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Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, faz pronunciamento na Casa Branca - Foto: Reuters
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segunda-feira 5 de setembro de 2022 às 05:07h

Joe Biden quer transformar eleições legislativas em referendo sobre Trump

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Um referendo sobre Donald Trump e suas ideias “extremistas” em vez de um voto sobre Joe Biden e seus defeitos: é assim que o presidente americano gostaria que seus compatriotas enxergassem as eleições legislativas de meio de mandato, que renovam a Câmara Baixa e parte do Senado, previstas para novembro.

O democrata de 79 anos, que tem baixa popularidade, embora venha crescendo nas pesquisas, sempre repete: “Não me comparem a Deus, me comparem à alternativa”. Uma forma sutil de dizer que seus defeitos são menores se comparados aos de seu principal adversário, o ex-presidente Donald Trump.

De fato, Biden atacou seu antecessor e os republicanos “extremistas” em seu discurso de quinta-feira na Filadélfia, onde classificou os seguidores do MAGA (Make America Great Again, bordão de Trump) como inimigos da democracia.

Com uma virulência incomum, o presidente proclamou: “Donald Trump e os republicanos do MAGA representam o extremismo que ameaça a própria fundação de nossa República”. Os representantes da direita radical “se alimentam do caos. Não vivem à luz da verdade, mas à sombra da mentira”.

Nem todos são uma ameaça

No entanto, o presidente garantiu nesta sexta-feira que não fazia referência a todos os eleitores de Trump, mais de 74 milhões de pessoas em 2021. “Não vejo todos os apoiadores de Trump como uma ameaça para a democracia”, declarou Biden a um grupo de jornalistas na Casa Branca.

“As pessoas que votaram em Donald Trump e o apoiam hoje não votaram para atacar o Capitólio, não votaram para anular as eleições”, completou.

O The New York Times ofereceu uma análise da postura do presidente: “Se perguntarem aos americanos se apoiam o Sr. Biden, é possível que digam que não. Se perguntarem se o apoiam contra o Sr. Trump, só podem responder que sim. Pelo menos essa é a teoria da Casa Branca”.

E a Casa Branca também está por trás da teatralidade do evento na Filadélfia, onde Biden discursou ao pé do prédio onde a Constituição americana foi adotada, sob jogos de luz vermelha e sombras profundas, e com dois soldados atrás do presidente.

O uso destas simbologias para um discurso de campanha foi questionado não só por conservadores.

Um dos porta-vozes da Casa Branca, Andrew Bates, afirmou no Twitter que as falas de Biden são “alertas bem fundamentadas” e “tudo menos políticas”.

No entanto, ao abordar questões como a defesa da democracia e do direito ao aborto, Biden tenta ofuscar os argumentos favoritos usados pela campanha republicana sobre economia e crime.

Estratégia e riscos

As eleições de meio de mandato sempre representam um teste para o partido no poder, que nem sempre consegue manter ou aumentar sua posição no Congresso.

Para Wendy Schiller-Kalunian, cientista política da Universidade de Brown, a estratégia dos democratas não é isenta de riscos.

“Os grupos-chave desta eleição são os simpatizantes republicanos dos subúrbios residenciais e os eleitores independentes” mais inclinados à direita, analisou.

“Se Biden fizer com que tudo seja sobre Trump, pode dar errado e encorajar este eleitorado a votar” nos republicanos, acrescentou Schiller-Kalunian, professora de assuntos públicos e internacionais.

Samuel Goldman, professor de ciência política da Universidade George Washington, estima que “os eleitores indecisos decidem sobre questões específicas como a economia” e que a prioridade de Biden é “galvanizar os apoiadores democratas”.

Em suma, Biden enfrenta o mesmo dilema de todos os presidentes americanos: ser ao mesmo tempo chefe de Estado e líder de um partido.

“Devido à polarização ideológica, a fragmentação da mídia e a queda da confiança nas instituições, é cada vez mais difícil desempenhar os dois papéis ao mesmo tempo”, analisou o cientista político.

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