O governador de São Paulo, João Doria, reuniu três ex-presidentes da República nesta segunda-feira (25), um presencial, no Palácio dos Bandeirantes, e dois virtualmente, em ato pró-vacinação contra a Covid-19. Em uma solenidade sem imunizações, Doria disse que o objetivo do encontro foi “institucional”, e não “político”.
— É a valorização da vida, da existência, das vacinas, da saúde e da proteção do povo braisleiro Convidei todos os ex-presidentes da República, entendendo que não seria um ato político, e muito menos de confronto. Ao contrário, é um ato de união, solidariedade e entendimento — disse Doria.
A ideia inicial do governo paulista era vacinar os ex-presidentes hoje — dia em que a capital completa 467 anos. A data marcaria o início da imunização com a CoronaVac, imunizante produzido pelo laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan. No entanto, a vacinação no estado foi antecipada e teve início no domingo (17), após a aprovação do uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Apesar do convite a todos os ex-mandatários, presencialmente esteve apenas Fernando Henrique Cardoso. Michel Temer e José Sarney participaram do evento virtualmente. Fernando Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff rejeitaram o convite.
— Collor declinou, de forma muito educada, mas preferiu não participar. E solicitei a amigos em comum de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff que formulassem o convite para que ambos pudessem participar. Eles declinaram também de forma educada. Compreendemos as razões de ordem pessoal que impediram que esses três ex-presidentes pudessem participar, ainda que virtualmente — afirmou o governador paulista.
Em 18 de dezembro, Collor agradeceu o convite de Doria, mas disse que não participaria. Três dias depois, Dilma também recusou o convite para se vacinar em São Paulo, dizendo que considerava “imprescindível que os trabalhadores da área da saúde e os idosos que vivem em instituições de longa permanência sejam priorizados”. No entanto, afirmou em nota publicada em seu site que estaria com o “braço estendido para receber a CoronaVac”. Ainda na semana do convite, o ex-presidente Lula afirmou que tinha sido infectado pelo coronavírus.
No evento, o primeiro a discursar, virtualmente, foi ex-presidente José Sarney, de Brasília. Ele desejou “boa sorte” ao Brasil no combate à Covid-19 e classificou a pandemia como um dos “mais graves problemas dos últimos tempos”.
— Há cerca de 30 anos eu participei de um seminário de ex-presidentes da República em Xangai, que se destinava a discutir as ameaças ao futuro da humanidade. Ouvi de um estadista europeu que a maior ameaça à sobrevivência da humanidade não estava na guerra nuclear, mas sem dúvida na ocorrência de doenças desconhecidas. Estamos vivendo agora o perigo da realização dessa profecia com a terrível pandemia causada pelo coronavírus — lembrou Sarney.
Na sequência, falou, também virtualmente, o ex-presidente Michel Temer, apesar de estar em São Paulo. Ele pediu união no combate ao coronavírus e ressaltou a defesa da vida.
— Esse encontro tem uma certa simbologia, a da unidade. É a ideia de que todos devem unir-se para combaterem o coronavírus. Acho mesmo que no combate ao vírus, com toda a franqueza, há momentos e momentos. A vida é algo que se vai, a economia pode ter dificuldades, mas a vida não volta e a economia se recupera.
Temer ainda disse que, em uma conversa com o embaixador da China no Brasil, foi informado de que o país asiático enviará insumos para a produção das vacinas no Brasil. Após um pedido do governo de SP, o ex-presidente está atuando junto a representantes chineses na negociação sobre os insumos.
— Hoje às 11h falei com o embaixador da China no Brasil. A notícia que tive é que os insumos estão sendo acondicionados. Há uma pequena questão técnica na China, mas elas virão para o Brasil — ressaltou Temer.
Fernando Henrique Cardoso afirmou nunca ter visto algo como a pandemia de Covid. Ele pediu que as pessoas tenham solidariedade no combate à doença:
— Nunca vi coisa semelhante ao que estamos assitindo agora, e olha que alguns de nós aqui já somos velhos. Me recordo da Segunda Guerra Mundial. Foi dramático, morreu muita gente. Brasileiros morreram, mas nada comparável ao que está acontecendo agora porque agora o vírus não perdoa nada, nem idade, nem classe social. Ele mata. E a defesa que temos até agora é uma só, a vacina que está chegando. Ou então fique em casa. Mas é fácil dizer fique em casa para quem tem casa. E quem não tem casa, que não tem como se defender? São muitos no Brasil, infelizmente. Como vai ficar em casa? Acabam ficando na rua — criticou o ex-presidente.