As viagens internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro semestre de 2023 custaram ao menos R$ 24,8 milhões ao Itamaraty. Os valores foram obtidos por Gabriel Benevides e Israel Medeiros, do portal Poder 360, via pedido de Lei de Acesso ao ministério. Não inclui o translado aéreo, bancado pela FAB (Força Aérea Brasileira), cujos valores estão sob sigilo.
De todas as viagens internacionais, as maiores despesas foram na China e nos Emirados Árabes, em abril. Lá, a comitiva presidencial de 70 pessoas gastou cerca de R$ 6,6 milhões. Em seguida, estão as cifras gastas no Vaticano, Itália e França (R$ 5,7 milhões) em junho. Portugal e Espanha (R$ 4,4 milhões) fecham o top 3.
Leia quanto custou cada viagem internacional do chefe do Executivo nos primeiros 6 meses do ano:
A viagem mais barata do presidente foi ao Japão para a cúpula do G7. Foram gastos cerca de R$ 900 mil.
No somatório total, a maioria das despesas (R$ 12 milhões) se deu com hospedagem. Em seguida, está o aluguel de veículos, com R$ 9,2 milhões.
Em quase todos os registros, esses gastos ocuparam o topo da lista. A exceção foi a ida ao Japão, na qual a hotelaria custou R$ 15 mil, apenas 1,56% do total despendido.
A cifra desembolsada para a contratação de intérpretes também se destaca. Soma R$ 771 mil. Mais da metade (R$ 496 mil) do dinheiro desembolsado para a contratação dos profissionais foi na China e nos Emirados Árabes.
Os números obtidos pelo Poder360 dizem respeito ao que foi computado pelo sistema do Ministério das Relações Exteriores até a data de resposta do pedido de Lei de Acesso. Os valores podem ser ainda maiores.
O Itamaraty enviou os valores em dólares (US$). Foram convertidos para real (R$) com a cotação de venda para a data de fim da estadia de Lula em cada país.
Os valores não se referem só ao que o presidente gastou. Abrangem todas as pessoas que o acompanharam nas visitas ao exterior, como ministros e integrantes da equipe técnica de comunicação do Planalto.
ARGENTINA E URUGUAI
- custo – R$ 2,0 milhões;
- maiores despesas – aluguel de veículos (R$ 813 mil) e com hospedagem (R$ 808 mil);
- duração – 3 dias (23-25.jan);
- o que Lula fez nos países – reuniu-se com os presidentes Alberto Fernández (Argentina) e Luis Alberto Lacalle Pou (Uruguai) para retomar a liderança na América Latina.
ESTADOS UNIDOS
- custo – R$ 2,1 milhões;
- maiores despesas – aluguel de veículos (R$ 1 milhão) e hospedagem (R$ 855 mil);
- duração – 3 dias (9-11.fev);
- gastos médicos – o Itamaraty informou ter pagado R$ 52 mil em uma ambulância com enfermeiro;
- o que Lula fez no país – reuniu-se com o presidente Joe Biden para discutir democracia e meio-ambiente.
CHINA E EMIRADOS ÁRABES
- custo – R$ 6,6 milhões;
- maiores despesas – hospedagem (R$ 3,2 milhões) e aluguel de veículos (R$ 1,8 milhão). Nesse caso, inclui a visita cancelada no fim de março devido a uma pneumonia do presidente;
- coquetel – o Itamaraty custeou uma confraternização na embaixada brasileira cotada em R$ 128 mil;
- duração – 6 dias (11-16.abr);
- o que Lula fez no país – reuniu-se com o presidente Xi Jinping e com representantes de empresas chinesas. Tinha objetivo de retomar as relações com a nação asiática, abalada durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Fechou acordos econômicos e participou da posse da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no banco dos Brics.
PORTUGAL E ESPANHA
- custo – R$ 4,4 milhões;
- maiores despesas – hospedagem (R$ 2,0 milhões) e aluguel de veículos (R$ 1,9 milhão).
