Após anos de afastamento do PT, do qual foi um dos fundadores, o professor universitário Bruno Daniel (PSOL), 71, reaproximou-se de vez do partido e será vice de Bete Siraque, pré-candidata da sigla à Prefeitura de Santo André.
Bruno é irmão de Celso Daniel, prefeito da cidade durante três mandatos, o último deles interrompido após ser sequestrado e morto, em janeiro de 2002.
Como ele sempre defendeu conforme a coluna Painel, da Folha, que o irmão foi alvo de um crime político, versão também apresentada pelo Ministério Público, entrou em choque com lideranças do PT. Deixou o partido em 2012.
Bruno disse, em 2003, que o partido criava obstáculos à investigação. Em 2016, afirmou que o PT, com “pouquíssimas exceções”, fez “tudo o que era possível e imaginável para reforçar a tese da polícia, segundo a qual seria um crime comum”.
Questionado sobre o que responderá quando perguntado a respeito de sua reaproximação ao PT, ele diz ao Painel que a receptividade das pessoas já tem sido positiva, que nunca atribuiu nada ao partido e que sua briga sempre foi para descobrir quem participou do assassinato.
“O PT é uma instituição, constituída por um monte de pessoas. Se a gente imaginar que um católico comete um assassinato, a gente vai falar ‘olha só, a Igreja Católica tem assassino’? São coisas que não têm cabimento”, afirma. Ele diz que tem amigos de longa data na legenda e que reconhece o trabalho delas sob o comando de seu irmão para mudar as vidas das pessoas.
Em 2020, Bruno lançou candidatura própria à prefeitura da cidade e concorreu contra o PT. Ficou em terceiro lugar, com 7,2% dos votos.
Desta vez, ele diz que houve uma união dos progressistas para combater o autoritarismo e chegar ao segundo turno em Santo André, atualmente comandada por Paulo Serra (PSDB).
Bruno afirma que deseja resgatar as experiências inovadores das gestões de seu irmão, incorporando o que existe de novo. Um dos exemplos é a escuta da população, que na época da Celso foi feita por meio do orçamento participativo e que hoje poderá contar também com o auxílio de aplicativos.
“A gente fala na pré-campanha de ‘escutar e construir’. A gente vai conversar com as pessoas nas ruas, nas casas, com organismos da sociedade civil. A gente escuta e processa demandas e incorpora aquilo que a gente considera importante, coisas que a gente não percebe”, explica.
Ele também diz que o programa de governo da chapa deve dar atenção especial à mobilidade ativa e à integração de todos os modais para que os moradores possam circular. Nesse ponto, a consulta às pessoas também deve ter papel importante, para saber quais as principais rotas e dificuldades enfrentadas.
Essa escuta, segundo Bruno, pode ser uma chave para se reaproximar da população, que na década passada expressou repulsa em relação aos políticos em manifestações pelo mundo todo.
“É só com essa escuta e fazendo coisas que efetivamente mudem a vida das pessoas que a gente vai voltar a aproximar o sistema político dos cidadãos”, avalia.