Em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia, o deputado estadual Alan Sanches (União Brasil), líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), expressou preocupação em relação ao mais recente pedido de empréstimo feito pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT).
Tribuna: Como a oposição irá se posicionar em relação a esse novo pedido de empréstimo do governo do Estado na Assembleia Legislativa? Qual a avaliação do senhor sobre esse projeto?
Alan Sanches: Na verdade, primeiro acho que falta um pouco, digamos assim, de respeito e consideração do governo do Estado, esse não tem sido diferente com relação à Assembleia. Porque eles colocam um empréstimo como esse, como colocaram os outros, sem a menor consideração de trazer as informações necessárias. Eles, às vezes, escrevem apenas nove linhas para justificar um pedido de empréstimo, seja o valor que for. E o que a oposição sempre coloca? Se isso vai ajudar, se é um empréstimo de qualquer projeto que venha a ajudar os baianos, a gente estará favorável, mas quando você faz um pedido de empréstimo para a gente dar um cheque em branco para o governo, a gente vai se posicionar contra, porque não tem transparência. Veja bem, quando você vai fazer um empréstimo no banco, seja em Caixa Econômica ou onde quer que seja, você vai ter que mostrar tudo, você vai ter que abrir a sua vida para saber se terá condições de efetuar esse pagamento. Da mesma forma, se você vai querer o empréstimo para uma reforma na casa, você vai mostrar projetos, vai mostrar tudo que irá precisar executar, mas eles não fazem isso aqui, porque eles não respeitam a Assembleia, eles acham que têm a maioria e irão aprovar de qualquer forma. Então a oposição, mais uma vez, não vê cabimento de pedir mais um empréstimo, agora de R$ 400 milhões. Com ele, o governo Jerônimo irá totalizar R$ 3,7 bilhões nesses 14 meses. Se você colocar na ponta, isso dá um empréstimo pedido a cada dois meses, já que foram seis no total. Isso é muito.
Tribuna: Como o senhor viu essa suspensão da licitação do VLT (já revertida)?
Alan Sanches: Na verdade, o VLT há muito tempo que vem, já foi suspenso depois de dois anos a gente esperando, o próprio governo do Estado suspendeu, porque, depois de gastar tanto dinheiro, jogou o dinheiro pelo ralo e voltou para a estaca zero. O vereador [Sidninho] achou que, nesse momento, não estava clara a forma que ele estava trabalhando a licitação, e achou que era o melhor caminho. Mas eu acho que há muito tempo eles estão morosos, e não vão poder colocar, em uma justificativa de solicitação de liminar por alguns dias a demora deles, porque o governo do PT tem mostrado que é lento. Sobre o VLT, há quanto tempo a gente já estava para colocar a primeira pedra? Há três anos, e até hoje eles não conseguem executar exatamente nada. Seja com o VLT, seja com qualquer outra obra importante, eles estão com dificuldades na execução, na elaboração, no planejamento, e de tudo, tem sido assim o governo deles.
Tribuna: Jerônimo está com mais de um ano de governo. O senhor tem visto alguma evolução na gestão, como, por exemplo, no campo da saúde?
Alan Sanches: Jerônimo me passa um homem bem-intencionado, uma pessoa de bom trato, uma pessoa educada. Mas o que precisa é mostrar os resultados que o governo ainda não mostrou. Se você falar em regulação, eu posso dar exemplos todos os dias de pessoas pedindo para socorrê-las na fila da regulação. O que a regulação precisa? A regulação precisa criar leitos. Por que digo isso? Porque agora eles criaram, vou dar um exemplo na ortopedia, o maior hospital ortopédico, com 220 leitos, mas tira-se 30, porque 30 são de UTI, então você não vai contabilizar esses leitos. Então, se são 222, tirando 30, sobrarão 182 leitos de ortopedia para fazer tratamento clínico e cirúrgico ortopédico. Só que o hospital que até hoje estava atendendo, que é o Hospital Manoel Vitorino, de ortopedia, estão tirando os leitos de ortopedia, e vão dar outro destino, de cirurgia vascular e outras coisas. Quantos leitos tinham? 100. Então você pega 182 leitos que foram criados a mais pelo Hospital Ortopédico da Bahia, só que está tirando 100, então, na verdade, está sendo criado apenas 82 leitos, e não deveria substituir leitos, era preciso criar. Criaram 82 leitos e substituíram 100. É por isso que a fila não anda, porque, na fila da regulação, o que a gente precisa são leitos. A gente precisa criar leitos. Todos os dias, só na tela de Salvador amanhecem 300 pessoas pedindo regulação. Você pode contatar na regulação que todos os dias nas UPAs daqui de Salvador amanhece com 300 pedidos de regulação. Então não adianta apenas construir um equipamento moderno, um equipamento de alta tecnologia, se você não estiver mantendo o que você já tem, a sua rede credenciada. É por isso que não vai andar.
