O governo de Benjamin Netanyahu e o regime de Teerã possuem narrativas para vender como vitória a forma como se desenvolveu a resposta iraniana contra o território israelense em ação dias depois de Israel alvejar a embaixada do Irã na Síria, matando importantes lideranças das Guardas Revolucionárias. Neste cenário, talvez seja possível não haver escalada nos próximos dias. Existe probabilidade enorme, no entanto, conforme artigo de Guga Chacra, colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews, de os israelenses responderem e a espiral de ação e reação leve a uma guerra total entre os dois inimigos, no que seria o conflito de maior impacto geopolítico para o Oriente Médio desde a Segunda Guerra.
O ataque iraniano foi histórico por ser o primeiro diretamente realizado por forças iranianas contra o território desde a Revolução Islâmica de 1979, quando o regime do Irã começou a pregar “morte a Israel”. A ação envolveu centenas de drones e dezenas de mísseis. Foi de uma certa forma uma escalada em relação à ação inicial de Israel contra a embaixada iraniana em Damasco. O regime de Teerã mostrou não ser um tigre de papel ao ter a coragem de realizar uma operação dessas contra um adversário claramente superior.
Ao mesmo tempo, o ataque foi telegrafado e organizado para evitar uma escalada. Israel mostrou enorme força. Com a ajuda de aliados, interceptou praticamente todos os drones e mísseis disparados contra o país. Foi uma vitória da defesa israelense. O governo Netanyahu conquistou também uma grande vitória diplomática. Nos EUA, o governo de Joe Biden e seus opositores republicanos demonstram apoio inequívoco a Israel. Outros países ocidentais agiram da mesma forma. O premiê israelense, isolado pelas atrocidades cometidas na Faixa de Gaza, conseguiu sair fortalecido do embate. Aliás, a Guerra em Gaza desapareceu do noticiário nesse fim de semana e deve ficar em um segundo plano por enquanto. Para completar, não houve baixas no lado israelense, enquanto importantes lideranças militares iranianas foram eliminadas no ataque à embaixada em Damasco.
A bola nesse momento está com Israel. Há incentivos claros para uma contra-resposta israelense nos próximos dias. Há anos Netanyahu espera uma oportunidade para alvejar o Irã. Teria agora uma certa legitimidade para esta ação. Ao mesmo tempo, os riscos de retaliar são enormes. Caso bombardeie o território iraniano, deve ocorrer uma escalada com os iranianos usando seus poderosos aliados do Hezbollah no Líbano para uma ação mais violenta e com mísseis muito mais difíceis de serem interceptados – o grupo xiita libanês não está usando todo o seu poderio militar nos atuais embates na fronteira israelense (escreverei outro texto sobre o tema). Por último, os EUA e as outras potências ocidentais, além da própria China e da Rússia, não querem uma escalada. Uma guerra total teria impacto negativo para todos, inclusive para a economia global, com impacto no preço do petróleo. No caso norte-americano, há o temor de o país mais uma vez se envolver em uma guerra no Oriente Médio.
Nas próximas horas e dias, haverá um dilema enorme para Netanyahu decidir se aproveita a oportunidade e responde com força ao Irã ou se cede à pressão dos EUA e evita uma escalada. Saberemos em breve. Mas o premier deveria aproveitar a narrativa da vitória com a defesa perfeita da resposta iraniana.