Um dos nomes fortes dentro do PDT baiano, o secretário de Saúde do município e deputado estadual licenciado, Leo Prates revelou em entrevista publicada pelo Bahia Notícias que não tem vontade de assumir o partido no estado. Presidente da legenda em Salvador, Prates entende que sua vocação é de estar no “chão de fábrica”, e que o Félix Mendonça, é o melhor presidente da história do PDT na Bahia.
Com 13 meses de atuação na SMS, Leo revelou que seu destino será seguir as definições do PTD e que sua gestão a frente da pasta termina com fim do mandato do atual prefeito ACM Neto (DEM). “Tenho carinho por Bruno, mas minha decisão é seguir o PDT. O presidente Félix Mendonça, o presidente Luppi, Ciro Gomes, foram de uma generosidade comigo enorme. A minha primeira decisão é honrar os que me honraram”, disse.
Leo, começou falando do tema do momento, o recadastramento no SUS. Muito foi dito mas queria que você explicasse para nosso leitor, de fato como funcionará o envio de verba do governo federal e qual a importância de atingir a meta. E para completar qual a meta de cadastros?
O financiamento hoje a grosso modo tem dois pilares. O primeiro é o número de equipes consistidas, tanto das unidades de demanda aberta como de equipe de saúde da família. É um sistema que força você, e foi isso que Salvador fez ao longo do tempo, a estar com todas as equipes consistidas, com médico, enfermeiro, agente de saúde, com todos lá. O segundo pilar do sistema é per capita, pelo volume da população. Agora não mais. O principal pilar do financiamento do SUS passa a ser o número de pessoas cadastradas. Você tem que prestigiar as unidades que estão fazendo atendimento. Sou contra, pois você implementa uma linha de financiamento industrial, meramente de produção. Para mim não é o parâmetro fundamental de uma unidade. Você tira financiamentos de agente de saúde, e passa a receber pela produção. As unidades das ilhas por exemplo, você não tem nem o número de pessoas para receber o valor atual que recebemos. Ou seja, na minha visão, nós retiramos os incentivos para as áreas mais remotas. Até por conta dessas áreas mais remotas, como as ilhas, Jardim Campo Verde, nós precisamos ter um volume de cadastro maior, para que na compensação tenhamos o volume para compensar. Estamos fazendo isso pensando no futuro da saúde. Não terá impacto nesse ano, e precisamos crescer. Queremos cadastrar 90% da população.
Pela relevância dita do recadastramento, a prefeitura não poderia ter dado uma intensificada na divulgação? Mesmo antes da pandemia, lá em janeiro?
Se você pegar minha rede social, no dia 5 de dezembro de 2019, está lá o lançamento da plataforma “Atualiza”, e começamos, pois, estávamos abaixo do que preconiza o ministério da saúde para o Bolsa Família. E começamos de dezembro a fevereiro, a fazer pelos usuários do bolsa família. Precisávamos melhorar. Em janeiro fizemos o lançamento do aplicativo do cidadão e foi um volume grande e expressivo. Quando veio março, veio a pandemia e realmente nossa comunicação ficou comprometida. Nós temos a comunicação com os agentes de saúde, e lembrando que na pandemia eles só podiam fazer visitas Peri domiciliar, eles não podiam entrar nas casas das pessoas, isso comprometeu um pouco. Os instrumentos mais tradicionais da secretaria ficaram abafados, estávamos focados na pandemia, qualquer comunicação ficou abafada. Em março, antes da pandemia, tive uma conversa com uma pessoa do marketing, e lançaríamos a operação Dengue, e essa pessoa me disse: “não tem como chamar atenção para isso sendo que só se fala em coronavirus”. A pergunta é correta, tanto a comunicação ficou comprometida e pelo momento que vivemos, mas acertamos no retorno. Pedimos um mês atrás para a prorrogação do recadastramento. O governo mandou tem 10 dias a verba de televisão, rádio e sites. Aí é inquestionável o poder que a imprensa tem. Não tínhamos esse dinheiro para fazer. Só recebemos a verba agora. Queríamos lançar a comunicação com o prazo adiado. Foi uma decisão arriscada, assumo, mas não acho que foi errada. Peco por ação, não por omissão.
