O espólio de antigos territórios petistas nos municípios do país agora ficará sob influência de forças regionais de diferentes partidos, geralmente alinhadas com os governadores conforme reportagem da Folha de São Paulo,
Do auge vivido em 2012, quando elegeu 650 prefeitos Brasil afora, o partido se retraiu agora para 183 cidades —queda de 72% em oito anos.
Municípios que deram a vitória ao PT naquele ano agora elegeram, por exemplo, tucanos em São Paulo, o PSD no Paraná e o MDB no Pará.
São siglas que ganharam forças nesses estados impulsionadas pela permanência no governo do estado (que, pelo peso político imposto, tende a atrair para o seu lado candidatos competitivos).
Em ao menos seis cidades, prefeitos que se elegeram pelo PT há oito anos voltaram a ganhar agora, mas por outros partidos.
A reportagem compara a situação atual com a de 2012 porque foi o ano em que o PT mais conseguiu se espalhar pelo país nas eleições municipais e que também coincidiu com o ápice da popularidade do partido na Presidência da República.
No pleito municipal de quatro anos atrás, o PT já estava em declínio e encolheu à época 60% na quantidade de prefeitos eleitos.
A Bahia é um dos casos mais expressivos da mutação dos antigos territórios petistas. Mesmo tendo o governador desde 2007, o partido não conseguiu mais fazer frente a outras forças políticas no interior e passou de mais de 90 prefeituras obtidas há oito anos para 32 agora.
Curiosamente quem galgou a maior parte desse espólio foi um aliado do PT baiano, o PSD, que tem no estado o senador Otto Alencar o principal líder. Outros beneficiários foram o DEM, do prefeito de Salvador, ACM Neto, e o PP.
Em São Paulo, tinham sido 74 prefeituras conquistadas em 2012 ante apenas 4 agora —incluindo dois municípios grandes da região metropolitana da capital, Diadema e Mauá.
Vinte das antigas cidades do PT paulista irão a partir de 2021 para o PSDB, partido hegemônico no estado desde os anos 1990. Também se aproveitaram do encolhimento o DEM e o MDB.
No Sul do país, conhecido por ter se tornado um reduto antipetista ao longo da década, forças locais mais tradicionais também cresceram às custas do enfraquecimento petista.
No Rio Grande do Sul, que chegou a eleger governadores do partido em duas ocasiões, a quantidade de prefeitos eleitos caiu de 72, em 2012, para 23, agora. Quem se beneficiou com isso foram o MDB, PP e PDT, três agremiações de capilaridade histórica na região.
Uma das maiores cidades do estado, Canoas, de 348 mil habitantes, será governada por um ex-prefeito pelo PT.
Filiado desde os anos 1980, Jairo Jorge da Silva se projetou como aliado do ex-governador petista Tarso Genro, mas decidiu trocar de legenda durante a crise de 2016. Passou pelo PDT e agora se elegeu pelo PSD.
Eleitos em 2012 pelo PT e que hoje estão no PSD também venceram na paulista Joanópolis, na paranaense Cruz Machado e na paraense Itupiranga.
Conhecido por integrar o bloco parlamentar chamado de centrão, o PSD, no ranking geral de eleitos pelo país, ficou em terceiro lugar.
Em Agrolândia (SC), o eleito, ex-prefeito petista, foi para o PP, e, em, São Sebastião da Boa Vista (PA), o vencedor da disputa se mudou para o PL.
Em 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, ao menos 20% dos prefeitos que tinham sido eleitos pelo partido haviam deixado a sigla.
Mesmo com quatro vitórias seguidas nas eleições presidenciais, o PT sempre teve uma dificuldade histórica de ampliar seus domínios no âmbito dos municípios.
Nesse quesito, o MDB tradicionalmente possui mais capilaridade e alcance. Neste ano, novamente o MDB foi o primeiro no ranking de prefeitos eleitos.
Pela primeira vez desde a redemocratização, o PT não venceu em nenhuma capital —ainda concorre em Macapá (AP), onde a eleição foi adiada no início do mês por causa de um apagão. Não fez prefeitos em quatro estados: Amapá, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Roraima.
A partir de 2021, a Bahia será o principal estado com prefeituras petistas, com 32 cidades. Anteriormente, era Minas Gerais, onde o partido agora só fez 28 prefeitos —3% do total do estado.
Houve um forte recuo até em um dos principais redutos eleitorais petistas no país, o Piauí, onde o governador Wellington Dias está em seu quarto mandato.
No estado, o presidenciável Fernando Haddad teve 77% dos votos válidos no segundo turno de 2018, marca mais alta dele no país.
O PT fez 24 prefeituras no Piauí neste ano, com um saldo negativo de 14 em comparação com a eleição municipal de 2016.
Nos estados onde cresceu, a alta foi pouco expressiva. No Ceará, governado pelo também petista Camilo Santana, o partido subiu de 15 para 18 prefeitos. Também subiu no Sergipe (+3), Tocantins (+2) e Rio Grande do Norte (+1).
No estado do Rio, terceiro colégio eleitoral do país, foi apenas um prefeito eleito, em Maricá.