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domingo 27 de novembro de 2022 às 08:41h

Interesses divergentes de aliados-chave emperram definição do Ministério de Lula

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Na reta final da campanha, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que, caso fosse eleito presidente, começaria a discutir os ministérios pouco tempo depois do resultado das urnas, “às 20h do domingo”. Quase um mês depois de conquistar o terceiro mandato, o petista ainda não anunciou um integrante sequer da equipe que estará ao seu lado. Pessoas próximas ao futuro mandatário dizem que os ocupantes das principais pastas “estão apenas na cabeça” do petista, que se vê diante de um xadrez para acomodar as expectativas de aliados mais próximos. Figuras como a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e os ex-ministros Fernando Haddad, Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha e Jaques Wagner almejam sentar em cadeiras de destaque na Esplanada. A escolha por movimentar uma ou outra peça nesse tabuleiro pode frustrar os planos políticos de correligionários. As informações são de Jeniffer Gularte e Bruno Góes, do jornal O Globo.

Gleisi, por exemplo, uma das principais responsáveis por atrair partidos para a campanha petista, já deu sinais de que não pretende ocupar cargos de articulação política nem voltar ao Planalto, onde chefiou a Casa Civil no governo de Dilma Rousseff. A parlamentar já indicou para pessoas próximas que deseja um ministério de destaque mais voltado à área social. Com isso, ao executar políticas públicas, ela teria maior visibilidade.

A pretensão de Gleisi, porém, colide com a da senadora Simone Tebet (MDB-MS). É creditado a ela a atração de parte do eleitorado de centro, fiel da balança, na reta final da campanha, para a vitória de Lula. A parlamentar, que também disputou a Presidência da República, declarou apoio ao então candidato petista depois de terminar o primeiro turno em terceiro lugar. Agora, ela gostaria de ser recompensada com o comando do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo novo Bolsa Família, principal programa social do futuro governo. Esse plano desagrada integrantes da cúpula petista, que acham que Tebet poderia conquistar maior destaque e capital político para disputar novamente o Planalto, em 2026.

Outro impasse envolve o Ministério da Fazenda. Tanto representantes do setor privado quanto do universo político querem saber o quanto antes quem será o dono da chave dos cofres públicos. Essa definição poderá destravar as demais indicações para o primeiro escalão. Até o momento, assim como em 2018 antes de se tornar presidenciável, Haddad é o mais cotado para assumir o posto de chefe da equipe econômica. Na sexta-feira, o ex-ministro da Educação, com mestrado em economia e doutorado em filosofia, foi testado ao representar o presidente eleito numa reunião com banqueiros em São Paulo. Na tentativa de vencer resistências, disse que a reforma tributária será prioridade. O discurso, porém, frustrou a expectativa do mercado financeiro, resultando na queda do principal índice da bolsa de valores e na alta do dólar.

Se a pressão externa afundar o projeto de Haddad, ele poderá ser realocado para outro posto do primeiro escalão da Esplanada. Esse movimento deverá desencadear uma dança de cadeiras entre aliados do presidente eleito. Um dos candidatos que correm por fora para assumir a Fazenda é o deputado federal Alexandre Padilha (SP), que tem maior interlocução com o mercado e o Congresso. O parlamentar é médico infectologista e já chefiou o Ministério da Saúde, razão pela qual foi destacado na equipe de transição para ajudar no grupo de trabalho dessa área. Ele, no entanto, já disse que “treino é treino, e jogo é jogo”, num sinal de que pretende assumir outra missão. Padilha também é cotado para a Casa Civil ou para atuar em outra área da articulação política, papel que já desempenhou sob a gestão de Lula.

