A vantagem eleitoral de Lula da Silva (PT) diminui na candidatura à reeleição, mostra pesquisa Quaest realizada na semana passada e divulgada nesta segunda-feira (3). Mas sua liderança na preferência dos eleitores está conforme José Casado, colunista da Veja, em declínio — e em alta velocidade.
Em dezembro, Lula parecia imbatível, com 26 pontos percentuais à frente, no cenário de eventual disputa com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Em janeiro, essa distância ficou muito reduzida, caiu para 9 pontos.
Como o presidente continua sendo o político brasileiro mais conhecido (95%) e governador paulista permanece desconhecido para quase metade (45%) do eleitorado, a pesquisa mostra um aspecto curioso: o maior adversário de Lula é ele mesmo.
Parcela significativa (47%) do eleitorado diz que o conhece e votaria nele. Mais expressiva (49%) é a fatia do eleitorado declarando que, por conhecê-lo e reprovar seu governo, não daria o seu voto a Lula.
É notável, também, que esse contingente de eleitores críticos (49%) não tenha encontrado outro candidato com o qual se identifique e se disponha a votar nele.
Até agora a oposição ao governo Lula não demonstrou competência e habilidade política para mobilizar o eleitorado oposicionista. Como observa Filipe Nunes, da Quaest, se a eleição fosse hoje “quem reprova o governo, opta por votar branco, nulo ou se abster”.
Jair Bolsonaro continua sendo o mais reconhecido na oposição. É quem, em tese, seria competitivo numa disputa com Lula: é conhecido e teria o voto de parte (41%) do eleitorado, mas é rejeitado por ampla maioria (53%) que o conhece e se recusa a votar nele.
Bolsonaro está inelegível até 2030, por sentença judicial. Foi condenado por delitos eleitorais e é provável que seja sentenciado, ainda neste ano, por crimes contra a Constituição e o regime democrático.
Já está fora de qualquer páreo eleitoral até completar 75 anos de idade (hoje tem 69). Uma extensão do tempo em que ficaria inelegível pode significar o fim da sua carreira de quatro décadas na política — com mais oito anos de punição, só poderia voltar a se candidatar aos 83 anos de idade.
Ele realizou a proeza de sair do governo, ser judicialmente cassado e continuar competitivo nas pesquisas. No entanto, mesmo sem perspectiva de poder, resolveu insistir na própria candidatura em 2026, reproduzindo a tática de Lula em 2018 quando estava preso em Curitiba, condenado por corrupção no caso Petrobras.
O efeito é paradoxal: apesar de inelegível até 2030, Bolsonaro insiste na candidatura em 2026, divide a oposição, bloqueia o crescimento de potenciais candidatos à direita, e, por consequência, torna-se o principal cabo eleitoral de Lula na reeleição, indicam pesquisas como a da Quaest, com 4.500 entrevistas em 250 municípios e margem de erro de 1 ponto percentual.
No Congresso há quem vislumbre o risco de Bolsonaro, no final da temporada eleitoral, receber um cartão de agradecimento do próprio Lula, subscrito pelos parlamentares da bancada do Partido dos Trabalhadores.