. “Vamos enterrar esse inimigo com nosso sangue e ossos, e tornar a glória da Etiópia alta novamente.”

Um outro pedido para “enterrar” o inimigo em uma publicação na página do premiê no Facebook no fim de semana foi removido pela plataforma por violar suas políticas contra incitação e apoio à violência, segundo a empresa. “À medida que o conflito em curso na Etiópia se intensifica, estamos comprometidos em ajudar a manter as pessoas seguras e prevenir danos on-line e off-line por meio de nossas plataformas”, disse um porta-voz da empresa à agência Reuters.

As forças rivais do Tigré tomaram cidades importantes nos últimos dias e se uniram a outro grupo armado, levando o governo do segundo país mais populoso da África a declarar estado de emergência nacional. O porta-voz do primeiro-ministro Ahmed, Billene Seyoum, não respondeu imediatamente quando questionado se iria se encontraria com o enviado especial dos EUA, que esta semana insistiu que há muitas, muitas maneiras de iniciar conversas discretas.

Ahmed havia pedido nos últimos dias que os cidadãos pegassem em armas para se defender dos rebeldes e, na terça-feira 2, declarou estado de emergência por seis meses no país.

Ahmed não é o primeiro ganhador do Nobel que, após receber o prêmio, se envolve em conflitos ou dá declarações contrárias a minorias. Só nos últimos anos, a líder birmanesa Aun San Suu Kyi, que levou o prêmio em 1991, foi alvo de críticas da comunidade internacional durante a ofensiva do governo de Mianmar contra a minoria rohingya, que provocou um fluxo de centenas de milhares de refugiados para países vizinhos.

A ex-presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, Nobel da Paz de 2011, defendeu a adoção de uma lei para punir homossexuais no país depois de ter ganhado o prêmio, o que provocou também críticas na comunidade LGBTQ e em outros países.

Até o mesmo o ex-presidente americano Barack Obama, que ganhou o prêmio em 2009, foi questionado por ter autorizado bombardeio contra civis no Iêmen, Líbia e em outros países quando esteve na Casa Branca.

Ahmed recebeu o prêmio em 2019, por seus esforços na resolução do conflito entre a Etiópia e a Eritreia, e também por liberar presos políticos, autorizar o retorno de partidos políticos proscritos.

Ahmed também já foi acusado de retomar medidas antigas e autoritárias, prendendo jornalistas e opositores. Ele enviou tropas federais à região de Tigré em novembro de 2020 após os rebeldes atacarem uma base federal na região para remover o partido do poder. O conflito deixou dezenas de milhares de refugiados, forçou a fuga de casa de milhões de pessoas e deixou 400 mil pessoas passando fome na região, onde 5,2 milhões de pessoas — a maior parte de sua população — estão precisando de ajuda humanitária urgentemente. A ONU já acusou o governo etíope de bloquear a entrada de ajuda.

No front diplomático, líderes ocidentais e africanos fizeram nesta quinta-feira novos esforços para deter a escalada do conflito na Etiópia. Após encontro com o enviado especial dos EUA, Jeffrey Feltman, o presidente queniano Uhuru Kenyatta defendeu um cessar-fogo imediato no país vizinho. “A falta de diálogo tem sido particularmente perturbadora”, disse o presidente do Quênia.

O governo da Etiópia parece ignorar os apelos da comunidade internacional e, no primeiro dia da visita de Feltman, publicou um texto dizendo que o país não dará marcha à ré na “guerra existencial” que trava com os rebeldes. O enviado americano passará a sexta-feira realizando reuniões para que “todos os etíopes se comprometam com a paz e a solução de problemas por meio do diálogo”, informou um porta-voz de Washington. Na terça-feira, Feltman declarou que Washington se opõe a qualquer movimento da TPLF em direção a Adis-Abeba ou qualquer ação destinada a sitiar a capital.

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