Num ambiente de piora da pandemia da covid-19 e retração da atividade econômica, o governo marcou uma bateria de leilões de aeroportos, portos e ferrovia para esta semana, entre os dias 7 e 9, com a expectativa de atrair cerca de R$ 10 bilhões em novos investimentos apenas nestes três dias. Porém, conforme o Estadão, contando com outros leilões previstos para o mês, os investimentos podem somar mais de R$ 20 bilhões.
A série de eventos nos próximos dias, batizada de Infra Week (ou semana da infraestrutura, no termo em inglês), será um termômetro do potencial de atração de investimentos de longo prazo, no momento em que o Brasil está com a imagem arranhada pela condução da política de enfrentamento do coronavírus.
Serão leiloados 22 aeroportos hoje operados pela empresa pública Infraero, 5 terminais portuários (quatro em Itaqui e um em Pelotas) e o primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), entre Ilhéus e Caetité, na Bahia – um projeto em obras desde 2011 e que ainda recebe críticas de ambientalistas. O governo quer que a ferrovia se consolide como um corredor logístico de exportação para o escoamento de minério de ferro, além de grãos.
A oferta dos lotes será feita na Bolsa de Valores (B3), em São Paulo, que se preparou para o leilão presencial com regras rígidas de acesso ao local. O valor de R$ 10 bilhões é alto se comparado, por exemplo, com o orçamento do Ministério da Infraestrutura destinado a obras, em torno de R$ 7 bilhões para todo este ano. O número de projetos que serão oferecidos ao setor privado em uma semana também contrasta com o dado de 2020, quando o ministério organizou o leilão de nove ativos.
Porém, além destes três dias, durante todo o mês haverá projetos a serem leiloados, em um cronograma que o Bradesco BBI classificou como o “super abril de infraestrutura no Brasil”.
Os analistas Victor Mizukasi e Pedro Fontana ressaltam que o governo federal e o governo do estado de São Paulo podem leiloar ao todo 11 concessões de infraestrutura no período. O governo paulista também fazer o leilão de concessão das linhas 8 e 9 da CPTM no dia 20 de abril, com a previsão de investimentos da ordem de R$ 3,2 bilhões. Já em 29 de abril, o governo federal, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), realizará o leilão da BR-153/080/414/GO/TO, rendendo outros R$ 7,8 bilhões de investimentos, levando a investimentos da ordem de até R$ 21 bilhões.
Conforme avaliam os analistas, eles podem não ter muitos problemas para atrair o setor privado, mas esperam prêmios menores para a tarifa de concessão mínima. Também para eles, os resultados dos leilões podem mostrar o apetite dos investidores internacionais em infraestrutura para investir no Brasil, uma vez que a pandemia do COVID-19 afetou o setor globalmente.
Pensando neste cenário de oportunidades para o setor de infraestrutura, Mizusaki e Fontana apontaram quais empresas devem ser as mais beneficiadas.
Para os analistas, a CCR (CCRO3) terá a oportunidade de destravar até R$ 18 bilhões em capex, ou investimentos em capital, correspondentes a 68% de seu valor de mercado, em um único mês.
Eles avaliam que a CCR é uma das maiores empresas de infraestruturas de transporte latino-americanas, com valor de mercado de R$ 26 bilhões. Mesmo com este porte, além do re-leilão da NovaDutra, com R$ 15 bilhões em investimentos, a CCR não tem grandes oportunidades de investir para aumentar materialmente seu valor presente líquido (VPL) em uma “única tacada”.
Não haverá uma grande mudança neste cenário em abril de 2021, mas a empresa agora tem a oportunidade de adicionar até 5 projetos ao seu portfólio de concessões, totalizando os R$ 18 bilhões. De acordo com as estimativas dos analistas, com base na taxa interna de retorno alavancada entre 10% e 11%, essas 5 concessões poderiam aumentar o preço-alvo em cerca
de R$ 2,20 para cada ação CCRO3. Atualmente, o BBI possui recomendação de compra para a ação, com preço-alvo de R$ 18,00 (potencial de valorização de 37% frente o fechamento de segunda-feira).
Já a Ecorodovias (ECOR3) é a preferida para vencer o leilão da rodovia BR153 (GO / TO), que acontece no fim do mês, mais precisamente no dia 29. O leilão também pode atrair o interesse de outros players como a CCR, mas, para eles, a Ecorodovias tem uma vantagem, uma vez que a ECO135 fica mais perto dessa rodovia.
A adição desta concessão de rodovia pedagiada, junto com a negociação de reequilíbrios econômicos pendentes com o Governo de São Paulo, poderia desbloquear R$ 2,70 e R$ 7,80 por ativo ECOR3 respectivamente e abrir espaço para um follow on (oferta secundária de ações) de R$ 1,8 bilhão, afirmam os analistas. A recomendação atual é de compra, com preço-alvo de R$ 20 por ativo (upside de 75% frente o último fechamento).
Já sobre Santos Brasil (STBP3), os analistas destacam que, no dia 9 de abril, o Governo Federal vai leiloar quatro terminais de granéis líquidos no Porto do Itaqui, e um pequeno terminal de carga geral e produtos de madeira em Pelotas. A Santos Brasil pode usar parte de seus R$ 790 milhões em recursos captados em setembro de 2020 para licitar os terminais de granéis líquidos. A recomendação para as ações STBP3 é de compra, com preço-alvo de R$ 10 (potencial de alta de 47%).
Com relação à Rumo (RAIL3), eles não esperam que a companhia faça uma licitação para a FIOL, ferrovia no estado da Bahia que ligará uma mina de minério de ferro greenfield com um novo porto, visto que este projeto não possui sinergia com seu portfólio de concessões ferroviárias, e depende de um único cliente. “No entanto, o plano de longo prazo é conectar FIOL com a Malha Central, da RUMO, o que poderia explicar o potencial interesse neste projeto”, apontam. Para a Rumo, a recomendação também é de compra, com preço-alvo de R$ 30 (potencial de alta de 45% em relação ao último fechamento na segunda-feira).