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A notícia de que MDB e PSDB cogitam se unir numa federação partidária é, conforme artigo de Josias de Souza colunista do UOL, um desses acontecimentos que reforçam no imaginário do brasileiro a convicção de que o teatro da política é mesmo o território da farsa. Quem leva seus protagonistas a sério se arrisca a fazer papel de bobo.
O velho MDB nasceu de um paradoxo, quando a ditadura militar autorizou o funcionamento de dois partidos —um contra o regime, outro a favor. A legenda cresceu no combate à Arena, que representava a tirania.
Na transição para a democracia, com o ‘P’ já incorporado ao nome, o PMDB recepcionou em seus quadros José Sarney, um apoiador da ditadura que viraria presidente graças a uma cilada das bactérias que invadiram o organismo de Tancredo Neves.
Ironicamente, o PSDB foi fundado por um grupo dissidente que abandonou o PMDB sob o argumento de que não suportava mais a ideia de conviver com gente como Orestes Quércia, identificado como um típico político brasileiro, grosso modo falando.
O tucanato já teve uma recaída quando indicou ministros e apoiou o governo de Michel Temer, outro vice com destino de versa, que levou o PMDB ao Planalto sem passar pela pia batismal das urnas.
No governo Temer, o PMDB decidiu voltar a se chamar MDB. Recorreu a um truque antigo, ensinado pelos portugueses. Rebatiza-se o Cabo das Tormentas de Cabo da Boa Esperança e imagina-se que tudo será diferente.
Agora, com os presidenciáveis João Doria e Simone Tebet encalhados nas pesquisas, PSDB e MDB discutem uma federação, que é um casamento político com prazo de validade de pelo quatro anos.
Os interesses regionais conspiram contra esse arranjo. Entretanto, a junção se vingar ficará demonstrado que em política, como na vida, as pessoas casam por falta de juízo, separam por falta de afinidade e casam novamente por falta de memória.
A junção de MDB e PSDB seria uma espécie de triunfo da amnésia. Deve-se o fenômeno ao encolhimento das legendas. Já foram grandalhonas. Tornaram-se médias. Encaminham-se para o nanismo.
