Inelegível e impedido pela Justiça de falar com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o general da reserva Walter Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa, vem cumprindo uma agenda de viagens pelo país, com o objetivo de fortalecer o PL nas eleições municipais. Nas últimas semanas, ele esteve em eventos regionais da sigla em cidades de Minas Gerais e Rio, além de manter conversas com correligionários em Brasília.
O militar, que também foi candidato a vice na tentativa de reeleição de Bolsonaro, comanda a Secretaria Nacional de Relações Institucionais do PL — mesmo com o salário cortado pelo partido. Junto com Bolsonaro e o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, ele é um dos principais articuladores do PL com vista às disputas municipais deste ano.
Contudo, alvo de apuração por suspeita de participação de uma trama golpista que teria o objetivo de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Braga Netto está impedido legalmente de se comunicar com Valdemar e Bolsonaro, que também são investigados.
A interlocutores, o general disse que nunca chegou a ser informado sobre o motivo de ter seu salário do partido suspenso. Além das viagens, Braga Netto participa da estruturação ideológica e da organização da militância do PL, que cresceu exponencialmente após a filiação de Bolsonaro.
Abuso de poder econômico
Além do veto ao contato com Valdemar e Bolsonaro, Braga Netto está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele foi condenado, junto com o ex-presidente, por abuso de poder político e econômico nas comemorações do Bicentenário da Independência, no Sete de Setembro de 2022.
O nome do ex-ministro passou a ser apontado como opção para disputar a prefeitura do Rio, mas, antes mesmo da inelegibilidade, a candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL) era vista como mais provável. O próprio general não havia batido o martelo sobre a iniciativa, mas a avaliação no entorno dele é que sua participação poderia usar o discurso de segurança pública e incomodar a tentativa de reeleição de Eduardo Paes (PSD).
A decisão da Justiça tem imposto embaraços e exigido criatividade do partido para evitar que os líderes do PL estejam no mesmo ambiente. No evento de filiação do senador Izalci Lucas, que é do Distrito Federal e trocou o PSDB pelo PL, Bolsonaro e Valdemar tiveram que alternar os horários em que estiveram no local.
Braga Netto, por sua vez, não participou do evento de filiação, mas esteve com Izalci um dia antes. Os dois, junto com o deputado Maurício do Vôlei (PL-RJ), receberam uma homenagem da Associação Brasileira de Educação Cívico Militar em Brasília.
Nascido em Minas e com carreira construída no Rio, o militar tem priorizado cidades desses estados na pré-campanha. No final de março, Braga Netto esteve em Governador Valadares (MG). O convite partiu do presidente do PL de Minas, deputado federal Domingos Sávio. Lá, eles participaram de um ato que filiou o Bonifácio Andrade Mourão, ex-prefeito da cidade e que saiu do PSDB para ir ao PL, e do lançamento da pré-candidatura do deputado estadual Coronel Sandro (PL) à prefeitura local.
“Tivemos muitas filiações importantes que mostram como o PL está crescendo e se fortalecendo cada vez mais”, postou o general nas redes.
Ida a Minas e Paraíba
Nos próximos dias, o general irá a Barbacena (MG) e a cidades do interior de São Paulo para participar de encontros do PL. No Rio, ele não esteve no lançamento da pré-candidatura de Ramagem à prefeitura, já que Bolsonaro marcou presença, mas a previsão é que o ex-ministro atue em outras ocasiões a favor da postulação do deputado.
Em novembro passado, Braga Netto chegou a ir a João Pessoa (PB) para reforçar a pré-campanha do ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga como pré-candidato a prefeito pelo PL. Queiroga avaliou como natural a participação do general, mas ressaltou que o partido tem apostado mais nas presenças de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle:
— A Michelle já esteve aqui em um evento do PL Mulher, depois o Braga Netto veio com o Gilson Machado (ex-ministro do Turismo). O presidente Bolsonaro vem agora, e Michelle deve retornar em um segundo momento — explicou Marcelo Queiroga.