O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central) dos Estados Unidos, Jerome Powell, reconheceu nesta quarta-feira (22) que a inflação “surpreendeu” as autoridades monetárias e advertiu para a possibilidade de “mais surpresas”.
Contudo, Powell também garantiu, em depoimento a uma comissão do Senado em Washington, que a economia americana está forte o suficiente “para enfrentar um aperto monetário” ou um ajuste para cima nas taxas de juros.
“Obviamente, a inflação surpreendeu […] no último ano, e mais surpresas podem acontecer”, disse. O aumento dos preços alcançou um pico em 40 anos nos Estados Unidos com elevação de 8,6% nos últimos 12 meses em maio, segundo o índice CPI de preços ao consumidor.
O titular do Fed lembrou que a entidade aumentou suas taxas de referência nas últimas três reuniões, um crescimento acumulado de 1,5 ponto percentual, e acrescentou que o comitê de política monetária “considera que as taxas continuarão subindo” a um ritmo que “dependerá dos dados econômicos”.
“Francamente, os eventos dos últimos meses no mundo tornam mais difícil para nós conseguir o que queremos fazer, [que é] alcançar uma inflação de 2%, conservando um mercado de trabalho sólido”, afirmou Powell.
“Saber se conseguiremos” controlar a inflação sem cair em recessão “dependerá, em certa medida, de fatores que não controlamos”, acrescentou.
Em sua última reunião em meados de junho, o comitê de política monetária elevou os juros em 0,75 ponto percentual, um aumento inédito em quase 28 anos.
“Nos esforçaremos para evitar aumentar as incertezas em um período que já é extraordinariamente difícil e incerto”, prometeu. Porém, “em um ambiente econômico que muda rapidamente, nossa política se adaptou e seguirá dessa maneira”.
Entre as causas da inflação, Powell citou “o aumento nos preços do petróleo como resultado da invasão da Ucrânia por parte da Rússia” e “os confinamentos pela covid-19 na China”.
Possibilidade de recessão
O presidente do Federal Reserve reconheceu que o rápido aumento nas taxas de juros poderia desencadear uma recessão. “Não é, absolutamente, o resultado desejado, mas certamente é uma possibilidade”, respondeu a um congressista.
Os especialistas em economia mencionam cada vez mais a chance de ocorrer uma recessão, pois o aumento dos juros condiciona o crédito.
A própria Casa Branca está preocupada com esse risco, mas, ao mesmo tempo, garante que as bases da economia se mantêm sólidas o suficiente para enfrentá-la.
“É, evidentemente, uma preocupação, mas a coluna vertebral de nossa economia continua sendo forte”, disse na terça-feira a conselheira econômica da presidência Cecilia Rouse.
Por sua vez, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, assegurou no domingo que não acreditava que uma recessão fosse “inevitável”, apesar de reconhecer a possibilidade de uma “desaceleração da economia” como parte de uma transição para um “crescimento lento e estável”.