A cirurgia sofrida pelo presidente Lula da Silva (PT) na madrugada da terça-feira (10) jogou luz conforme Vera Rosa, colunista do Estadão, sobre a sucessão de 2026 para o Palácio do Planalto. Muito antes de Lula ser submetido à drenagem de um hematoma provocado por hemorragia intracraniana, porém, o assunto já movimentava os bastidores da política e até da economia.
Nem mesmo nas fileiras do PT há certeza de que o presidente concorrerá ao quarto mandato, daqui a dois anos. Além disso, para cada interlocutor ele afirma uma coisa. Tanto é assim que dirigentes do partido produziram há tempos uma frase para definir o seu estilo. Diz o PT que “Lula é como a Bíblia: cada um interpreta como quer”.
Prestes a completar 45 anos em 10 de fevereiro de 2025, o PT precisa de Lula para dar continuidade a seu projeto de poder. Uma ala da sigla jura que ele é “candidatíssimo”, mesmo porque nunca deixou nenhuma prata da casa ascender, e chama de preconceituosos os que se referem à sua idade. Hoje com 79 anos, o presidente terá 81 em 2026.
Outro grupo observa, no entanto, que essa definição depende do cenário até lá: não só da saúde de Lula, mas de como estará o governo e, principalmente, a economia. Esse segundo time, mais cauteloso, já dizia isso antes de o presidente levar um tombo no Palácio da Alvorada e bater com a cabeça na banheira, em 19 de outubro.
Embora tudo caminhe para a rápida recuperação de Lula, não são poucos os petistas que consideram provável ele próprio começar a montar um “plano B” para a sua sucessão. Em junho, o presidente disse que quer concorrer a novo mandato para evitar que “trogloditas” voltem a governar o País. No mês passado, porém, ele afirmou esperar que não seja necessário entrar na disputa. “Eu não preciso ser o candidato”, desconversou.
Nesse caso, todas as apostas recaem sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em 2018, quando estava preso em Curitiba, Lula queria que Jaques Wagner (PT-BA) fosse candidato à Presidência no seu lugar. Alegou que ele havia vencido duas eleições para governador da Bahia e representava o Nordeste.
Wagner retrucou e disse que não estava preparado. Pediu um tempo para pensar, mas Lula antecipou o que ocorreria. “Vamos chamar o Haddad porque o Alemão não quer”, avisou ele a amigos, referindo-se a Wagner.
A partir daí, Lula se aproximou cada vez mais de Haddad, o mais tucano dos petistas que, apesar de enfrentar críticas no próprio PT, é, até agora, o seu herdeiro natural.
Em um país onde até o passado é incerto, como filosofava o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, não dá para cravar nada. A esquerda não sabe quem será seu candidato em 2026, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está inelegível até 2030 e não quer deixar a grama conservadora crescer ao seu redor e o centro continua “apagado”.
Lula sabe que a briga por sua cadeira começa a ficar mais quente no ano que vem, quando se inicia a segunda metade do governo. Mas é somente a partir de sua decisão sobre ser ou não ser candidato que as peças do jogo de 2026 vão se mover. E todos os partidos estão à espreita. Como diria Chacrinha, esse programa só acaba mesmo quando termina.