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domingo 13 de outubro de 2019 às 07:40h

Irmã Dulce: como uma menina de família rica se torna Santa

CURIOSIDADES


Os doentes agonizavam. Em reportagem publicada no jornal Correio, contou com detalhes. A publicação diz que o almoxarifado estava quase vazio. Só havia o suficiente para o jantar dos cerca de 400 doentes que estavam internados até mesmo no necrotério do Albergue Santo Antônio naquela manhã de março de 1961. As crianças corriam pelos corredores no hospital que, de forma improvisada, funcionava também como abrigo para elas que haviam sido abandonadas nas ruas.

Santa Irmã Dulce com 2 anos

Tinha ameaça de corte do fornecimento de energia elétrica e água. O desespero dos trabalhadores e voluntários era enorme. Em meio ao caos, o corpo franzino de Irmã Dulce se ajoelha diante da imagem de Santo Antônio. Abre a gaveta, coloca o santo dentro e diz: “o senhor só sai daí, quando me ajudar a resolver a situação dos meus doentes”.

Segue em oração com lágrimas nos olhos. Antes mesmo que o terço acabasse, é chamada na porta por um famoso e anônimo doador. O cheque estava assinado no exato valor da necessidade. Santo Antônio saiu da gaveta para onde voltava sempre que Dulce precisava de sua ajuda – já que era nomeado por ela tesoureiro das suas Obras Sociais – para construir seu império do bem. Foram suas obras que a alçaram ao Vaticano, onde hoje, foi reconhecia como santa da Igreja Católica.

Oficialmente, as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) foram criadas em 1959. Mas desde os 7 anos, a menina de família rica – nascida sob o signo de gêmeos, na Rua São José de Baixo, 36, no Barbalho, na freguesia de Santo Antônio Além do Carmo – começou seu caminho na caridade.

A casa, habitada há 20 anos pela família da cearense Cícera Clementino, ficava ao lado da igreja de São José de Ribamar. Inclusive, havia uma passagem da casa de Irmã Dulce para a igreja. “Me sinto abençoada por morar aqui. Eu não sabia que tinha sido a casa de Dulce, mas me sinto honrada”, conta a moradora. No imóvel, apenas a fachada é original da época. No local, a pequena Maria Rita ajudava, com a parceria da sua tia Madalena, a alimentar pobres e doentes na região.

Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia da Ufba, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, aprendeu a admirar o futebol (era torcedora do Esporte Clube Ypiranga) nas idas dominicais ao campo da Graça.

Afrontou e se aproximou de poderosos. Em nome dos seus pobres, intimidou políticos com sua voz firme, mas que falhava em função dos problemas de saúde que acometiam desde os anos 1940 o corpo de 1,47m e pouco mais de 45kg.

Não foi unanimidade. Incomodou a própria Igreja Católica – desde os anos 1930 quando fundou o Centro Operário da Bahia (COB), com a ajuda de operários e o frei alemão Hildebrando – para criar as bases da maior rede de assistência gratuita do Brasil.

Suas obras começaram quando ela invadiu um galinheiro do convento, em 1949, e hoje atende 3,5 milhões de pessoas por ano gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde. Foi, por dez anos, abandonada pelas irmãs da sua congregação religiosa que temiam o endividamento provocado por Dulce para erguer sua obra.

Na sua missão atuou como porteira, técnica de raio X, professora, cuidadora de idosos… Fez de tudo para aplacar a dor de seus doentes. Nos momentos em que precisava ser ouvida, já quando a saúde não permitia, pegava um pequeno apito amarelo para pedir silêncio. “Isso acontecia muito quando tinham muitas crianças do Centro Educacional Santo Antônio apertando a mente dela. Ela era uma santa, mas também era muito rígida quando precisava” , recorda Valquíria Cardoso, técnica em enfermagem que cuidou de Dulce até o dia da sua morte. Pelas mãos de Valquíria tomava colheradas de Coca-cola e comia quiabada.

Por onde passou e seus olhos tocaram, Dulce inspirou pessoas na caridade. Foi o que fez, por exemplo, com a hoje freira irmã Josefa Andrade do Nascimento. “Eu decidi ser feira graças a ela. Eu assisti o programa Caso Verdade da TV Globo [1982] que passou a semana contando a história dela. Vi que ali era um exemplo a ser seguido. Depois assisti uma palestra dela no convento e tive, naquele momento, a certeza que eu queria ser freira como ela”, conta a religiosa que atualmente vive em um convento em Itabaiana, em Sergipe.

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