O ano letivo vem aí e você, leitor, que tem filho entrando na adolescência precisa saber: apoiada pela maioria da população em pesquisas de opinião, a lei que restringe o uso de celular nas escolas, responsável por unir a direita e a esquerda no Congresso, vem tomando uma surra de menções negativas na internet pelo público jovem. É o que mostra um relatório da empresa de marketing digital AM4, do empresário Marcos Carvalho, responsável pela estratégia da campanha de Jair Bolsonaro, em 2018, e do petista Jerônimo Rodrigues, na Bahia, há dois anos.
Carvalho tem em mãos monitoramentos óbvios que mostram a insatisfação das pessoas com a inflação de alimentos e a crise do Pix, mas acende o alerta para a proibição dos celulares, que até então aparecia como apoiada por 63% da população, segundo o Datafolha. O monitoramento do tema no X, TikTok e Instagram, feito neste mês em meio à sanção do projeto de lei pelo presidente Lula, mostrou praticamente um empate técnico entre menções positivas (42%) e negativas (45%), junto a 13% de postagens consideradas neutras. Quando o público analisado é o de jovens de 17 anos, a reação de incômodo com a proposta explodiu: as menções negativas marcaram 79%, as positivas ficaram em 10%, e as neutras,11%. As buscas sobre o assunto aumentaram 300% nos últimos sete dias e a expectativa é de crescimento ainda maior em fevereiro, quando as aulas, de fato, voltarem.
Basicamente, quem acha boa ideia restringir o uso de celular nas escolas destaca benefícios como maior concentração, melhor desempenho acadêmico e redução de distrações. “Muitos apoiam a medida como essencial para criar um ambiente mais propício ao aprendizado”, diz o relatório da AM4. Já no caso daqueles que reprovam a ideia, há preocupações sobre dificuldades na comunicação entre pais e alunos, limitações no uso de tecnologias educacionais e impacto na dinâmica social dos estudantes. “Muitos alunos manifestam descontentamento, com alegações de que a medida poderia impedir denúncias de assédio e irregularidades nas escolas. Outros acreditam que será uma lei sem efeito prático”, diz o estudo.
Relator do projeto no Congresso e secretário de Educação de Eduardo Paes, Renan Ferreirinha reconhece que o grande desafio da implementação da nova lei no Brasil, a partir de fevereiro, está no público de 17 anos. No Rio, as regras já existem desde o agosto de 2023. Ele me enviou uma série de vídeos do TikTok de jovens desta idade com milhares de seguidores reclamando das medidas na internet. “Vocês acham mesmo que tirando o celular as pessoas vão prestar atenção nas aulas?”, diz uma jovem de 16 anos com 300 mil seguidores. “Onde meu celular não é bem-vindo eu também não sou bem-vindo. Eu não vou ficar oito horas em uma sala de aula sem dar uma olhada nas minhas redes sociais, eu não consigo”, diz outro estudante com 62 mil curtidas em poucas horas.
Proibição de celulares: Pesquisa em escolas do Rio mostra ganhos após veto, mas implementação causa dúvidas
“Crianças na faixa de 12 anos obedecem mais fácil. De 14 para cima há uma negação maior do público com a medida. É um espírito de ‘no meu celular, ninguém mexe’. Com o tempo, eles vão entendendo. Nós, que já adotamos a política há mais de um ano, notamos que depois os estudantes passam a se integrar mais ao espaço escolar, a usar mais as quadras esportivas. Também não adianta criar um sistema de vigilância, como alguns senadores quiseram obrigar no projeto: colocar câmeras para monitorar se as crianças e adolescentes estão cumprindo seria um erro”, diz Ferreirinha, lembrando as exceções que estão previstas na lei para o uso de celular. Ficou permitido usá-lo em situações de estado de perigo, de necessidade ou caso de força maior; para fins estritamente pedagógicos; e para garantir acessibilidade, inclusão e atender às condições de saúde dos estudantes.
Secretário de educação de Tarcísio de Freitas, Renato Feder também reconhece a resistência, mas encara com otimismo a volta às aulas no próximo mês. “Para o ensino médio, a restrição realmente é mais delicada. O jovem sabe que o celular atrapalha na aula, mas não quer ser o único a não usar. Quando a sala inteira está sem o aparelho, fica muito mais fácil. É nesse princípio que estamos nos baseando. O jovem vai perceber que não tem, assim como os amigos”, diz Feder.
Colunista do jornal O Globo, o pediatra Daniel Becker prevê contratempos no início da aplicação das novas regras, mas acha natural a resistência inicial. “Haverá um período de abstinência, sim, nas primeiras semanas, muita reclamação e tentativas de burlar a regra. Será preciso apoio psicológico, vai ter gente com crise de ansiedade e sintomas de pânico, é tudo previsível. Depois de um certo período, as pessoas voltam a gostar do mundo real. Tem coordenador me relatando que os adolescentes estão voltando a jogar adedanha no recreio”, diz Becker, que é defensor do recolhimento do celular antes da aula em vez de o aluno guardar o aparelho na mochila.
Procurei o MEC para falar sobre o tema e recebi números que dão conta do tamanho do desafio para fazer a lei pegar. Pesquisa TIC Kids feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação aponta o tamanho da penetração do celular entre os jovens no Brasil: de 9 a 10 anos, 67% possuem; de 11 a 12, 79%; de 13 a 14, 77%; e, de 15 a 17, 93%. Ter perfil em alguma rede social obedece a mesma proporção: de 9 a 10 anos, 60% já têm um “@” para chamar de seu; de 11 a 12, 70%; de 13 a 14, 93%; de 15 a 17, 99%. São eles que, a partir de fevereiro, estarão sendo observados por toda a comunidade de educadores brasileiros.
