Em evento na Etiópia, presidente brasileiro comparou ações israelenses contra palestinos em Gaza ao genocídio dos judeus por Hitler. Antes, petista já falara de “atos de terrorismo”. Confederação Israelita protesta.O ministro israelense do Exterior, Israel Katz, anunciou que convocará na segunda-feira (19) o embaixador do Brasil, Daniel Zohar Zonshine, para uma reprimenda por comentários do presidente brasileiro, Lula da Silva (PT), sobre a conduta militar do país na Faixa de Gaza. “Ninguém vai comprometer o direito de Israel a se defender”, postou o chefe de pasta neste domingo (18) na plataforma X (ex-Twitter).
Katz não especificou a que comentários se referia. Porém causou celeuma a entrevista de Lula no encerramento da 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, Etiópia, quando foi questionado sobre a decisão de alguns países de suspenderem repasses financeiros à Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para Refugiados da Palestina (UNRWA).
“Como quando Hitler resolveu matar os judeus”
Argumentando que, se houve um “erro” na UNRWA, que os responsáveis sejam investigados, mas a ajuda humanitária não pode ser suspensa, acrescentou estar “imaginando qual é o tamanho da consciência política” e “do coração solidário dessa gente”, uma vez que “na Faixa de Gaza, não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio; não é uma guerra entre soldados e soldados”.
“É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças”, disse o petista, e reforçou: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o [Adolf] Hitler resolveu matar os judeus.”
Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou o que classificou como declarações “infundadas” de Lula, explicitando: “Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu.”
Para a entidade, a comparação feita por Lula seria uma “distorção perversa da realidade”, e o governo “vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira”.
Lula não faz segredo sobre posicionamento no Oriente Médio
A atual guerra entre Tel Aviv e o grupo extremista palestino, que controla parte de Gaza, foi desencadeada por um ataque do Hamas, em 7 de outubro, contra o sul de Israel, que causou mais de 1.160 mortes, a maioria civis, segundo dados oficiais israelenses, além de levar cerca de 200 reféns.
Em represália, o governo de Benjamin Netnyahu lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já resultou em 28.775 mortos, também na grande maioria civis, consta do balanço divulgado pelo Ministério da Saúde do Hamas na sexta-feira.
Desde o início, Lula não tem feito segredo de que, neste conflito, seu posicionamento é crítico aos israelenses. Em 25 de outubro, em evento em Brasília, já comparara a um “genocídio” a ação dos militares no território israelense. Em 13 de novembro, referiu-se a “vários atos de terrorismo”. Em janeiro, o Brasil apoiou a petição da África do Sul junto à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, declarando o procedimento de Israel contra os palestinos como genocídio.