O presidente americano Joe Biden desembarcou no Reino Unido segundo Vivian Oswald,, da RFI, para o que está sendo chamada de uma mini visita de Estado, que deve durar menos de 24 horas. Ele está a caminho da Lituânia, onde participa de reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para tratar dos desdobramentos da guerra russa na Ucrânia. Biden será recebido, nesta segunda-feira (10), pelo primeiro-ministro Rishi Sunak em Londres e pelo rei Charles III, no Castelo de Windsor, a 50 quilômetros da capital.
Espera-se que o soberano, que está acima da política no Reino Unido, use o soft power da monarquia para ajudar a distender as relações com os Estados Unidos. Porém, como não se trata de uma visita de Estado habitual, não terá a pompa de sempre. Nada de procissões ou banquetes. É quase que uma escala. Mas é importante para reforçar os vínculos entre os dois países, abalados entre outras coisas pelo Brexit.
Não é que as relações estejam em um mau momento — eles têm muito em comum e sua posição em relação à guerra na Ucrânia é um exemplo entre tantos —, mas a chamada ‘relação especial’ entre as duas nações já viu dias melhores. Biden manifestou-se abertamente contrário ao Brexit. O presidente americano criticou seus efeitos negativos sobre a estabilidade na Irlanda do Norte, depois de três décadas de paz na região. Em janeiro deste ano, Biden esteve em Belfast, por ocasião do aniversário de 25 anos do Acordo de paz da Sexta-feira Santa na Irlanda do Norte, mediado por Washington. Esse foi o entendimento que selou a paz entre nacionalistas católicos norte-irlandeses, que queriam uma Irlanda unida, e os unionistas protestantes, leais ao Reino Unido. A visita tinha por objetivo reafirmar o progresso desde a assinatura do documento. No evento, cometeu uma de suas gafes mais recentes. Biden, que tem ascendência irlandesa por parte de mãe, disse que estava ali para assegurar que os britânicos não estragariam o acordo.
A verdade é que o americano teria dado sinais que têm sido lidos como se tivesse menos boa vontade com o Reino Unido do que se imaginava. A viagem de Biden acontece na sequência da visita de dois dias que Sunak fez a Washington para tratar do cenário britânico pós-Brexit, guerra na Ucrânia e prós e contras da Inteligência artificial. A missão de Sunak foi bem-sucedida, pois conseguiu apoio para sediar uma conferência sobre Inteligência Artificial que tanto queria. No entanto, logo em seguida, o pré-candidato britânico a secretário-geral da Otan, Ben Wallace, atual ministro de defesa, teve suas ambições abatidas em pleno voo, especula-se, em razão de um veto americano.
Encontro com o rei
Esta será a primeira vez que o líder americano estará com Charles III desde o funeral da rainha Elizabeth II. Biden não veio para a coroação. Em seu lugar, enviou a primeira-dama e a neta.
Na pauta com Sunak estão questões comerciais e a posição dos dois países sobre como abrir das portas da Otan para a Ucrânia. Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram o envio de bombas de fragmentação, proibidas por mais de 123 países, para a Ucrânia. O Reino Unido foi um dos países que se manifestaram contra a decisão americana, pois é uma dessas nações.
Mas este não é o único assunto na agenda. Na lista de demandas britânicas, está a suspensão de restrições comerciais em relação ao Reino Unido. Com Charles III, está sobretudo a agenda ambiental. Às vésperas da viagem, Washington e Londres manifestaram satisfação com as perspectivas dos encontros desta segunda-feira e destacaram a sua importância para a relação bilateral.
No Reino Unido, a relação com os Estados Unidos é sempre tratada de forma especial. Há quem diga que os americanos veem com menos entusiasmo essa excepcionalidade. Resta saber se o charme de Charles III estará à altura do de Elizabeth II, que, como se diz, soube encantar vários presidentes americanos ao longo de suas sete décadas no trono.