- duração – 6 dias (21-26.abr);
- o que Lula fez nos países – participou da entrega do prêmio Camões ao cantor Chico Buarque. Encontrou-se com o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa. Da Espanha, visitou o rei Felipe 6º e o primeiro-ministro Pedro Sánchez. Quis fortalecer relações com a Europa.
REINO UNIDO
- custo – R$ 2,9 milhões;
- maiores despesas – hospedagem (R$ 1,5 milhão) e aluguel de veículos (R$ 1,3 milhão);
- duração – 2 dias (5-6.mai);
- o que Lula fez nos países – foi à coroação do rei Charles 3°. Encontrou-se com o primeiro-ministro Rishi Sunak, que anunciou doação de R$ 500 milhões para o Fundo Amazônia.
JAPÃO
- custo – R$ 961 mil;
- maiores despesas – aluguel de veículos (R$ 734 mil) e aluguel de salas e equipamentos (R$ 211 mil);
- duração – 6 dias (17-22.mai);
- o que Lula fez nos países – foi à cúpula do G7 em Hiroshima. Falou sobre sanções à Rússia, relação da China com Taiwan e desarmamento nuclear.
ITÁLIA, FRANÇA E VATICANO
- custo – R$ 5,7 milhões;
- maiores despesas – hospedagem (R$ 3,2 milhões) e aluguel de veículos (R$ 1,8 milhão);
- duração – 5 dias (20-24.jun);
- o que Lula fez nos países – visitou o papa Francisco e os presidentes Emmanuel Macron (França) e Sergio Mattarella (Itália). Também se reuniu com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni. Petista focou na pauta ambiental.
Desde que assumiu em janeiro, passou 37 dias fora do Brasil. O petista quer recuperar a credibilidade internacional do país e também acelerar acordos bilaterais, como o da União Europeia com o Mercosul, e também fechar novas parcerias econômicas.
Gastos aéreos
O Poder360 pediu os gastos com transporte aéreo das viagens de Lula pela FAB ao Comando do Exército via Lei de Acesso em 5 de junho. O órgão encaminhou o pedido ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que negou a solicitação.
O gabinete alegou que a abertura dos dados podem comprometer a segurança nacional por “se tratar de tema de acesso restrito para os planos e operações estratégicas das Forças Armadas”.
Para a especialista em LAI e diretora de programas do Portal da Transparência, Marina Atoji, o sigilo das cifras contraria o objetivo central da legislação: a transparência. “Está afetando e impedindo a divulgação de informações públicas de interesse geral”, disse.
Marina explica que a FAB geralmente mantém informações logísticas sob sigilo. Trata-se de um parecer da CGU (Controladoria Geral da União) sobre o tema. Até certo ponto, faz sentido impedir a divulgação dessas informações pela possibilidade de expor dados estratégicos do exército, avaliou ela.
Ocorre que a restrição é ampla e abrange quaisquer assuntos relacionados a voos bancados pelas Forças Armadas, até mesmo os de conhecimento público.
Segundo a especialista, os gastos com traslados aéreos da Presidência não devem ser considerados sigilosos. As datas de ida e volta estão disponíveis na agenda oficial do Planalto e as viagens já foram realizadas, não havendo possibilidade de atrapalhar os planos ou rotas do presidente.
“O sigilo tem que ser a exceção. Tem que ser aplicado em casos pontuais que realmente implicam em algum dano à segurança nacional”, afirmou Marina.
A diretora relatou ser difícil ter acesso a informações relacionadas a questões militares no geral pela grande abrangência da restrição: “Na área militar quase tudo é segurança nacional, mesmo coisas que são muito básicas”.
O portal Poder360 já reportou uma situação parecida. Em julho de 2023, o jornal digital mostrou que as Forças Armadas se recusaram a informar quantas vezes foram acionadas para fechar o espaço aéreo da Terra Yanomami, em Roraima, durante a gestão de Bolsonaro.
A reportagem recorreu à negativa do GSI sobre os gastos das viagens de Lula. Informou sobre o caráter de interesse público da informação. Aguarda resposta.