A produção da indústria do Brasil cresceu um pouco mais do que o esperado em março e interrompeu dois meses seguidos de quedas, mas ainda sem recuperar perdas recentes diante de um cenário de estagnação para o setor em meio aos juros elevados no país e desaceleração econômica global.
Em março, a indústria apresentou crescimento de 1,1% na produção em relação ao mês anterior, marcando a taxa mais elevada desde outubro (+1,3%) e depois de ter acumulado nos dois primeiros meses do ano recuo de 0,5%.
Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram ainda que, em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve avanço de 0,9% na produção.
Os resultados ficaram um pouco acima das expectativas em pesquisa da Reuters de altas de 0,8% na comparação mensal e de 0,4% na base anual.
Ainda assim, a indústria nacional está 1,3% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 17,9% abaixo do nível recorde da série, visto em maio de 2011.
“Há uma melhora de comportamento da produção industrial, especialmente considerando esse crescimento de magnitude mais elevada, mas ainda está longe de recuperar as perdas do passado recente”, explica o gerente da pesquisa, André Macedo.
Em meio aos impactos da política monetária contracionista no Brasil, com a taxa básica de juros em 13,75%, a indústria enfrenta ainda a desaceleração da atividade econômica global que afeta a demanda e esgotamento do impulso de normalização pós-pandemia.
Diante disso, analistas avaliam que o setor deve manter uma trajetória de arrefecimento gradual ao longo de 2023, muitas vezes andando de lado.
“Ainda permanecem no nosso escopo de análise as questões conjunturais, como a taxa de juros em patamares mais elevados, que dificultam o acesso ao crédito, a taxa alta de inadimplência e o maior nível de endividamento por parte das famílias, assim como o grande número de pessoas fora do mercado de trabalho e a alta informalidade”, completou Macedo.
No mês de março, 16 das 25 atividades pesquisadas apresentaram aumento de produção. As principais influências sobre o índice geral partiram dos setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,7%), máquinas e equipamentos (5,1%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (6,7%).
O maior peso negativo, por sua vez, foi exercido pelo segmento de confecção de artigos do vestuário e acessórios, com queda de 4,7% em março.
Entre as categorias econômicas, as maiores expansões foram apresentadas pelos setores de bens de capital (6,3%) e bens de consumo duráveis (2,5%). Os bens intermediários apresentaram alta de 0,9%.
A única queda entre as categorias veio de bens de consumo semi e não duráveis, de 0,5%, segundo mês seguido no vermelho.