Entender a relação entre pessoas e robôs sob o prisma da colaboração e não mais da exclusão. Essa foi a proposta apresentada pela coordenadora da Coorporate University at Deloitte, Ana Virgínia Carnaúba, que apresentou a palestra ‘Pessoas ou Robôs?”, na quinta-feira (9) durante o Encontro Nacional de Tecnologia e Inovação dos Ministério Públicos e Tribunais de Contas (Enastic), que, este ano, está acontecendo em Salvador, na sede do Ministério Público estadual no CAB. A palestra teve como mediadores o CEO do Judiciário Exponencial (J.Ex), Ademir Picoli, e o superintendente de Gestão Administrativa do MP, Frederico Soares. “Hoje, trabalhamos com problemas de forma colaborativa, onde as ações humanas não são apenas mediadas, como também potencializada pelo uso das tecnologias”, afirmou Ana.
A pesquisadora projeta uma automação ainda maior para o futuro. “A evolução do trabalho é algo que quase escapa do nosso controle, se impondo de forma orgânica”, afirmou ela exemplificando com as relações híbridas de trabalho. “Estou apresentando essa palestra de São Paulo, assistida presencialmente na Bahia e remotamente em diversas outras partes do país. Fazemos isso naturalmente, sem nos dar conta da simbiose do processo”. O superintendente do MP, Frederico Soares, destacou a importância da intervenção humana para o papel de tecnologia. “A tecnologia é um instrumento que não é bom e nem é mau. A forma como ela é usada pelas pessoas é decisiva para sua própria definição e consolidação”, afirmou o superintendente.
Outro tema abordado pela palestrante foi a ferramenta de inteligência artificial Chat GPT. “Uma das grandes questões que nos colocamos, ao ver a ferramenta produzir, de forma autônoma, trabalhos universitários, peças jurídicas e até livros é ‘até onde ela pode chegar’?”. Para tratar da suposição de que o Chat GPT viria a “eventualmente substituir as pessoas”, a pesquisadora recorreu ao raciocínio de que o processo é colaborativo e não excludente. “A ferramenta apresenta possibilidades, mas elas precisam ser validadas por humanos qualificados”, concluiu. Para o advogado e ativista de tecnologia Ademir Picoli, a ferramenta “vem finalmente entregar o que se prometia há quase dez anos pela inteligência artificial”.
A possibilidade de usar o Chat GPT pelas instituições do Judiciário foi o foco da apresentação de diretor do Departamento de Tecnologia da Informação do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), Fábio Correa Xavier. “O Chat GPT processa 175 bilhões de parâmetros, acessando virtualmente todos os dados disponíveis na internet de forma aberta, e ainda aprende quando interage com seus usuários. Ainda assim, ele não pode funcionar de forma autônoma”, afirmou Fábio. Ele explicou que, o próprio Chat GPT, ao ser questionado por ele sobre essa possibilidade, apontou o processo como algo que exigiria a “intervenção de especialistas para filtrar, refinar e ajustar” as respostas apresentadas pela ferramenta de inteligência artificial.
Fábio afirmou que as ferramentas fundamentais para que uma instituição utilize o Chat GPT para auxiliar nas suas atividades finalísticas são “disponibilidade de tempo; profissionais qualificados, tanto na área de tecnologia, quanto na área jurídica que se pretenda abordar; bem como recursos para pagar o uso da versão corporativa da ferramenta”. No seu dia de encerramento, o Enastic contou ainda com adebates sobre Data Analytics, Liferay DXP, e o uso dessas ferramentas em Ministérios Públicos e Tribunais de Contas brasileiros.