O documento em que requereu ao STF (Supremo Tribunal Federal) buscas em imóveis do ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações) e de seu irmão, Renato, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que o político continuou recebendo mesada da JBS mesmo depois de assumir o ministério no governo de Michel Temer (MDB).
“É relevante destacar que parte dos pagamentos relatados coincide com o exercício atual do cargo de ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por Gilberto Kassab, cuja nomeação ocorreu em 12 de maio de 2016, e outra parte é concomitante ao exercício anterior do cargo de ministro das Cidades, cuja nomeação é de 1º de janeiro de 2015 [no governo Dilma Rousseff]”, escreveu Dodge.
O pedido foi feito na segunda-feira (17) ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator de um inquérito que investiga Kassab. As buscas foram deflagradas pela Polícia Federal nesta quarta (19). O político do PSD será chefe da Casa Civil do governo João Doria (PSDB), em São Paulo, a partir de janeiro.
A PGR afirmou que a suspeita é que Kassab tenha pedido à JBS e recebido R$ 350 mil por mês entre o início de 2010 e o fim de 2016, “através da dissimulação por intermédio de contrato fictício de consultoria com a Yape, empresa da qual foi sócio até o ano de 2014”. A Yape teria atuação na área de transportes e de consultoria.
Dois profissionais encarregados pela área de transportes da JBS prestaram depoimento. Eles afirmaram “desconhecer qualquer contrato de consultoria com a empresa Yape Consultoria, esclarecendo que jamais receberam nenhum documento ou relatório dessa empresa e que, pelas funções e cargos que ocupavam, caso tal serviço tivesse sido efetivamente prestado, certamente dele teriam tido conhecimento”.
Dodge apontou que, de fato, o irmão de Kassab frequentava a JBS, trocava mensagens e entregava envelopes à secretária do empresário Wesley Batista, delator que descreveu as situações suspeitas sobre o ministro. No entanto, não ficou confirmado que Renato prestasse trabalho de consultoria para a empresa.
A investigação, ainda segundo a PGR, identificou pagamentos da Yape a Gilberto Kassab logo após a empresa ter recebido valores similares da JBS.
O suposto esquema da mesada movimentou, conforme a delação da JBS, cerca de R$ 30 milhões no total. Há ainda um segundo esquema em apuração, sobre pagamentos ao PSD que teriam somado R$ 28 milhões.
Nesse caso, o delator Ricardo Saud, ex-executivo da holding J&F, que controla a JBS, disse que nas eleições de 2014 o então presidente do PSD, Kassab, vendeu o apoio político do partido ao PT. Os R$ 28 milhões, segundo o delator, teriam sido pagos pela JBS após autorização do então ministro petista Guido Mantega.
Parte desse montante teria beneficiado o diretório nacional do PSD e as candidaturas do deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) e de seu pai, o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), que se elegeram em 2014.
Esses repasses, de acordo com a delação, foram dissimulados por meio de doações eleitorais oficiais, de pagamentos por meio de notas fiscais avulsas e de uma única entrega em dinheiro vivo.
Duas empresas de Natal (RN) suspeitas de terem emitido as notas para o esquema estão entre os oito alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos pela PF nesta quarta. Os outros endereços são de Gilberto e Renato Kassab e da Yape.
Em nota, o ministro da Ciência e Tecnologia negou ter cometido crimes e afirmou que está à disposição dos investigadores para prestar esclarecimentos.
“O ministro confia na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, sabe que as pessoas que estão na vida pública estão corretamente sujeitas à especial atenção do Judiciário, reforça que está sempre à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários e ressalta que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público”, afirmou Kassab.