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O presidente da Câmara, Arthur Lira (centro), o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (canto direito), e outros políticos durante evento em Lagarto (SE) - @GustinhoRibeiro no Instagram
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domingo 23 de abril de 2023 às 06:57h

Leilões e eventos de cavalos viram palanque de políticos e atraem de Lira a ministro

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Uma praça em homenagem a um cavalo premiado foi inaugurada em Boituva (SP) em janeiro com a presença de ministro, secretário, deputado federal e até um deputado estadual do Rio de Janeiro.

O evento ficou conhecido pela presença de Juscelino Filho (União Brasil), ministro das Comunicações, que usou um avião da FAB para ir à inauguração do espaço em homenagem ao cavalo Roxão, que pertencia a um sócio, além de outros eventos ligados ao mesmo assunto, conforme revelou à época o jornal O Estado de S. Paulo.

A presença de políticos no universo dos cavalos, segundoArtur Rodrigues e Flávio Ferreira, da Folha, vai muito além do ministro. Leilões e premiações do setor viraram palanque para políticos brasileiros.

Vai desde políticos proprietários de haras, como a família do ministro Juscelino, a outros que fazem parte de uma espécie de bancada da vaquejada, modalidade esportiva com cavalos muito popular especialmente no Nordeste.

Em Boituva, na inauguração da praça que conta com uma escultura do cavalo quarto de milha, os outros políticos presentes eram o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania), o deputado estadual paulista Itamar Borges (MDB) e o deputado estadual do Rio Rosenverg Reis (MDB).

Roxão, cujo nome oficial era Silver Wild SLN, era de propriedade de Jonatas Dantas, um dos principais criadores e sócio de Juscelino.

O animal, que morreu aos 27 anos em 2021 após uma carreira apinhada de títulos, tinha fãs como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que chegou a montá-lo durante uma competição.

Foi em Lagarto (SE), em um leilão de cavalos beneficente em prol da criação de uma unidade local do Hospital de Amor de Barretos (SP), em 2021, que Lira relatou o episódio da montaria em Roxão em uma vaquejada.

Contou também que quase comprou o cavalo, mas um funcionário botou defeito no animal, que ainda não era famoso, e ele desistiu da aquisição. Em sua fala, porém, Lira comemorou o fato de Roxão ter sido adquirido por Jonatas Dantas, a quem atribuiu o sucesso do animal.

Também discursou o então ministro da Cidadania, João Roma, que disse estar representando o governo de Jair Bolsonaro no evento. O leilão arrecadou R$ 1,5 milhão, segundo os organizadores.

Não raro os eventos são um lugar para ver e ser visto no mundo político. E que rendem um palanque perante um eleitorado influente, uma vez que empresários do agronegócio, construtoras e artistas famosos também fazem parte do grupo de fãs e criadores de cavalos.

No fim de julho do ano passado, o então deputado Juscelino foi o anfitrião dos políticos. Ele organizou um leilão de cavalos mangalarga em São Luís (MA), que teve interrupções entre os lances para que congressistas e líderes locais pudessem ser anunciados e discursar.

O maior espaço foi dado ao senador Weverton Rocha (PDT-MA), que à época era candidato a governador do estado do Maranhão.

O gancho para a fala de Rocha foi a colocação para leilão de um cavalo de Juscelino Filho chamado General Roxo AD, cuja renda seria destinada à unidade maranhense do Hospital de Amor.

Juscelino tomou o microfone e creditou a Rocha a instalação do braço do hospital em Imperatriz (MA), reduto político do então candidato. “Se hoje nós temos o Hospital de Amor aqui no Maranhão, é graças ao trabalho do nosso senador Weverton Rocha, que vai ser o próximo governador do estado do Maranhão.”

Procurado pela Folha, Weverton disse que há grande tradição de eventos ligados aos esportes e negócios do setor equestre no Nordeste, que atraem público e aquecem as economias locais, e é comum a participação de políticos nesses eventos.

“A coisa mais normal que tem lá é participar de vaquejada e leilão. Movimenta a economia local, as cidades ficam cheias, é algo impressionante. E é onde tem gente que o político está. Se tu estiver em um velório, e tiver muita gente, tu pode ver que tem um político lá no meio”, afirmou o senador.

Durante os eventos e leilões, os políticos são exaltados com frequência. Às vezes, apenas por estarem presentes; em outras, também por negociarem os animais.

Em janeiro, por exemplo, o deputado estadual Itamar Borges, que foi secretário de Agricultura na gestão João Doria/Rodrigo Garcia (PSDB), teve a atuação destacada por locutores de um leilão em Boituva.

“O deputado Itamar Borges vai se traduzindo em um dos maiores assessores do leilão, né?”, disse o locutor. Outro homem respondeu: “O homem é uma máquina de vender”.

Itamar, em 2022, foi um dos homenageados pela ABQM (Associação Brasileira de Quarto de Milha), como destaque do ano, no evento conhecido como “Oscar” do Quarto de Milha. Políticos estão sempre presentes em eventos da entidade, que, em 2023, também homenageou o ministro Juscelino Filho.

Os cavalos quarto de milha são usados nas vaquejadas, esporte com grande apelo eleitoral pela sua popularidade, o que garante toda uma bancada defensora do assunto no Congresso.

A vaquejada consiste numa corrida entre dois vaqueiros montados a cavalo que têm o objetivo perseguir e derrubar um boi, puxando-o pela cauda numa pista de areia com 100 metros de comprimento.

O esporte é controverso e já chegou a ser declarado inconstitucional em 2016 pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Na ocasião, criadores e vaqueiros lotaram a Esplanada dos Ministérios.

Como resposta, em 2017 o Congresso promulgou uma emenda à Constituição afirmando que esportes equestres não são considerados cruéis.

Defensor da prática, tendo sido autor e relator de propostas sobre o tema, o senador Efraim Filho (União Brasil) disse à Folha que a legislação é uma evolução no marco legal para alinhar o bem-estar animal com a atividade, que hoje proíbe esporas e munhequeiras e prevê um protetor de silicone na cauda do boi.

Questionado sobre o apelo eleitoral da bandeira dos esportes equestres, ele disse que se trata de uma questão cultural que suscita orgulho entre nordestinos e ainda atende cidades onde não há outras alternativas de emprego.

“Essa geração de emprego movimenta cidades do interior do Nordeste, principalmente onde dificilmente chegam indústrias e outras oportunidades de geração de emprego e renda”, diz, citando artesãos, médicos, artistas e as indústrias de couro, selas e rações, entre outras.

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