Cotado para ser o líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Alan Sanches (União Brasil) disse torcer para que o governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT) pague as emendas impositivas dos parlamentares quando assumir o governo. Para ele, o governador Rui Costa (PT) dificultou o pagamento nos oito anos de mandato por “birra’. A entrevista é de Guilherme Reis, Rodrigo Daniel Silva e Paulo Roberto Sampaio, do jornal Tribuna.
“Eu espero que Jerônimo – realmente me parece é, pelo que chega nos meus ouvidos – é um cara mais maleável, de conversa, de bom trato. Então, eu espero que comecem a ser executadas as emendas impositivas dos deputados, que são lei. Caso não seja cumprida, a gente tem de tomar as medidas necessárias. Inclusive, provoquei o presidente Adolfo Menezes para a Assembleia entrar de uma forma mais dura nesse aspecto, porque não pode ficar dizendo amém aos caprichos do governador que esteja sentado na cadeira”, disse Alan, na entrevista ao jornal.
O deputado estadual ainda afirmou que não irá tensionar na sua bancada para assumir a liderança. “A política é de momento. Se o momento está favorável para mim, eu irei assumir esse papel, tomar como missão e trabalhar de uma forma não radical, mas uma forma com muita tranquilidade. Se for outro, eu estaria ali para ajudar, para somar o meu esforço com a experiência que eu já adquiri 12 anos na assembleia”, salientou.
Tribuna – A que o senhor atribui a vitória de Jerônimo Rodrigues, que contrariou todas as pesquisas de opinião?
Alan Sanches – Eu acredito que o efeito nacional acabou pesando. O 13, 13, o efeito Lula acabou interferindo demais aqui. A gente não contava com isso. Era esperado, mas não que tivesse tamanha influência e acabou, a meu ver, digamos assim, sendo o ponto-chave para a vitória do Jerônimo. Foi o efeito Lula.
Tribuna – O senhor acha que ACM Neto cometeu algum erro na campanha? Ou ele fez o possível?
Alan Sanches – Eu acho que tudo que tinha que fazer foi feito. Inclusive, as pesquisas de avaliação, tanto qualitativa quanto quantitativa, demonstravam isso. Mas uma coisa que a gente não contava era que a influência ia ser tão grande, foi justamente o efeito do 13 e o efeito do Lula. Eu acho que isso acabou favorecendo demais a vitória de Jerônimo.
Tribuna – Sobre a gestão Rui Costa, na sua avaliação, o que teve de principal erro e de acerto na gestão de Rui Costa?
Alan Sanches – Acho que o Rui Costa, dito por mim e por todo mundo, é um político bastante duro. Ele não é um cara de muitas conversas. É duro no relacionamento interpessoal. Acabou fazendo feijão com arroz, quando chegou agora no final fez muitos convênios, dando a primeira parcela logo, segurando os prefeitos e a eleição. E durante o governo dele, eu acho que tem duas coisas prioritárias que não conseguiu resolver. A saúde, mesmo fazendo sete hospitais, tentando descentralizar a saúde, não conseguiu resolver a regulação. A regulamentação é um ponto crítico da gestão Rui, que ele não conseguiu resolver. E, a meu ver, o que falta é a gestão de leitos. Não é possível que todos os dias nós tenhamos nas UPAs 250 pessoas precisando de regulação, entre procedimentos ou algum tipo de exame. Ou esperando cirurgia ou internamento clínico. Não é possível que a gente tenha essa quantidade de pessoas praticamente todos os dias na regulação, aguardando algum tipo de transferência para resolver um desses problemas que eu falei. O outro problema-chave, que a sociedade toda percebe, é a insegurança. Hoje, o baiano tem a sensação de insegurança, tem medo. Tem receio em alguns momentos de sair, principalmente, à noite. Então esses foram os pontos críticos do Rui. A saúde, que ele não conseguiu avançar, e a segurança pública. Falando ainda da saúde, são diversas cirurgias que ele não conseguiu destravar, como cirurgias ortopédicas, de prótese, de quadril, de joelho, cirurgias de mão, cirurgias de ombro… Então, é um calo muito grande. Rui deixa essa mácula, essa marca negativa. Ele deixa essa marca na saúde e na segurança pública.
Tribuna – Qual a sua avaliação sobre o perfil do governador eleito Jerônimo Rodrigues?
