A ação de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro contra as sedes dos Poderes em Brasília neste domingo, causando destruição de patrimônios históricos, são o ponto mais alto até aqui de atos antidemocráticos que começaram logo após as eleições de outubro. Entenda o passo a passo que levou o país a esta situação:
Como começou?
Na semana após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, apoiadores do então presidente fecharam estradas e passaram a se reunir em frente a unidades militares pedindo a intervenção das Forças Armadas para impedir que Luiz Inácio Lula da Silva tomasse posse. O discurso golpista envolvia o não reconhecimento do resultado das urnas, que foram seguidamente questionadas por Bolsonaro ao longo do mandato, sem nunca ter apresentado qualquer prova de irregularidade.
Apesar de algumas ações isoladas de forças de segurança, que liberaram as estradas, os atos antidemocráticos perduraram ao longo da transição, com a conivência das Forças Armadas, responsáveis pelas áreas nos arredores de unidades militares.
FOTOS: Bolsonaristas radicais invadem a Praça dos Três Poderes e deixam cenário de destruição
Ainda durante a transição, o escolhido por Lula para assumir o Ministério da Justiça, Flávio Dino, prometeu desmobilizar os acampamentos golpistas logo na primeira semana de governo. A questão se tornou um ponto de divergência no novo governo. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, defendia que a retirada dos manifestantes fosse feita de forma negociada, para evitar reações que pudessem resultar em violência. Após tomar posse, na segunda-feira, Múcio revelou ter parentes entre os acampados e qualificou os atos como “demonstração da democracia”.
O que aconteceu?
Após uma aparente desmobilização na semana passada, com a posse de Lula e a viagem de Bolsonaro para os Estados Unidos, grupos de bolsonaristas passaram a convocar manifestantes a se dirigir a Brasília para retomar os protestos no fim de semana. Mais de cem ônibus foram fretados, em diversas cidades do país, para levar os interessados a participar dos atos na capital federal.
A mobilização ligou o alerta em Dino, que convocou reunião com a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Na véspera, ele também autorizou a Força Nacional a agir para conter os manifestantes.
O reforço na segurança, porém, não foi suficiente. Manifestantes furaram com facilidade bloqueios montados pela Polícia Militar do Distrito Federal, que foi acusada por Lula de ser leniente com os bolsonaristas.
O que vai acontecer agora?
Em meio a invasão, Lula decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, assumindo o controle da Polícia Militar do DF até o dia 31 de janeiro. Segundo Dino, cerca de 200 pessoas foram presas em flagrante durante os atos de vandalismo e podem responder por atentado contra o Estado Democrático de Direito.
Hora a hora dos atos deste domingo:
Sábado (7/1)
10h18 – Dino se reúne com PF e PRF
Diante da convocação de bolsonaristas para se dirigirem a Brasília, o ministro da Justiça, Flávio Dino, anuncia ter discutido com a PF e o PRF medidas para contar manifestantes.
19h08 – Força Nacional convocada
Dino assina portaria para convocar a Força Nacional para reforçar a segurança da Praça dos Três Poderes “em face de ameaças veiculadas contra a democracia”.
Domingo (8/1)
10h30 – Faixa em fente ao Congresso
Um pequeno grupo de manifestantes se reúne em frente ao Congresso com mensagens em português e inglês contestando as urnas eletrônicas. Policiais observam, sem intervir.
13h – Deslocamento de bolsonaristas
Manifestantes reunidos em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, começam a se deslocar em direção à Praça dos Três Poderes. O percurso tem cerca de 8km. A PM escolta o grupo, que interdita pistas do Eixo Monumental.
14h50 – Congresso invadido
Grupo fura bloqueio montado pela PM-DF e começa a invasão ao subir a rampa do Congresso e ter acesso ao teto do prédio projetado por oscar Niemayer. Parte dos manifestantes também conseguem entrar no edifício e acessar o Salão Verde.
15h10 – Planalto invadido
Parte dos terroristas se dividem e rumam em direção ao Planalto. Com pouca reação dos PMs, o grupo também consegue acessar a sede do Executivo pela entrada do térreo e sobem a rampa.
15h20 – PM atacada
Um carro da PM que fazia a segurança do Planalto deixa o local correndo, debaixo de pedras atacadas pelos terroristas. Grupo de vândalos se aglomera na região do Planalto e destrói patrimônios históricos
15h40 – Supremo invadido
Manifestantes golpistas que apoiam ex-presidente Bolsonaro atacam policial que vinha montado a cavalo — Foto: Sergio Lima/AFP
Após uma resistência inicial dos policiais, que usaram spray de pimenta para conter o avanço dos manifesntantes, os terroristas também conseguem acessar o prédio do Supremo Tribunal Federal. Eles invadem o plenário, destruindo mesas, cadeiras e tudo mais que encontram pela frente.
17h55 – Lula decreta intervenção no DF
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal e acusa PMs de serem lenientes
18h – Prisões
PM detém mais de cem pessoas e coloca em ônibus para serem levados para a delegacia. Eles são algemados.
Polícia prende invasores dos prédios do Congresso, Planalto e STF — Foto: Aguirre Talento / O Globo
18h20 – Planalto e STF retomados
A Polícia do DF retoma os prédios do STF e o Palácio do Planalto mas, por volta de 18h20, ainda não havia conseguido esvaziar o Congresso. No Supremo, foi utilzado tiros de balas de borracha e bombas. Muitos dos terroristas que invadiram e depredaram as sedes dos Poderes usavam roupas parecidas com de militares.
18h30 – Força total para desocupar Congresso
Forças policiais usam cavalaria, jatos d’água a bombas de efeito moral para desocupar congresso. Helicópteros atiram bombas de gás e bala de borracha para dispersar grupo que se concentrava em cima do prédio e nos arredores
19h – Choque isola a área
Tropas de choque da PM fazem bloqueio para isolar os prédios dos três Poderes e evitar que manifestantes dispersados voltem ao local. Grupos começam a retornar em direção ao acampamento no QG do Exército