A baixa adesão de pessoas de 15 a 17 anos às eleições de 2022 foi revertida pela campanha do Tribunal Superior Eleitoral para incentivar o voto nesta faixa etária, iniciativa que contou com a participação de celebridades e influenciadores digitais, como Anitta e Juliette, além de uma intensa mobilização nas redes sociais. Os dados que foram divulgados pelo TSE refletem as conclusões de um estudo produzido pela organização global Luminate em parceria com as pesquisadoras Esther Solano e Camila Rocha: Os jovens brasileiros começam a ganhar consciência política ao verem comentários nas redes de influenciadores de quem gostam e com os quais concordam.
O estudo “Juventudes e Democracia na América Latina” mostra que a politização acaba ocorrendo muitas vezes em função da reação aos comentários alheios nas interações com influenciadores. Além disso, a juventude também recorre aos influencers de diversos perfis ideológicos para checar e contrastar informações, “googlear”, perguntar à sua rede de confiança. Por outro lado, o ambiente virtual também é visto com maior potencial de propagação de Fake News, e a imprensa tradicional, embora criticada, é usada como referência para checar a veracidade de notícias vistas online.
A pesquisadora Camila Rocha relatou as experiências obtidas no estudo e comentou a ação dos influenciadores: “Durante a pesquisa foi possível perceber a importância de influenciadores, das redes sociais e de demais espaços de interação online na formação política dos jovens latino-americanos. Os influenciadores, ao se comunicarem de forma muito mais simples, direta e divertida, conseguem engajar seus públicos no apoio a determinadas causas”.
O relatório também destaca que os partidos estão no centro do desencanto das pessoas jovens com a política no país e que a polarização, por sua vez, as tem afastado do processo eleitoral e diminuindo suas perspectivas de um futuro melhor para o Brasil. A juventude brasileira acredita na democracia e no voto, mas desconfia das instituições, e as redes sociais ocupam um lugar central na relação desta faixa etária com informações e fatos políticos.
Segundo Rafael Georges, representante da Luminate no Brasil, os jovens no Brasil estão cada vez mais desiludidos com as instituições. “As pessoas jovens no Brasil são engajadas, politizadas e acreditam no poder do voto, mas estão desanimadas com seus efeitos em termos de produção de política pública. Elas não acreditam na máquina política e por quem ela é operada.”
Já a proximidade com a realidade das comunidades em que as pessoas estão inseridas parece ser um fator relevante de interesse. Há uma maior propensão ao engajamento online com causas, como meio ambiente, feminismo, direitos da população LGBTQ e desigualdades. As desigualdades sociais, inclusive, foram apontadas como impeditivas à consolidação de uma democracia saudável no Brasil.
“O jovem defende a democracia, as instituições e o voto, mas, de forma geral, o faz de uma forma desapaixonada. Ele está totalmente desconectado dos partidos, que considera corruptos e elitizados e se sente invisível para eles. É um jovem que se politiza online muito mais do que off-line”, destaca a pesquisadora Esther Solano.
Embora reconhecida como importante, a democracia tem sentidos diversos para a juventude brasileira. Algumas pessoas entrevistadas relataram que um governo autoritário pode ser necessário para fortalecer a democracia, enquanto outas acreditam que este fortalecimento se dará com maior participação popular e aumento de representatividade de setores sociais no Congresso.
Sobre a pesquisa
Produzido ao longo de 2021 em quatro países da América Latina — Brasil, Colômbia, México e Argentina – e divulgado em 27 de janeiro deste ano, o estudo “Juventudes e Democracia na América Latina” permite identificar semelhanças e diferenças da relação da juventude brasileira com a democracia em outros locais, como a Colômbia, que terá eleições presidenciais no final de maio. A pesquisa foi baseada em uma série de grupos focais com mulheres e homens jovens de 16 a 24 anos e de todas as tendências políticas, com o objetivo de construir um retrato representativo da juventude ‘média’ latino-americana.
Sobre as pesquisadoras
Esther Solano (Coordenadora da pesquisa)
Possui Mestrado em Ciências Sociais – Universidad Complutense de Madrid (2009) e doutorado em Ciências Sociais – Universidad Complutense de Madrid (2011). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo no curso de Relações Internacionais, professora do Mestrado Interuniversitário Internacional de Estudos Contemporâneos de América Latina da Universidad Complutense de Madrid e no Mestrado América Latina e a União Europeia: uma cooperação estratégica, Instituto Universitario de Investigación em Estudios Latinoamericanos, Universidade de Alcalá de Henares. Tem experiência na área de Sociologia, com o tema principal de sociologia política. Conselheira do Instituto Vladimir Herzog. Colunista da Carta Capital.
Camila Rocha (coordenadora da pesquisa)
Doutora e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, com bacharelado em Ciências Sociais pela mesma universidade. Ganhadora dos prêmios de melhor tese de doutorado da Associação Brasileira de Ciência Política e Tese Destaque USP na área de Ciências Humanas. Tem experiência na área de sociologia política com especial interesse em temas relacionados a comportamento político e cultura política.
Rafael Georges (coordenador da pesquisa pela Luminate)
Mestre e Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília. Atua como representante da Luminate na América Latina desde 2019.
Sobre a Luminate
Luminate é uma organização filantrópica global focada em capacitar pessoas e instituições para trabalharem juntas para construir sociedades justas. Apoiamos organizações e empreendedores inovadores e corajosos em todo o mundo e defendemos as políticas e ações que irão gerar mudanças em quatro áreas de impacto: Capacitação Cívica, Direitos Digitais e de Dados, Transparência Financeira e Mídia Independente. Trabalhamos com nossos parceiros para garantir que todos tenham a oportunidade de participar e moldar as questões que afetam suas sociedades e para tornar aqueles em posições de poder mais responsivos e responsáveis. A Luminate foi criada em 2018 pelos filantropos Pierre e Pam Omidyar. A organização foi fundada pelo Grupo Omidyar.