Alan Sanches – Ainda não tenho conhecimento do perfil do Jerônimo. O Jerônimo, eu conheci, como a sociedade baiana conhece, com o trabalho que ele fez na Educação, que não pôde aparecer porque a Covid inclusive impossibilitou. E ele não conseguiu fazer o movimento positivo na Educação. Nem foi só por ele. Eu acho que foi o Rui Costa. Eu acho que, digamos assim, com perfil controlador não permitiu a Educação avançar. Nós tomamos, inclusive, notas negativas na implantação da educação na parte digital. Isso é público e notório, noticiado por todo mundo. Não conseguimos fazer nenhum avanço na Educação durante a Covid. Os dois anos de Covid, enquanto os meninos da escola particular tiveram aulas, ficamos paralisados e com as nossas crianças e adolescentes com dois anos perdidos.
Tribuna – A oposição sempre reclamou do governador Rui Costa por não pagar as emendas impositivas. O senhor espera que isso melhore na nova gestão?
Alan Sanches – Fizemos um projeto de lei, foi aprovado e sancionado. É lei hoje. Todas as contas que os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado aprovaram, aprovaram as contas de Rui com ressalvas. Justamente um dos pontos foi o não pagamento e a execução das emendas. Quando falamos emenda impositiva dos deputados, não é uma coisa do deputado. O deputado apenas direciona aquele recurso, mas quem vai executar é o estado para todos esses municípios. Hoje, se não me falha a memória, em torno de R$ 2,4 milhões de emenda no orçamento para 2023 e, se você colocar na conta, vão dar em torno de 10 ambulâncias só. Ou seja, você vai encaminhar uma ambulância para cada município, que você sabe que as ambulâncias, digamos assim, um dos tratamentos hoje no interior. A ambulância é usada para deslocar, para fazer procedimento, para trazer para Salvador. Esse tipo de coisa. Então, é um carro muito utilizável. É uma coisa tão pequena, mas ele por birra, não foi falta de recurso, (não pagou as emendas). É birra, porque o Rui é assim. Ele é um cara que tem uma certa dificuldade num relacionamento interpessoal. Dito por mim, e tenho certeza de que por muitos outros deputados, independentes, da oposição ou da base, vão concordar que ele é um cara que tem dificuldade na relação interpessoal. Eu espero que Jerônimo – realmente me parece é, pelo que chega nos meus ouvidos – é um cara mais maleável, de conversa, de bom trato. Então, eu espero que comecem a ser executadas as emendas impositivas dos deputados, que são lei. Caso não seja cumprida, a gente tem de tomar as medidas necessárias. Inclusive, provoquei o presidente Adolfo Menezes para a Assembleia entrar de uma forma mais dura nesse aspecto, porque não pode ficar dizendo amém aos caprichos do governador que esteja sentado na cadeira.
Tribuna – O senhor se reuniu recentemente com ACM Neto. Na sua avaliação, qual o caminho que ele deve seguir nos próximos anos?
Alan Sanches – Neto aceita o resultado democrático das urnas. O povo escolheu o projeto que já está há 16 anos no poder, e a gente tem que respeitar. E nos colocou na oposição. Neto hoje é oposição. Mas tem que ser uma oposição, como ele mesmo diz, inteligente, uma oposição consciente; não é quanto pior, melhor. É o momento agora de permitir esse projeto, que é de continuidade. A gente vai fazer a nossa parte. Qual é a nossa parte? É fiscalizar, tentar contribuir para, de alguma forma, corrigir alguma coisa que a gente acredite que não esteja no caminho certo. Então, fazer uma oposição, como ele vai fazer, da mesma forma que a nossa bancada, uma posição extremamente consciente, muito tranquila, sem revanchismo, sem ser mau perdedor, nada disso. Neto está com sentimento de gratidão. Falou para mim algumas vezes. Gratidão pelos mais de quatro milhões de votos que a população da Bahia te deu. Aqui em Salvador mais de um milhão de votos, reconhecimento do trabalho. Então, dessa forma, Neto vai estar fazendo agenda semanal em Brasília contribuindo com a política nacional. Atendendo, orientando, conversando, com os deputados federais, avaliando também que agora é uma nova política nacional, avaliando e acompanhando a política nacional e vai tomar um rumo na sua parte privada. Ele é uma pessoa extremamente inteligente e capaz. Já tem algumas coisas que ele já está avaliando, o caminho que ele vai seguir, aguardando para 2024 o posicionamento das pessoas. Se vão querer que ele participe, ele estará junto com os companheiros, os amigos, os parceiros que estiveram com ele. Aqueles que queiram o apoio dele. O que ele quer é que os prefeitos e os amigos se elejam.
