Quando alguém fala que quer trilhar carreira na política, é comum conforme reportagem do Estadão, que já se pense que essa pessoa vai se candidatar a um cargo de vereador, prefeito, deputado, senador ou até mesmo presidente. Mas existem outras maneiras de se trabalhar com política sem precisar passar pelo voto popular. Nos gabinetes espalhados por todo o País, há inúmeros profissionais de variadas áreas ajudando a construir a política nacional.
A jornalista Luanna Martins, de 26 anos, conta que jamais se imaginou trabalhando na política, mas essa visão acabou mudando enquanto buscava sua primeira experiência profissional. “Eu comecei a trabalhar com política por acaso. Ainda na graduação, acabei participando de um concurso do governo do Estado de São Paulo voltado para vagas de estágio.”
Aprovada, ela acabou ingressando no departamento de comunicação da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). “Foi ali que eu tive a oportunidade de conhecer o universo da política, comecei a gostar bastante, entender um pouco mais e ver como eram as possibilidades de crescimento.” A partir dali, Luanna conseguiu um novo estágio na TV Alesp, onde, depois de formada, conseguiu ser efetivada como produtora.
Ainda em início de carreira, ela queria trabalhar no Poder Legislativo só que dentro de um mandato, porém não sabia como conseguir. “Acabei sofrendo bastante porque não tinha referências nem caminhos tão abertos. Saí da TV e fui trabalhar com comunicação corporativa. Fui meio que abandonando esse sonho.” Em 2018, nas eleições, uma colega da faculdade a avisou de uma oportunidade na assessoria parlamentar de uma deputada eleita.
Ela participou de um processo seletivo do próprio mandato e foi aprovada. Começou como analista de mídias sociais e hoje está coordenando a equipe de comunicação. “O que mais me inspira é saber que estou em uma posição onde posso, de fato, fazer a diferença”, conta. Além disso, Luanna percebe que muitos jovens que querem trabalhar com política não sabem por onde começar. “As pessoas acham que é preciso ser parente de algum político, então me procuram para saber como consegui.”
Foi também na faculdade que o cientista social Luiz Soares, de 23 anos, descobriu que poderia seguir no ramo político. Ele chegou a estagiar durante nove meses no departamento jurídico de um deputado estadual na Alesp e, um tempo depois, foi convidado a retornar ao mandato para uma função de nível pleno na área de comunicação.
“A equipe já conhecia o meu trabalho e acreditou que eu me daria bem nessa outra função, então eu fui readmitido.” Agora, ele quer continuar crescendo e se aprimorando na área.
“Pretendo fazer mestrado em Ciência Política, pois criei uma paixão pelo tema. A partir do momento que eu assumi isso como uma missão, eu entendi que é minha obrigação continuar fazendo com que o sistema político se aprimore por meio do meu trabalho”, conta. Para ele, o que desperta mais identificação nesse emprego é poder trazer novas perspectivas e visões para dentro da discussão política.
Caminhos para entrar na carreira política
Mesmo com os receios e estigmas em relação à política no Brasil, há interesse de jovens em ocupar esse espaço, inclusive como forma de melhorá-lo. “Até a polarização política que a gente vê atualmente é um dos fatores que fazem com que as pessoas queiram ficar mais próximas e participar mais”, conta Luciana Elmais, sócia da Legisla Brasil, instituição sem fins lucrativos que recruta profissionais para vagas em mandatos.
No seu primeiro ano de atuação, em 2017, a Legisla recebeu 300 inscrições de profissionais interessados. No ano seguinte, esse número subiu para 25 mil – e hoje já passa de 50 mil. Luciana conta que há um certo desconhecimento sobre essas chances que vão além do trabalho voluntário ou de ser o político em si. “Essas pessoas não estavam vendo uma oportunidade de entrada e não tinham acesso a esse espaço antes.”
Dentro da assessoria parlamentar, existem vagas em diferentes áreas. A equipe acaba sendo montada de acordo com cada parlamentar, então é possível ter profissionais de áreas jurídicas e de comunicação até especialistas em economia, ambiente, saúde e educação. Além disso, também é possível trabalhar dentro dos próprios partidos políticos.
“O primeiro ponto para trabalhar em uma equipe parlamentar é ter alinhamento ideológico, porque você vai estar tentando construir um projeto de cidade, Estado ou País, então é preciso concordar com aqueles ideais”, reforça Luciana. Como cada vaga terá sua especificidade, então as exigências – como formação e requisitos técnicos e comportamentais – podem variar. Existem chances também para estágio e até para cargos de nível médio.
Ela também diz ser importante desmistificar que para esse tipo de carreira é preciso ter conhecimentos muito específicos. “Se você for um publicitário que quer trabalhar em uma agência, será necessário ter uma série de habilidades. Para a política não vai ser diferente.”
Os salários variam de acordo com cada Estado, mas, segundo Luciana, um profissional em início de carreira pode ganhar entre R$ 3 mil a R$ 4 mil. Em alguns casos, esses valores podem passar de R$ 15 mil.
A contratação é pelo chamado cargo comissionado, então as regras também podem mudar conforme a localidade. “Essas vagas são abertas normalmente e elas nem sempre estão preenchidas”, explica. Uma dica é procurar um parlamentar com quem o candidato se identifique para perguntar sobre as oportunidades e deixar seu currículo. Além disso, é possível se inscrever no site da Legisla Brasil para processos seletivos, inclusive para estágio e banco de talentos.
Mariana Lopes, de 25 anos, já gostava do tema e, por isso, optou por fazer uma graduação em Ciência Política. Já na faculdade, ela pôde participar de projetos, trabalhos voluntários e até de uma empresa júnior.
Em 2019, participou de um processo seletivo na Legisla e foi contratada como analista de políticas públicas em um gabinete compartilhado. Agora, está em um cargo de coordenação. “Não tem que chegar lá sabendo de tudo, a maioria das coisas se aprende na prática. É uma oportunidade para se desenvolver e a gente precisa entender que a política é espaço para todo mundo.”