Oito localidades necessitam de atenção especial porque reúnem vários fatores considerados críticos para transmissão da doença
Bairros mais pobres de Salvador têm maior risco de proliferação do coronavírus. A conclusão é de nota técnica produzida por pesquisadores do grupo GeoCombate Covid-19, coordenado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), publicada nesta última segunda-feira (30).
Segundo o documento publicado pelo jornal A Tarde, oito localidades necessitam de atenção especial porque reúnem vários fatores considerados críticos para transmissão da doença, como ocupação domiciliar, interação social produzida nas viagens de transporte público da capital baiana, índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM), índice de vulnerabilidade social e áreas com abastecimento de água e esgotamento sanitário inadequado. São eles: Tororó, Vila Canária, Santa Cruz, Pirajá, Nova Constituinte, Santa Luzia, Boa Vista de São Caetano e Sussuarana.
A nota técnica alerta que há perigo potencial e risco associado aos impactos da Covid-19 “em um grande número de bairros de Salvador”. “Esperamos que os alertas apontados sejam também utilizados como base técnica para a promoção de políticas públicas assertivas frente à crise. Boa ciência e gestão territorial podem salvar vidas e, como consequência, minimizar prejuízos de diversas ordens nesses cenários”, diz trecho do documento.
O trabalho, que envolveu 23 pessoas, entre autores e colaboradores, elaborou um primeiro mapa das 10 localidades com maior perigo de disseminação da doença. Para chegar a ele, os pesquisaram fizeram análise do fluxo de transporte de viagens rígidas – aquelas com pouca chances de mudança no roteiro, como as para o trabalho – cruzando os dados com a prevalência de casos em bairros da capital baiana. Assim, chegaram a um ranking de como a movimentação de pessoas pela cidade pode transmitir o vírus. A lista é composta por Tororó, Vila Canária, Imbuí, Santa Cruz, Patamares, Santo Agostinho, Vitória, Pirajá, Nazaré e Matatu.
Outro ranking, entre os cinco criados, traz a probabilidade de disseminação devido à população vivendo em domicílios com mais de duas pessoas por cômodo. Alguns bairros se repetem na lista, composta por Tororó, Vila Canária, Santa Cruz, Nova Constituinte, Pirajá, Santa Luzia, Boa Vista de São Caetano, Sussuarana, Engenho Velho da Federação e Cosme de Farias. Matéria publicada nesta terça, 31, por A TARDE mostra que mais de 123 mil soteropolitanos precisam dividir o dormitório com quatro ou mais pessoas.
A partir do cruzamento das localidades com maior prevalência de Covid-19 e os fatores já citados, os pesquisadores descobriram que os riscos podem ser potencializados, fazendo com que bairros de menor perigo em algumas situações tenham mais chances de disseminação, a depender dos quesitos associados.
De acordo com a equipe, o objetivo da nota técnica é ajudar o poder público a definir quais áreas da cidade são mais prioritárias na concentração de esforços contra a pandemia. “Em alguns momentos, vão faltar recursos, como leitos e testes. Agora já sabemos quem pode ser mais afetado e como direcionar políticas públicas para essas áreas”, afirmou o professor Jorge Ubirajara, pesquisador em Engenharia de Transportes e Ciência de Dados da Ufba, um dos autores do estudo.
A pesquisa começou na segunda-feira passada e foi finalizada no domingo. Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram dados da prefeitura e do governo do Estado sobre casos de coronavírus, coletados em 23 de março, além de pesquisa sobre destinos da população no transporte público e indicadores do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).
Os pesquisadores admitem que dados utilizados no levantamento, alguns de 2010 e 2012, estão defasados, mas defendem que a metodologia usada deu a maior precisão possível ao documento. Eles solicitam que a prefeitura divulgue informações mais detalhadas sobre a contaminação nos bairros para melhorar a qualidade dos resultados. A nota será encaminhada aos governos municipal e estadual. O objetivo agora é ampliar o estudo para cidades no interior do estado