Tribuna – O nome do senhor tem sido ventilado para liderar o bloco da oposição. Como é que estão as conversas nesse sentido?
Alan Sanches – Veja bem, eu tenho 12 anos já na Assembleia. Vou entrar no meu quarto mandato. Dessa forma, tenho oito anos na oposição, vou começar o nono ano. Sandro (Régis) não quer mais, ficou por dois anos e abriu esse caminho. É um momento que tem que ter muita tranquilidade. Eu acho que não haverá disputa pela liderança de oposição. O meu nome, até pela bancada que nós temos de 10 deputados, a maior bancada da oposição, a do União Brasil, acabou surgindo o meu nome e também o de Robinho. E eu falei tudo bem, mas eu não irei para disputa, não quero ser empecilho. Se o nosso grupo todo achar que pode ser um outro líder, não há menor problema para mim. Eu estarei para ajudar, para contribuir como eu sempre fiz com todos os líderes que que passaram. Foi Paulo Azi, Elmar Nascimento, o próprio Sandro Régis, Targino Machado, todos, eu contribuo, inclusive, sendo vice-líder diversas vezes. A política é de momento. Se o momento está favorável para mim, eu irei assumir esse papel, tomar como missão e trabalhar de uma forma não radical, mas uma forma com muita tranquilidade. Se for outro, eu estaria ali para ajudar, para somar o meu esforço com a experiência que eu já adquiri 12 anos na assembleia.
Tribuna – Como é que o senhor avalia esse movimento do União Brasil de aderir a Lula? Isso vai ter reflexo na Bahia?
Alan Sanches – O que eu tenho observado é que quem pode ir são os deputados. Há uma linha muito tênue em dizer que o partido não vai, mas os deputados vão votar com o governo. Porque se sabe que isso acontece muito. Aconteceu aqui. Na Bahia, com alguns partidos que não foram, mas que votavam. Tivemos o PDT como exemplo aqui na Bahia. O deputado Roberto Carlos, Euclides Fernandes votavam com o governo, mas o PDT não era da base. Félix (presidente do PDT na Bahia) sempre se colocou como oposição ao governo do estado. Inclusive, participando do governo municipal com o nosso grupo. Então, isso já aconteceu e pode acontecer. Se isso vier acontecer no cenário nacional dessa forma, agora o União Brasil declarar apoio, aderindo ao governo Lula, eu realmente não acredito. E não acho que vai acontecer. Mas, uma parte dos deputados pode apoiar, não todos. Eu acho que essas tratativas estão tendo no cenário nacional e isso pode vir a acontecer. Não o partido. É uma linha tênue. Uma coisa é votar os deputados, alguns deputados, uma parte dos deputados vota com o governo. E outra coisa é o partido realmente declarar apoio ao governo. Isso acho que não vai acontecer.
Tribuna – O presidente da AL-BA, Adolfo Menezes, deve ser reeleito. Ao que o senhor atribui a facilidade parece ter para ser reconduzido ao posto?
Alan Sanches – Existe a caneta da presidência. Ele já é o presidente e tem a possibilidade de se reeleger. Quando o presidente, independente se é Adolfo ou se não é, ele conduz toda a administração da Casa tanto da parte administrativa, financeira e política, ele conduz sem deixar fissuras, ele já sai com um passo na frente. Foi assim que aconteceu. Nós somos minoria. Em nenhum momento, durante todo esse tempo, ele foi descortês, foi ditador. Ele sempre permitiu a discussão e os acordos. Ele dizia: se os dois lados estão de acordo, eu vou colocar em votação, a gente vai andar com essa pauta. Ele nunca usou a caneta pesada da presidência para exercer esse poder. Não foi subserviente ao governo. Então, isso acho que favoreceu e facilitou muito essa recondução dele, que deve acontecer agora em fevereiro, para presidência da Assembleia. Eu acho que foram os pontos. A forma democrática, republicana que Adolfo Menezes conduziu. Eu acho que seria mais ou menos esse ponto mesmo.