Japão e Austrália assinaram neste sábado (22) um acordo de segurança para compartilhar informações de inteligência e aprofundar a cooperação militar, uma medida para contra-atacar a influência da China na região Ásia-Pacífico.
O primeiro-ministro japonês Fumio Kishida e o premiê australiano Anthony Albanese assinaram o acordo na cidade australiana de Perth, atualizando um pacto estabelecido há 15 anos que tinha como grandes preocupações a proliferação de armas e o terrorismo.
O acordo declara as duas democracias “sócios naturais” que enfrentam riscos crescentes para seus interesses comuns e promete uma cooperação maior nas áreas de “inteligência, vigilância e reconhecimento”.
“Esta declaração histórica envia um sinal forte para a região sobre o nosso alinhamento estratégico”, disse Albanese.
O acordo é uma resposta a um “entorno estratégico cada vez mais duro”, afirmou Kishida, sem citar diretamente China ou Coreia do Norte.
Austrália e Japão não possuem serviços de inteligência no exterior comparáveis aos dos Estados Unidos, Reino Unido ou Rússia.
Mas, segundo o analista Bryce Wakefield, os dois países têm grandes capacidades de sinalização e instrumentos geoespaciais.
Em outras palavras, ambos têm ferramentas de espionagem eletrônica e satélites de alta tecnologia que proporcionam informações valiosas sobre os adversários.
O acordo evidencia que o Japão está ficando mais ativo na área de segurança, afirmou Wakefield, diretor do Instituto Australiano de Temas Internacionais.
Aliança Cinco Olhos
“É um acordo significativo porque demonstra que o Japão não tem trabalhado abertamente com parceiros fora dos Estados Unidos em questões de segurança”, disse o analista.
“De fato, pode acabar sendo um modelo de cooperação com outros países, como o Reino Unido por exemplo”, acrescentou.
Alguns consideram o acordo como um passo adiante para a adesão do Japão à poderosa Aliança Cinco Olhos, acordo entre Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Estados Unidos para compartilhar informações.
Uma proposta similar seria impensável há algumas décadas, mas os mísseis lançados com frequência pela Coreia do Norte sobre e nas proximidades do Japão, assim como o avanço militar da China, forçaram a reconsideração das políticas pacifistas nipônicas, estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial.
Mas ainda existem obstáculos para que o Japão aumente a cooperação na área de segurança com os aliados. Há muitos anos existe uma preocupação sobre a capacidade de Tóquio de lidar com material confidencial sensível e transmiti-lo com segurança.
Durante o encontro, Kishida e Albanese também se comprometeram a aumentar a cooperação nas áreas de minerais críticos, meio ambiente e energia.
Crítica a possível ataque nuclear
Durante a visita à Austrália, o primeiro-ministro japonês também falou sobre o eventual uso de armas nucleares por parte da Rússia.
“As ameaças russas de usar armas nucleares são uma grave ameaça para a paz e a segurança da comunidade internacional e absolutamente inaceitáveis”, declarou Kishida.
“Se armas nucleares forem usadas, este seria um ato de hostilidade contra a humanidade… A comunidade internacional nunca permitirá um ato assim”, acrescentou.
O Japão é o único país na história atacado por armas nucleares, lançadas pelos Estados Unidos em agosto de 1945 contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Em maio de 2023, Kishida deve receber os líderes do G7 em Hiroshima, onde a bomba atômica lançada em 1945 matou 140.000 pessoas.
Desde o início da invasão da Ucrânia em fevereiro, o presidente russo Vladimir Putin fez várias ameaças veladas sobre o uso de armamento nuclear.