Falando ainda sobre o sistema de saúde do município. Temos muitas pessoas que moram em Salvador e são de outras cidades. Quando o SUS faz esses repasses, o valor vai para a cidade qual a pessoa foi cadastrada. A SMS pensa em fazer alguma campanha de alerta para essas pessoas?
Não precisa de projeto específico. O SUS vai começar a acompanhar, a pessoa vai ser vinculada a unidade que foi atendida. Vai vincular diretamente. Sou contrário, pois a política de saúde para mim tem que ser descentralizada, para não favorecer a concentração nos grandes centros. Na minha visão isso vai concentrar os recursos nos grandes centros e o financiamento do SUS vem caindo. A contrapartida do município vem aumentando. Numa cirurgia de joelho recebemos cerca de R$ 1.700, e colocamos R$ 7.000. Então, veja o governo federal repassa e o que o município coloca. Não existe desmerecimento, Salvador recebeu ano passado R$ 121 milhões, mas existe uma verdade que o município coloca muito dinheiro. O que o governo não repassa o suficiente. A vinculação é natural e me manifesto contra. É melhor pois ela não sai de sua casa, faz a prevenção perto. Muito prefeitos não vão aguentar abastecer em zona rural, por exemplo.
Léo, o Bahia Notícias está fazendo uma série de reportagens sobre gravidez na adolescência. Após aquele caso bem complicado do Espírito Santo, e queria saber de você sobre as políticas públicas da SMS para essa questão? Vimos que existe um número alto de adolescentes grávidas na cidade.
Nós temos um trabalho grande de planejamento familiar nas unidades básicas. Temos um trabalho de prevenção e correção e tudo o que preconiza o SUS, fruto do esforço do prefeito Acm Neto (DEM), veja que saímos de 18% e fomos para 56% de cobertura de atenção primária, é um recorde. Nossa meta é fechar com 60% , essa rede toda trabalha nessa prevenção. Tenho uma tristeza, tenho que confessar que estávamos desenvolvendo um dos trabalhos mais bonitos, pegando essa área não só da adolescência, mas das gestante, junto com as técnicas que seria o “Mãe Coruja”, pois a maioria das mães não estão fazendo os sete pré-natais como o ministério manda. Algumas tinham problemas de transporte, e boa parte das mulheres são negras, e desenvolvemos junto com a secretaria de Promoção Social, com Ivete Sacramento, tudo isso dentro das unidades, e seria um projeto amplo. Acabamos antes de fevereiro e a procuradoria disse que seria impossível começar este ano. O projeto está pronto, é um dos mais importantes e bonitos.
Falando sobre a pandemia agora. Sabemos que na pandemia a tendência é que as pessoas fiquem em casa e não saiam de casa. A expectativa é que a vacina para a Covid aconteça o mais breve possível, mas e sobre as vacinas do clico regular? Como estão as campanhas? E a campanha do sarampo, como está a adesão?
A do Sarampo sei que estamos com problema. Foram 121 mil vacinados de 20ª 49 anos juntamente, mas na parte de Influenza estamos muito bem. Usamos os drive-thrus. Estamos replicando o mesmo modelo, e a secretaria virou uma secretaria de vidas, pois temos agora vacinação antirrábica para os animais. Esperamos até o fim do ano está com o hospital público veterinário.
Falando sobre a pandemia aqui em Salvador, ontem a Bahia chegou a menor taxa de ocupação de leitos desde maio. Salvador como maior cidade do estado como está para uma reabertura mais ampla, abrindo entre elas escolas e praias?
O prefeito decidiu dividir a fase 3. Para mim foi acertada para acompanhar. Estamos com as médias moveis de casos, ocupação dos leitos e mortes em queda, esses são grandes sinais que está sob controle, mas não está superada a pandemia. Eu prefiro observar. Estamos na fase mais crítica de reabertura. Temos que acompanhar o desenvolvimento da curva de contágio. Temos alguns desafios do coronavirus e não podemos deixar que as taxas saiam do controle. Temos que fazer a retomada das atividades econômicas. Na minha visão, o prefeito tem que antes de pensar no geral, o que tem mais impacto econômico. È tentar salvar as vidas e os empregos, temos que equilibrar essa equação. Temos que prestigiar as atividades econômicas que tenham mais impactos de empregos para as pessoas.