O retorno a um posto do passado não é o que Padilha e outros integrantes da cúpula do PT desejam, ainda mais diante da possibilidade de sucessão de Lula, que disse que não pretende disputar a reeleição. A fatura política que o presidente eleito precisa pagar com aliados também entra na equação dos ministérios. Um deles é Aloizio Mercadante, que recuperou protagonismo no PT ao coordenar o plano de governo. O ex-chefe da Casa Civil e da Educação é visto como alguém com pouca maleabilidade com o Congresso e, por isso, tende a ocupar um posto mais técnico ou mesmo ser designado para uma missão estratégica. Pesa a favor dele o fato de ser um homem de confiança do presidente eleito, que já foi foi aconselhado a considerar a possibilidade de entregar o Itamaraty nas mãos de Mercadante, que não mostra interesse pela cadeira. Uma das alternativas discutidas seria acomodar o fiel escudeiro do futuro mandatário na Infraestrutura ou Indústria e Comércio. Essa última pasta, porém, é desejada pelo PSB, legenda que compôs a chapa vitoriosa.

Outro correligionário que aguarda uma gratificação de Lula é o governador da Bahia, Rui Costa, que abriu mão de concorrer ao Senado para destravar o palanque do PT no estado e se empenhou para ajudar o presidente eleito a vencer Jair Bolsonaro (PL) em 415 dos 417 municípios baianos. Parte do núcleo duro do partido reconhece que, para contemplar uma região estratégica nas eleições, seria crucial nomear Costa, cotado para assumir os ministérios de Cidades ou Desenvolvimento Regional, também disputados por aliados do futuro titular do Palácio do Planalto.

O destino de Rui Costa, porém, gera outro impasse: encontrar um local para acomodar Jaques Wagner, amigo de Lula há 40 anos. Assim como outros integrantes do partido, o senador baiano não pretende voltar para a Defesa, pasta que ele ocupou no governo Dilma. Dependendo de como Lula escalar o seu time na Esplanada, o parlamentar poderá assumir a cadeira de chanceler, uma ideia que o agrada e é vista como uma espécie de premiação para quem for preterido na disputa por espaço no governo. Wagner integra atualmente a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional no Senado e tem boa interlocução com o ex-chefe da pasta Celso Amorim, principal conselheiro do presidente eleito na área internacional.

Indefinição e turbulência

Nos bastidores da composição ministerial, o senador e ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT-PE) trabalha para voltar à linha de frente. É um dos coordenadores do setor na transição, ao lado dos também ex-ministros Arthur Chioro, José Gomes Temporão e Alexandre Padilha. Costa lidera a bolsa de apostas, seguido por Chioro. O senador também espera a recompensa por ter deixado de concorrer ao governo do estado em favor de candidatura de Danilo Cabral (PSB), um recuo importante para manter a aliança entre as duas siglas no cenário nacional.

A indefinição dos nomes que vão dar expediente na Esplanada têm alimentado disputas veladas e gerado uma crise nos bastidores da transição. Na quinta-feira, Jaques Wagner reclamou publicamente da falta de um nome da Fazenda para ser o articulador político com o Congresso.

— O problema é que não tem nome na mesa, tem na cabeça do presidente — afirmou Wagner ao ser questionado sobre as negociações da PEC da Transição.

Pouco tempo depois, Gleisi disse que “não é falta de ministro” que está emperrando as negociações com o Congresso, mas sim de um articulador político no Senado. Na corrida pela vaga, Haddad vem contando com aliados no mercado financeiro para quebrar resistências — Padilha, por sua vez, corre por fora, mas conta com o apoio de setores que o enxergam como alguém mais aberto ao diálogo.

Apesar da apreensão para a escolha dos ocupantes das pastas, o ritmo adotado por Lula, porém, tem sido coerente com o histórico dos seus últimos governos. Em 2003, ele revelou os primeiros nomes em 10 de dezembro. Na ocasião, anunciou Antonio Palocci (Fazenda) e Marina Silva no Meio Ambiente, para onde ela poderá voltar em 2023.

Ao formar equipes no passado, Lula costumou se cercar de pessoas com quem trabalha há anos. Aliados do presidente eleito apostam que, desta vez, entre contemplar petistas de peso e conquistar a fidelidade das legendas capazes de lhe garantir apoio no Legislativo, o futuro mandatário vai priorizar a segunda opção.

— O presidente terá uma espinha dorsal do governo e ver quais partidos vão compor maioria no Congresso — resume o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto.

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