Tribuna: Falando em saúde, há muitos anos os servidores do Estado reclamam do Planserv mesmo depois de ter mudado a empresa que gerencia. Por que esses problemas persistem?
Alan Sanches: Dinheiro. O que acontece? O governo do Estado que deveria subsidiar o convênio, que é o Planserv. Então Rui Costa começou a tirar naquela época, era 4% que ele colocava, ele baixou para 2%, e agora Jerônimo aumentou para 2,5%. Ou seja, se você tirou o dinheiro, você vai ter que gerir com menos recursos. O Planserv está gerindo com menos recursos, desde o tempo de Rui. Rui cortou. Ele aumentou, inclusive, o repasse, a cobrança e a contribuição de cada servidor. Ele aumentou a contribuição de cada servidor e diminuiu e muito a contribuição patronal, a contribuição dele. Com isso, não fecha a conta. O que o Planserv teve que fazer? Gerir com o que tem. Então, ele começa a fechar as portas para determinados hospitais, ele diminui a liberação de cirurgia, ele aumenta o tempo da liberação. Você faz uma solicitação da cirurgia, e ele aí libera depois de um ou dois meses, porque ele vai ganhando tempo para rodar com o recurso que tem. Então qual é o problema do Planserv? Recurso. O governo retirou o recurso do Planserv e não é um plano que consegue se sustentar sozinho, tem que ser subsidiado pelo governo. Se o governo não quer subsidiar, aí ele vai fingir que está dando uma assistência médica. E é isso: quem consegue o privilégio de ser atendido pelo Planserv rapidamente através de algum pedido judicial, ótimo. Quem não consegue, fica esperando a sua hora de o Planserv liberar uma determinada cirurgia.
Tribuna: Outra questão que os deputados reclamam há muitos anos é a questão das emendas. O governo tem dado alguma perspectiva aos deputados?
Alan Sanches: Esse é outro absurdo. Jerônimo, pelo menos, prometeu, mas ainda estamos na promessa. Porque o que queremos não é que haja uma liberação quando o governo quiser. Precisa de um cronograma que a liberação vai ser assim e assado. Porque a liberação das emendas só ajuda os municípios, os 417 municípios. Porque como o governador foi escolhido democraticamente, os deputados também. Então existem deputados da oposição que representam os municípios. Entre os 417 municípios, muitos são representados pelos deputados de oposição, e é lei. Essa emenda acaba ajudando todos os municípios, por que não ajudar via emenda do deputado a, b ou c? Então ele não pode tratar de liberar emenda só para os deputados do governo. Ele precisa liberar as emendas também dos deputados da oposição, tratar da mesma forma. Isso ele prometeu que iria fazer no início do mandato, eu ainda acredito na palavra do governo, agora, estou aguardando o cumprimento realmente das emendas.
Tribuna: O presidente da Assembleia Legislativa, Adolfo Menezes, já tem dado algum indício mais concreto sobre disputar a reeleição do cargo? Como está essa conversa nos bastidores?
Alan Sanches: O indício maior foi a aprovação da PEC. Hoje, se ele quiser, está liberado para poder disputar a reeleição. Agora, cabe alguns questionamentos: se ele pode disputar o terceiro mandato ou se já contou com os dois mandatos que teve. Isso é uma questão jurídica que precisa ser esclarecida, mas hoje, pela Casa, com a aprovação da PEC, ele está liberado, como qualquer outra Casa legislativa, de concorrer à sua reeleição, seja em qualquer mandato, até porque antes da PEC, havia um dispositivo na Constituição que impedia ele de ser reconduzido no mesmo mandato. Com a PEC, ele pode ser reconduzido mesmo não sendo no mesmo mandato.