Você tratou uma eventual candidatura a prefeito de Salvador como um projeto de futuro. Isso é possível dentro da trajetória política dele?
Eu entrei para a vida pública por opção e não pela falta dela. A maior tristeza de meu pai é porque me formei em engenharia, ele é engenheiro e eu não fui trabalhar com ele. Entrei na vida para servir. Larguei qualquer sonho pessoal e entendi que nem eu sendo prefeito poderia ajudar tanto como secretário. Fui um cimento na relação com o governo estadual. Até pela minha relação com Fábio Vilas-Boas, com a equipe. Fui vereador da cidade, presidente da câmara, sou deputado estadual, fui secretario de promoção social, e queria disputar, pois ser prefeito é uma decisão do povo. O povo sempre foi muito generoso comigo. Sem tradição política e conseguir galgar os cargos, e o que eu consegui fazer com tantas pessoas que me ajudaram na vida. Quero deixar para meus filhos que “meu pai foi um cara retado”, que trabalhou para o mundo ser melhor. Tenho o sonho de ser candidato, tenho 42 anos, tenho tempo. Quero estar na vida pública e gosto. Converso e dialogo com todos. A decisão acima de tudo é do povo de Salvador, e independente da onde os destinos me levarem já sou eternamente grato.
Originário do DEM, muito ligado a figuras do partido como o prefeito ACM Neto, Léo Prates agora é filiado ao PDT. Existe alguma chance de ter “saudade do ex”?
Eu me considero um político de centro. É equilibrar o desenvolvimento econômico com desenvolvimento social. Venho de uma família vinculada a esquerda, meu pai e meu padrinho são vinculados. Entrei no DEM por causa da amizade com Neto, desde os 11 anos. Foi por causa disso. Eu só sei fazer polícia com o coração. Se não estiver apaixonado não sei fazer. Foi essa amizade e não por uma vertente ideológica. Pela liderança. Estou muito bem no PDT, sem nenhum demérito do DEM, não cuspo no prato que comi. Fui muito feliz e tenho muitos amigos. Mas me sinto em casa no PDT, gosto muito do debate com movimentos sociais. O PDT tem muito isso, como o PT também tem, muitas correntes. Me sinto em casa. Estive com movimento culturais do PDT. Essa coisa viva. Ressalto o presidente Carlos Luppi, que foi comigo de uma lealdade e generosidade.
Acabando mandato de Neto, você se vê dando continuidade na SMS caso Bruno seja eleito? Tem vontade de retornar para a AL-BA?
Tenho carinho por Bruno, mas minha decisão é seguir o PDT. O presidente Félix Mendonça, o presidente Luppi, Ciro Gomes, foram de uma generosidade comigo enorme. A minha primeira decisão é honrar os que me honraram. Já cheguei como pré-candidato. Estou grato e feliz, pois submeti minha decisão ao corpo, e todos entenderam que ficasse na secretaria. Estarei no projeto aonde o PDT estiver. Felix passou por problemas e a decisão do PDT é apoiar algum projeto, tenho a minha preferência, mas será uma decisão colegiada. Caso o projeto do PDT, ganhe a prefeitura, foi a maior e mais bonita experiência que tive na minha vida. Acho que consegui provar que estou pronto para qualquer desafio. Foram 13 meses.
Léo, o senhor vai disputar a presidência do PDT com Félix Mendonça?
Eu nunca quis. Nem no DEM, pois acho que a atribuição mais difícil é ser presidente de partido. Aceitei ser presidente municipal do PDT pois Luppi e Félix me pediram. Não tenho o menor desejo de estar no lugar de Félix. Acho que faz um excelente trabalho, e não tenho essa vocação. Minha vocação é de estar no ‘chão de fábrica’, desse diálogo. Félix precisar de mim, mas acho que ele é melhor presidente da história do PDT, antes que queiram me inventar isso aí. E que ele fique aí por muitos anos.