Zema, Adélia Prado, ‘eu ouvo’ e agora o Perse: muito trabalho pela frente para o novo marqueteiro
Eu e a repórter Luiza Marzullo entrevistamos o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, para a edição do GLOBO do último domingo, e ele nos surpreendeu ao dizer que não sabia o que era o Perse, o bilionário programa de incentivo fiscal criado pelo governo Jair Bolsonaro e mantido por Lula para atender a empresas de eventos, bares e restaurantes afetados pela pandemia.
Não é a primeira vez que Zema comete uma gafe desde o início do seu mandato, em 2019. Lembro aqui duas de maior repercussão. Em 2023, quando foi presenteado com um livro da escritora mineira Adélia Prado, após entrevista de uma rádio de Divinópolis, perguntou sobre a autora de mais de 20 livros publicados: “Ela trabalha aqui?”. Em 2020, o principal nome do partido Novo participava de uma entrevista ao vivo na CNN Brasil, quando foi questionado pela âncora Monalisa Perrone se estava ouvindo bem as perguntas. A resposta foi: “Ouvo muito bem”, para delírio das redes sociais na ocasião.
Conforme o jornal O Globo publicou na última terça-feira (21), a comunicação de Zema passará por mudanças. O governador está fechando contrato com o marqueteiro Renato Pereira, que no ano passado fez a campanha de José Sarto, em Fortaleza, Marcelo Freixo, em 2022, fora os trabalhos com Sérgio Cabral e Eduardo Paes na década passada. A ideia é eleger o vice-governador Matheus Simões como seu sucessor e ser candidato a presidente da República para o partido Novo não morrer com a cláusula de barreira. Só se for vice de Tarcísio de Freitas, como o presidente do seu partido, Eduardo Ribeiro, já cogitou para essa newsletter, Zema pulará fora do projeto presidencial. Caso contrário, quer mesmo vir ao Planalto em 2026, ainda que a raia da direita esteja congestionada.
Um presente especial de Natal, uma das minhas melhores leituras dos últimos tempos. O livro de 2021 conta a história de uma psicóloga que precisa demais de terapia depois que um namorado termina da maneira mais sincera possível: não quer se relacionar com alguém que já tem um filho pequeno. Paralelas ao enredo principal, as histórias dos pacientes da personagem protagonista: um homem machista da indústria do cinema que acha todos ao redor idiotas e que se distancia cada vez mais da esposa; uma mulher com doença terminal que não suporta o jeito como as pessoas lidam com a sua situação; e Wendell, o terapeuta da terapeuta, afinal, como diz Lori: “Fato pouco discutido: terapeutas fazem terapia”. São muitas as reflexões sobre a profissão e o dia a dia da relação com o paciente. Abaixo, três trechos do livro que curti marcar:
“Os terapeutas falam muito em como o passado orienta o presente, como nossas histórias afetam a maneira como pensamos, sentimos e nos comportamos, e como, a certa altura da vida, temos que abrir mão da fantasia de criar um passado melhor. Se não aceitarmos a noção de que não existe um refazer, por mais que tentemos levar nossos pais, irmãos ou companheiros a consertar o que aconteceu anos trás, nosso passado nos manterá empacados. Mudar o nosso relacionamento com o passado é básico na terapia.”
“Terapia é um trabalho puxado, e não apenas para o terapeuta. Isso acontece porque a responsabilidade pela mudança encontra-se diretamente com o paciente. Se você espera uma hora de um balançar de cabeça compreensivo, veio ao lugar errado. Os terapeutas serão solidários, mas nosso apoio é para o seu crescimento, não para a sua opinião negativa sobre seu companheiro.”
“A maioria de nós vem à terapia sentindo-se encurralado, aprisionado por nossos pensamentos, comportamentos, casamento, trabalho, medos ou o passado. Às vezes aprisionamo-nos com uma narrativa de autopunição. Se tivermos uma escolha entre acreditar em uma de duas coisas, ambas das quais podendo ser comprovadas: sou incapaz de despertar afeto ou sou amado, frequentemente escolhemos a que nos faz sentir mal. Por que mantemos nossos rádios sintonizados nas mesmas estações com estática (a estação ‘a vida de todo mundo é melhor que a minha’, ‘não posso confiar nas pessoas’, ‘nada dá certo para mim’) em vez de girar o dial para lá ou para cá? Mude a estação. Contorne as barras. Quem está nos impedindo, senão nós mesmos?”
Faz muito, muito tempo que o senador Romário não fala sobre o seu partido, o PL, Jair Bolsonaro e as acusações de tentativa de golpe, além de vários outros assuntos envolvendo política. Fora do Congresso, a vida do parlamentar, no entanto, segue agitada como presidente do América e agora comandando um programa de entrevistas no YouTube. A estreia com Neymar repercutiu na imprensa principalmente pelo reconhecimento das tretas com Mbappé no PSG e pela infeliz colocação de que jogaria no lugar de Rivaldo na seleção de 2002. Destaco mais uma passagem: prestes a completar 33 anos em 5 de fevereiro, Neymar respondeu a Romário o que mais gosta de fazer na vida: jogar Counter Strike, um game de tiros, pela internet com os amigos.