Tribuna: Como a oposição se posicionará caso Adolfo anuncie a candidatura para um novo mandato?
Alan Sanches: A oposição, eu não digo todos os membros, porque não é um fechamento de questão em nome de uma posição, de um projeto. Nós votamos com a PEC, assinamos a PEC, foram 14 deputados da oposição, entre os 20, que assinaram a PEC, e seis não assinaram, mas, no dia da votação da PEC, apenas um votou contra, o resto todo votou a favor.
Tribuna: Tivemos duas novas pesquisas mostrando Bruno Reis na frente na disputa pela Prefeitura de Salvador. O senhor acha que, analisando o cenário, ele tem grandes chances de vencer logo no primeiro turno ou o senhor acredita que a disputa pode ser levada para o segundo?
Alan Sanches: Totalmente. Eu acho que Bruno deve conseguir se reeleger no primeiro turno. Ninguém ganha de véspera, porque Bruno tem, se você contabilizar os votos válidos, ele dá em torno de 62% e 63% dos votos válidos, isso significa que ele só precisaria de 50%, ele já tem 63%, então ele continua sempre nessa batida de mais de 60% dos votos válidos. Então, com as entregas que está fazendo, com o tratamento que a cidade tem recebido, tanto na gestão da infraestrutura, como a gestão de gente, de pessoas, ele tem cuidado muito. Evoluímos na saúde, evoluímos na educação, então, onde a Prefeitura precisava intervir, ela tem feito essa intervenção, e tem feito as entregas. Diferente do Estado, só se falar em educação, você pode escolher o tema que for, mas se falar em educação, nós temos aí, só construídas no governo de Bruno Reis, 27 escolas, e não estou falando de reforma. São 27 escolas construídas do chão. Isso só agora nesses três anos de Bruno Reis. Se você for para o Estado, durante Rui e Jerônimo, nesses nove anos, entregou oito escolas de tempo integral. Oito escolas. Bruno, só Bruno, em três anos, já entregou, com recurso muito menor que o do governo do Estado, 27 escolas do chão. Se a gente for para a parte de saúde, você vai ver que na saúde nós inovamos, estamos conseguindo fazer a saúde nos bairros, ou seja, a regulação do que cabe à Prefeitura, do que cabe ao município, que são os procedimentos, os exames de média complexidade, nós estamos conseguindo entregar isso com a saúde nos bairros. São muitos exames realizados, muitos pacientes sendo atendidos, diferente do governo do Estado que continua. Se você observar a quantidade que tinha da regulação, e como era a regulação antes de Jerônimo e hoje, nada mudou. Nós conseguimos entregar o primeiro hospital veterinário, que nunca se pensou nisso, porque a gente precisa pensar hoje com o crescimento dos pets, a gente precisa também desse tipo de tratamento, esse foi o primeiro hospital municipal veterinário. Estamos agora para entregar com Bruno Reis a primeira maternidade. Ou seja, que vai ser entregue pelo município. E você sabe que o município não pede favor ao governo do Estado. O município entrega o recurso de R$ 800 milhões pela alta complexidade para que o governo faça alta complexidade para o município de Salvador. Sabe por que eu quero dizer com isso? Porque a regulação está sob a coordenação do governo do Estado, mas Salvador não pede favor. Salvador paga para que isso seja feito para o munícipe de Salvador. E são R$ 800 milhões de recursos para atender só a alta complexidade de Salvador. Esse projeto político não é só de Bruno, é de um grupo político que tem feito realmente por Salvador. Hoje, Salvador é um canteiro de obras, em qualquer lugar que você vá tem a marca da Prefeitura, tem os serviços sendo entregues da Prefeitura. A gente passa tanto na Cidade Alta quanto na Cidade Baixa, na cidade nobre, assim como na cidade da periferia, todos têm a marca da Prefeitura, isso desde o tempo de ACM Neto. Eu acho que a população tem tudo para estar reconhecendo, e hoje, no recorte da fotografia que tem dessa pesquisa, mais uma pesquisa, ele mantém 63% dos votos válidos.