Embora caciques nacionais insistam para que os partidos firmem coligações para as eleições de outubro, o cenário eleitoral do Rio Grande do Sul segundo a Folha de S. Paulo, chega às vésperas das convenções partidárias com poucas negociações frutíferas e tendência a múltiplas candidaturas ao governo do estado com pouca chance de sucesso.
Deve se repetir um cenário pulverizado de candidaturas nanicas semelhante ao das eleições municipais de Porto Alegre de 2020, quando 13 partidos lançaram candidatos e apenas 3 tiveram votação acima de 10%. Por ora, 11 pré-candidatos estão lançados.
Em cinco partidos que ainda negociam coligações, o problema é o mesmo: MDB, PDT, PSB, PSOL e PT relutam em aderir a candidaturas em que não sejam cabeças de chapa. O impasse influencia indiretamente também partidos dispostos a negociar outros postos nas chapas, como PC do B e PSD.
O exemplo mais emblemático está na esquerda. Embora Lula (PT) tenha se despedido do RS em junho implorando por acerto, o PT não abdica de ter como cabeça de chapa o deputado estadual Edegar Pretto.
Convicto de que tem mais estatura política do que Pretto, o ex-deputado federal Beto Albuquerque (PSB) se aproximou do ex-colega de Câmara Federal Vieira da Cunha (PDT), mas o pedetista tampouco topou não ser o candidato a governador.
Na quarta-feira (13) os dois se reuniram, mas concluíram estarem negociando de mãos amarradas.
“Não importa se eu ou o Beto topamos não ser cabeça de chapa se os nossos partidos não toparem também. Então combinamos de voltar a conversar no dia 20 se nossas legendas nos autorizarem a chegar a um acordo, mas desde que haja disposição mútua de abdicar da vaga se for o mais conveniente”, declara Vieira.
Até aqui, o maior objetivo da candidatura de Viera pelo PDT é dar palanque a Ciro Gomes (PDT), daí o problema de participar de uma chapa também simpática a Lula e Geraldo Alckmin (PSB). Já considerando como remota a hipótese de ter o PSB na chapa, o PT ofereceu a vaga ao Senado ao PSOL, mas mesmo o PSOL diz que só toparia coligação como cabeça de chapa. Ou nem isso.
“Se o PSB entrar por uma porta, nós saímos pela outra. A chance de nos coligarmos com o PT acaba se houver na mesma coligação um partido que não é de esquerda. O PSB compôs o governo privatizador do Eduardo Leite”, diz Pedro Ruas, vereador em Porto Alegre e pré-candidato do PSOL.
Mais ao centro, o União Brasil anunciou na quarta apoio a Eduardo Leite (PSDB).
Embora ressalte que “não faz política de recados”, o ex-governador tucano remeteu alguns ao MDB na cerimônia em que foi anunciada a aliança.
O primeiro foi mencionar apoio explícito à pré-candidatura de Luciano Bivar (União Brasil) à Presidência, uma reação ao MDB local não ter cumprido sua parte no acordo que viria do apoio do PSDB nacional a Simone Tebet (MDB).
Em seguida, recordou duas eleições em que o PSDB apoiou o MDB.
“Eu não considero que foi indigno do PSDB abrir mão de uma candidatura nacional, ou que o PSDB foi indigno ao ser vice de Antonio Britto [1995-1998] e vice de Germano Rigotto [2003-2006]. O PSDB já apoiou candidatos mesmo participar da composição da chapa, como a senadora Ana Amélia Lemos [a governadora, em 2014, pelo PP]”, disse Leite.
Até aqui, o MDB gaúcho resiste à pressão nacional e mantém candidatura do deputado estadual Gabriel Souza. O partido terá sua convenção em 31 de julho, mas promete definição antes dessa data.
As vozes em apoio a Leite se avolumaram na semana passada. Se o apoio se concretizar, será a primeira vez após dez eleições que o MDB não lançará candidatura própria no RS.
A indefinição na chapa encabeçada pelo PSDB se estende ao Senado. Apesar de Leite ter comparecido ao lançamento da pré-candidatura de Ana Amélia Lemos, pelo PSD, os tucanos passaram a considerar o Podemos do senador Lasier Martins, que concorre à reeleição e também compôs o governo Leite.
Já Ana Amélia, cujo partido tem convenção apenas em 1º de agosto, valoriza o passe negociando com MDB e com a dupla PDT e PSB.
A ex-senadora já se encontrou com Viera da Cunha três vezes. Ouviu do pedetista o argumento de que sair candidata em uma chapa de centro-esquerda pode ser mais interessante para as pretensões dela em uma eleição em que o principal concorrente é Hamilton Mourão (Republicanos), da chapa de direita de Onyx Lorenzoni (PL).
O flanco de atacar Mourão pela esquerda se abriu com a saída de Manuela D’Ávila (PC do B) do cenário. Cogitada para o Senado, mas insatisfeita com a divisão da esquerda, a ex-deputada desistiu de concorrer e trabalhará na candidatura de Alexandre Kalil (PSD) em Minas Gerais.
“Em uma eleição de apenas um turno, não dá para errar. Por isso vamos fazer uma pesquisa qualitativa para entender o que o eleitor gaúcho quer do seu candidato ao Senado e então compor uma aliança. O resultado sai em cerca de duas semanas”, declara Ana Amélia.
Até lá, a ex-senadora elogia Ciro e diz não ter problemas em dividir palanque com partidos que ela considera mais de centro do que de esquerda. Se firmar aliança com a dupla PDT/PSB, pode reencontrar Geraldo Alckmin em um palanque bem diferente de 2018, quando compuseram chapa à Presidência da República por PSDB e PP e foram superados pela onda do bolsonarismo.