Uma triste notícia veio de Palotina, oeste do Paraná: a explosão em um silo de secagem de grãos vitimou 19 pessoas, com 8 óbitos.
Segundo Flavio F. de Figueiredo e Giovanni P. Bonometti, do Blog do Fausto Macedo, explosão de silos é um drama vivido há muito tempo pelo mundo afora. Nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, várias localidades tranquilas do interior já foram abaladas por tragédias semelhantes.
Fotos do local mostram silos horizontais de grandes dimensões, como tantos que são encontrados principalmente nas regiões em que são produzidas grandes quantidades de grãos, parcialmente destruídos.
Para leigos, e até mesmo para muitos técnicos, silos são instalações onde o risco de acidentes aparenta estar concentrado na capacidade de resistência da estrutura aos esforços advindos de peso e empuxo dos grãos e a intempéries, sobretudo ventos.
Muitas pessoas ignoram que movimentação de cereais e grãos em silos apresenta grandes riscos.
Qualquer tipo de movimentação a granel de grãos gera atrito entre eles ou entre os grãos e os equipamentos ou as paredes dos silos.
Uma condição indispensável para conservação de grãos é que tenham baixo teor de umidade. Assim, grãos estocados sempre estão secos ou em processo de secagem. Nessa condição, o atrito remove partes da casca, da ponta ou do pincel, a depender do grão, e isso produz um pó leve, seco e potencialmente explosivo.
Quando a concentração de pó no ambiente fechado de um silo ultrapassa determinado nível crítico, basta uma simples faísca, ou um ponto de calor, para que ocorra uma explosão. É natural que determinada explosão movimente os grãos estocados, levantando mais pó. Nessa condição, o calor da primeira detonação pode disparar uma segunda explosão, e assim sucessivamente. Essa sequência só será interrompida quando a mistura pó/ar ficar pobre, ou seja, quando tiver restado pouco pó inflamável no ar.
É fácil imaginar que as consequências de sucessivas explosões podem ser catastróficas.
Com o desenvolvimento do agronegócio no Brasil, milhares de toneladas de grãos passaram a ser processadas diariamente em uma única instalação, gerando grande quantidade de pó explosivo. Como a presença do pó é inevitável, os riscos precisam ser gerenciados, para se evitarem tragédias.
Em primeiro lugar, é necessária conscientização de todos os envolvidos na operação. Desde aqueles que trabalham na armazenagem e na movimentação dos grãos, até os prestadores de serviços eventuais de manutenção e reparos. Passo seguinte é a divulgação para o grande público, que precisa conhecer riscos dessa natureza e passar a encará-los com a necessária cautela.
Para reduzir os riscos nos silos, uma das medidas usuais é prover todas as instalações de armazenagem de eficientes sistemas de aspiração, filtragem e controle de partículas. Outra providência básica é que as instalações elétricas devem ser à prova de água e pó. Ainda nas medidas básicas, para mitigar ameaças à segurança, os equipamentos devem passar por inspeções frequentes e pontos de atrito devem ser eliminados, para que não ocorram faíscas. A magnitude dos riscos exige que a manutenção seja preditiva, ou seja, procurando antecipar as intervenções em relação ao surgimento de falhas.
É preciso ter em mente que um evento desastroso não pode terminar em si, sem trazer lições que sirvam para que se evitem ocorrências semelhantes, poupando vidas e preservando a integridade física de pessoas.
*Flavio F. de Figueiredo, engenheiro civil, consultor. Conselheiro do IBAPE/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo
*Giovanni P. Bonometti, engenheiro civil, consultor em processos industriais. Especializado em manuseio e moagem de grãos pela ENSMIC Paris Ècole NATIONALE Supèrieure de MEUNERIE et dês Industries Cérealières